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Capital

“Dia que nos foi tirado”: pais de menina morta aos 2 anos revivem dor da perda

Morte evitável da criança virou caso de violência emblemático

Cassia Modena | 13/08/2023 18:30
Pai biológico e padastro da menina em cemitério de Campo Grande (Foto: Reprodução/Instagram)
Pai biológico e padastro da menina em cemitério de Campo Grande (Foto: Reprodução/Instagram)

Jean Ocampos e Igor de Andrade, o pai e o padastro da menina de dois anos morta cruelmente em Campo Grande em 26 de janeiro deste ano, apesar de inúmeros sinais e avisos às autoridades, foram até o cemitério onde o corpo está enterrado para homenageá-la neste domingo (13) de Dia dos Pais.

A pequena havia sido espancada e estuprada por meses, até falecer em casa após mais um episódio de violência. O caso repercutiu na imprensa e chamou a atenção de instâncias nacionais de defesa aos direitos da criança e do adolescente. Ele segue reverberando na vida de Jean e Igor, que lamentaram a morte evitável em publicação no Instagram, numa data que deveria ser sinônimo de alegria.

"Hoje é um dia que dói. Dói porque nos faz lembrar do tanto que lutamos para poder sermos pais presentes, lutamos para poder ter você conosco sempre... Mas, preferiram dar ouvidos a um monstro que FINGIA te amar filha. Na frente de tudo e de todos botava uma máscara de 'coitadinha' e externava todo mal que habitava dentro do peito em você filha. Hoje até o céu está nublado e o dia cinza... porque Deus sabe da nossa dor sem você aqui. Dia dos pais né? Que foi nos TIRADO. Como encontrar sentido na vida quando o que mais amamos nos foi tirado? Perder um filho é perder tudo", escreveu Igor em stories compartilhado por Jean.

Texto compartilhado pelos dois pais (Foto: Reprodução/Instagram)
Texto compartilhado pelos dois pais (Foto: Reprodução/Instagram)

Em outro stories, Igor postou a foto em que aparece no cemitério de mãos dadas com Jean e escreveu: "Nem todo o tempo do mundo consegue curar um coração ferido pela dor de perder uma filha. Nosso 1º dia dos pais sem você".

Caso - No dia 26 de janeiro deste ano, a menina de dois anos e sete meses deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, em Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, Stephanie de Jesus da Silva, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica apontou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes de chegarem ao local.

O atestado de óbito apontou que a garota sofreu lesão na coluna cervical. Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que também já havia sofrido violência sexual. O padrasto Christian Campoçano Leitheim, que convivia com a mãe biológica da menina, responde pelo homicídio com três qualificadoras e pelo estupro.

A mãe da menina é acusada também pelo homicídio, como Christian, mesmo que não tenha agredido a filha. É que no entendimento do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), responsável pela acusação, ela se omitiu do dever de cuidar.

Stephanie de Jesus e Christian Leitheim estão presos desde 26 de janeiro (Foto: Reprodução/Redes sociais)
Stephanie de Jesus e Christian Leitheim estão presos desde 26 de janeiro (Foto: Reprodução/Redes sociais)

A morte jogou luz às tentativas em vão de evitar o pior, com idas frequentes à unidade de saúde – mais de 30 em 2 anos – e pedido de guarda do pai biológico após suspeita de que a criança era vítima de agressão. Provocou, ainda, série de audiências públicas, protestos e mobilização para criação da Casa da Criança, bem como soluções ao falho sistema de proteção à criança e ao adolescente em todo o Brasil.

(*) O nome da criança foi omitido para preservar sua identidade, como prevê o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

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