Em 1 semana, 2 manchetes são o antes e depois na vida da mãe de taxista morto
No domingo passado, costureira foi personagem de reportagem do Campo Grande News e volta hoje, mas como vítima da violência
No domingo passado, dona Izis era personagem feliz em reportagem publicada pelo Campo Grande News, falando sobre a produção de máscaras de pano, ao lado da filha Andreia. Na pandemia, as duas ajudam como podem, com capricho em cada peça confeccionada.
Passados 7 dias, neste domingo, a costureira Izis é mãe, agora com a voz cheia de dor. Pelas ironias de vida e de morte, com poder de transformar muito em um intervalo tão pequeno de tempo, ela volta a ser manchete do Campo Grande News, mas pela tragédia de um filho assassinado aos 44 anos.
Luciano nasceu depois de Andreia, antes do caçula Lucas, e continuava companheiro de dona Izis, dividindo a mesma casa. Por isso, o filho do meio conseguiu se despedir ontem à noite, antes de assumir outra corrida como motorista de aplicativo.
Taxista como o pai, ele também transportava passageiros pelo aplicativo 99 Pop, como forma de aumentar a renda e pagar as prestações do carro, comprado havia 6 meses. “Era um sonho dele esse carro. Luciano é muito trabalhador”, diz a mãe, como quem ainda não distingue o que é e o que já passou.
Na noite de sábado, por volta de 23h30, Luciano saiu da casa no bairro Santa Fé para pegar alguém no Shopping Campo Grande e levar até o Jardim Carioca, 11 horas depois, foi encontrado morto, assassinado com tiro na cabeça.
O medo do pior tomou conta da mãe muito antes, pouco tempo depois do filho sair de casa. “Em meia hora desligou tudo no carro: GPS, aplicativo. Aí comecei a ficar nervosa”, lembra.
Confortada por parentes e amigos que foram até a casa da família neste domingo, logo depois da notícia do assassinato se espalhar, a costureira parece exausta depois de tanto desespero. “Não durmo desde ontem. Quando ele sumiu, todo mundo logo começou a procurar e não paramos até hoje”.
Separada do pai de Luciano, ela diz que criou os filhos costurando, sempre atenta ao que cada um precisava e fazia. “Eu não gostava que ele trabalhasse de noite e era raro ele fazer isso. Mas ele precisava trabalhar”, diz.
Sobre o que virá depois da surpresa da tragédia, a mãe não parece ter condições de imaginar. “O que eu estou sentindo é tão terrível que nunca imaginei que um dia ia sentir. Tá doendo tanto, que eu nem consigo pensar em quem fez isso, só consigo pensar no meu filho. Não sei o que vou fazer sem ele”, comenta.