Comerciante é presa ao dizer “na minha loja você não entra, seu preto”
Mulher foi levada para delegacia por suspeita de ofender trabalhador com termo racista
Dona de loja de embalagens, localizada na Avenida Cel. Antonino, foi presa em flagrante, na tarde desta terça-feira (15), suspeita de ofender entregador de mercadorias, no fim da manhã. Conforme boletim de ocorrência, ao homem, a mulher, de 50 anos, chegou a dizer que ele não entraria no estabelecimento, durante discussão.
“Na minha loja você não entra, seu preto”, teria dito a comerciante, conforme revelou a vítima à polícia.
Ainda segundo registro policial, a vítima, Joaquim Azevedo Dagnone, de 42 anos, contou ter se desentendido com a proprietária da loja e que, em determinado momento, os ânimos ficaram exaltados, chegando a mulher a chutar parte das mercadorias que estavam no chão, em frente ao comércio.
Mesmo depois do homem recolher o material com a intenção de levar ao interior da loja, o entregador foi impedido. “Quem manda aqui sou eu, você vai fazer o serviço do jeito que eu quiser e na minha loja você não entra, seu preto”, disse a comerciante ao trabalhador, conforme boletim de ocorrência.
A decisão também teria sido repassada a uma funcionária.
Fala da vítima – Ao Campo Grande News, Joaquim confirmou a versão apresentada em boletim de ocorrência e complementou dizendo que precisava entregar 18 volumes de mercadoria, no local. Porém, as caixas estavam estavam embaixo de outros produtos, no fundo do caminhão.
Com isso, alguns itens foram retirados do veículo e colocado na calçada, para que os volumes certos fossem retirados posteriormente.
“Ela já chegou chutando as caixas e falando para tirar da frente da loja. Tinha dois policiais militares perto, perguntaram o que estava acontecendo e ela falou ‘estou mandando esse preto tirar essa caixa da entrada, porque eu preciso faturar’”, contou a vítima.
Ainda segundo a vítima, os policiais tentaram controlar a situação, pedindo para que a mulher se acalmasse, mas ao voltar a ser ofendido, decidiu acionar novamente os militares.
“Perguntei para funcionária onde colocava as mercadorias. Ela foi falar com a dona. que disse 'se for aquele preto, eu quero que ele saia da minha loja’. Então procurei os policiais pedindo para registrar boletim de ocorrência”, contou.
Joaquim também lamentou o ocorrido. “Eu saí às 5h para trabalhar, levar o leite para dentro de casa, e sofro isso”, ressaltou ao destacar que, em 25 anos de empresa, esta foi a primeira vez que passou por essa situação.
O trabalhador esteve na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Centro, na tarde desta terça-feira, acompanhada da advogada Odete Cardoso, que também é vice-presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Sobre o caso, Odete reforçou a importância de denunciar situações de injúria e racismo. “Queria que as pessoas fizessem valer o direito. As denúncias acontecendo, o poder público cria medidas punitivas ainda mais pesadas. Não é só a questão do crime, também tem os abalos psicológicos. Não é só despejar palavras e achar que não é nada, é crime”, destacou.
O outro lado - A mulher também foi levada à delegacia, onde prestou depoimento. O advogado que faz a defesa da comerciante não quis comentar o ocorrido com à imprensa.
Já uma funcionária da loja, confirmou o ocorrido, apesar de dizer acreditar que a situação não tenha sido "injúria racial, exatamente". "Os dois estavam brigando por conta de uma carreta que era para entregar coisas e pararam mal posicionado, atrapalhava clientes da loja. Ela pediu para arrumar e os dois começaram a brigar", revelou.
Sobre o termo racista, a mulher disse não ter presenciado a comerciante afirmando nada. "Dela falando isso pra ele, na calçada, não. Dentro da loja, comigo, ela só falou que não queria o homem negro na loja"m afirmou.