Em plenário vazio, viúva acompanha sozinha júri de acusada de homicídio

No plenário com 161 assentos, que já esteve lotado em julgamentos polêmicos e de repercussão nacional, hoje (27) é o local de alento para uma única pessoa: Vitória Garcia, 23 anos, viúva de Blayon Lucas Sampaio da Costa, assassinado em abril do ano passado. Ela acompanha, sozinha e desolada, o júri popular de Hannah Wende Sousa Silva, acusada de homicídio.

Bastante abalada e em busca de justiça, Vitória se emocionou ao falar do marido, com quem foi casada por sete anos. “Eu sou a única que está aqui, mas não vou desistir. Tudo que eu mais quero é justiça, já que não posso ter ele de volta”, disse.

Sobre como está a vida após quase um ano da partida precoce de Blayon, Vitória revelou que precisou recomeçar para conseguir cuidar dos dois filhos, de 2 e 6 anos, que tem com a vítima. “É muita dor. Nem sei como estou aqui; ele deixou dois filhos para eu criar. Agora somos eu e as crianças, e precisei arrumar um emprego”, contou.

Vitória ainda revelou não ter presenciado o crime. “A festa era da minha família, de uma criança de 5 anos. Eu não vi a briga; estava passando mal, mas só vi na hora em que meu marido gritou socorro”, recordou.

Blayon Lucas morreu após ser esfaqueado no peito durante uma festa de família, na madrugada do dia 28 de abril de 2024. O crime ocorreu no Conjunto Residencial Estrela do Sul, em Campo Grande.

Acusada pelo crime, Hannah Wende foi presa em flagrante minutos após o ocorrido e a faca utilizada no homicídio foi apreendida pela polícia. Conforme boletim de ocorrência, testemunhas relataram que a autora do crime, conhecida de um dos familiares, chegou à festa e passou a beber. Em determinado momento, a suspeita ficou com ciúmes de uma mulher e passou a agredi-la. A vítima contou sobre as agressões à sua irmã, que foi tirar satisfação e acabou agredida também.

Ainda de acordo com registro policial, Blayon tentou separar a briga entre as mulheres, foi quando a autora se armou com uma faca e desferiu um golpe no rapaz. A vítima foi socorrida por terceiros à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino, onde morreu.

Na briga, a autora sofreu ferimentos no rosto, recebeu os primeiros atendimentos do Corpo de Bombeiros e na sequência foi encaminhada à delegacia.

Legítima defesa – Hannah alegou em depoimento que matou Blayon para se defender da vítima. À polícia, a ré contou que foi até a festa com um homem identificado apenas como Corumbá e, ao chegar ao local, passou a ser agredida pela família dele. Ela afirma que se distanciou da casa e Blayon tentou atingi-la com uma faca, momento que ela tirou o objeto da mão do rapaz e lhe deu um golpe.

No depoimento, a mulher alegou que agiu em legítima defesa e mostrou uma lesão no antebraço e outras na cabeça. A cunhada da vítima também prestou depoimento. Em sua versão, Aline Garcia Peres, 34 anos, disse que Hannah chegou à festa com seu irmão e no momento em que conversavam, a mulher se alterou e, em tom de brincadeira, ela teria dito “você não é esposa e nem namorada do meu irmão, apenas ficante”, relatou.

Neste momento, Hannah teria fica irritada e foi para cima da mulher. Outros familiares tentaram separar as duas e então a acusada tirou da cintura a faca e tentou atingir Aline. Blayon tentou afastar a agressora e acabou esfaqueado.

Ao ser ouvida no plenário do Tribunal do Júri, na manhã desta quinta-feira (27), Hannah manteve a versão de que matou Blayon para se defender. “Se eu não tivesse metido nele, ele me matava. Tinha homem, mulher, um monte de gente por cima de mim, eu só pensei na minha vida, peguei a faca dele e meti nele”, contou.

Não foram arroladas testemunhas para a sessão do julgamento.

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