Com estrutura enxuta, Seleta tem 21 convênios para manter 300 jovens
Desde sua criação em 1908, a Seleta Sociedade Caritativa e Humanitária se consolidou como uma das principais entidades filantrópicas, voltadas ao setor de formação de mão-de-obra e educação de jovens em Mato Grosso do Sul. Idealizada pelo escritor Mário Feitosa Rodrigues, que decidiu fundar a entidade após constatar a situação de miséria em que vivam as famílias que residiam na região do porto de Corumbá, a entidade cresceu ao longo das décadas e chegou a outras cidades do Estado, como Ladário, Porto Esperança, Terenos, Bonito, Glória de Dourados, Fátima do Sul, Naviraí e Campo Grande, onde foi criada em 1926. Também há unidades no Distrito Federal, Cáceres e Cuiabá, no Mato Grosso.
Hoje, a Seleta mantém 300 jovens inseridos no mercado de trabalho da Capital. O grupo é pequeno, se comparado ao número de adolescentes vinculados ao Instituto Mirim que trabalham, por exemplo, nas repartições municipais. Só nos órgãos da prefeitura esse número é de 450, 150 a mais do que o total de jovens encaminhados pela Seleta em todos os órgãos conveniados à instituição.
Porém, apesar dos números pouco expressivos, o presidente da Seleta, Gilbraz Marques da Silva enfatiza que os gastos são grandes. Só com esses 300 alunos ele calcula um gasto mensal superior a R$ 200 mil reais. Cada aluno custa, em média para a entidade, R$ 1,2 mil. Desse total, R$ 880,00 são referentes ao salário e o restante são os encargos tributários. Para auxiliar no pagamento desses encargos, a Seleta cobra de seus conveniados uma taxa administrativa que caria de 5% a 15%, dependendo do número de jovens solicitados pelo empregador.
Dentro desses gastos não estão contabilizados o salários dos 148 funcionários, que somam pelo menos R$ 192 mil. Ao todo a Seleta conta com 21 convênios firmados entre órgãos públicos municipais e estaduais, incluindo os contratos mantidos na iniciativa privada, principalmente com bancos como a Caixa Econômica, HSBC e Banco do Brasil. O mais recente firmado foi com o Ministério Público do Trabalho. Já o governo do Estado mantém convênios com a entidade desde 1990.
Custos - Gilbraz não revela o total de repasses, apenas enfatiza que por lei, a entidade é obrigada a reinvestir 20% da receita em ações sociais, como cursos voltados para a área esportiva, além dos cursos preparatórios já ministrados.
Mesmo com os benefícios e renúncias fiscais estabelecidos pelo estatuto que rege as empresas sem fins lucrativos que compõem o Cadastro Nacional de Entidades de Utilidade Pública do Ministério da Justiça (CNEs), Gilbraz explica que a instituição tem outros gastos, como água e luz. O que auxilia nesse sentido é a isenção que a Seleta tem de impostos como IPTU, ICMS e os 27,5% referentes ao recolhimento de tributos do imposto de renda dos funcionários.
“Essa isenção nos ajuda muito porque não precisamos recolher tributos de salários que chegam a R$3 mil”, ressalta.
Outras fontes de renda que auxiliam nas despesas são o aluguel de R$ 4 mil de cada um dos salões de festas que a entidade possuí na região central da Capital, além das próprias salas de aula e laboratórios de informática que ficam ociosos à noite e acabam sendo alugados para sindicatos e entidades que não dispõem de espaço para, por exemplo, ministrar um curso de qualificação.
O presidente não confirma se as contas fecham no final do mês, nem se há sobra de caixa, se preocupa apenas em destacar que os 800 alunos que formam por ano compensam o trabalho e dificuldades da entidade. Além dos jovens aprendizes que passam cinco meses frequentando os cursos preparatórios para inserção no mercado de trabalho, a Seleta ainda conta com os alunos dos cursos profissionalizantes, destinados a pessoas maiores de 18 anos que desejam abrir o próprio negócio ou atuar no comércio. Entre esses cursos, os carros-chefes são o de cabeleireiro e manicure, que tem duração de dez meses. Somados aos aprendizes, o quadro totaliza 1,5 mil alunos.
O responsável pelos cursos da entidade, Paulo Ségio Pereira explica que a entidade também passou a investir em parcerias com comunidades carentes, como as regiões próximas de carvoarias, onde a vulnerabilidade dos jovens e crianças é grande. Através de parcerias, a Seleta envia à essas comunidades material e profissionais que ministram cursos de qualificação.
“Nosso objetivo é continuar investindo em obras sociais. Mesmo com a obrigatoriedade de reinvestimentos preconizada por lei, vale ressaltar que falar sobre valores de contratos não é o mais importante. O que vale ajudar esse jovem carente a ingressar no mercado, por isso é fundamental que os empregadores tenham essa visão, já que quanto mais contratos tivermos, mais jovens poderemos ajudar”, finaliza Paulo Sérgio.