“Estudar e ter uma família” era esperança de garoto “doado” pela mãe
Mulher de 43 anos foi presa durante viagem com menino de 7 anos e responderá por tráfico de pessoas
O menino de 7 anos que foi resgatado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) em viagem ilegal para o Mato Grosso tinha esperança de ter uma vida melhor. Ouvido na DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), o garoto sabia que estava indo viver com alguém que não era da família, mas obviamente, não fazia ideia da ilegalidade da situação. “Ia estudar e ter uma família”, disse no depoimento.
O garotinho, mesmo com a pouca idade, também revelou que a mãe bebia com frequência e disse que ela não trabalhava. Ela, por sua vez, alega ser diarista, mas admite estar sem emprego fixo há bastante tempo.
Agora, a delegada Anne Karine Sanches Trevisan, que ficou responsável pelo caso, analisará todos os depoimentos e documentos para decidir se responsabilizará a mãe da criança, de 44 anos, criminalmente. Ela já adiante que as versões são confusas e contraditórias. A cuidadora de idosos, de 43 anos, que foi presa com o menino, vai responder por tráfico de pessoas.
A delegada disse ainda que vai verificar em que condições vivem os outros filhos da diarista. A mulher foi à DEPCA, na tarde desta segunda-feira (22), para prestar depoimento. Ela estava acompanhada da advogada, Aurea Rodrigues, que tenta tirar a mulher presa com a criança da cadeia.
Versão da mãe – À polícia, a mãe informou que entregou o filho para a cuidadora de idosos, que o levaria para viver com uma irmã, na cidade de Nova Esperança, no interior do Mato Grosso. Ela afirmou que não recebeu dinheiro para isso e alegou que a “adoção” seria temporária, até que melhorasse de vida.
Na porta da delegacia, em entrevista ao Campo Grande News, ela contou que criou os quatro filhos mais velhos – de 18, 20, 21 e 23 anos – aos trancos e barrancos, e depois, teve outros quatro – de 6, 7, 9 e 15 anos. A diarista, que mora no Bairro Dom Antônio Barbosa, extremo sul da Capital, afirma que nos últimos anos, cuidava apenas dos dois pequenos e que passando por muitos problemas financeiros, se viu sem saída, permitindo que o pai da caçula a levasse, quando ela tinha de 4 para 5 anos, para viver com um parente dele, em Rondonópolis (MT). Na época, foi a um cartório e lavrou uma procuração pública para que os familiares paternos tivessem poderes sobre a criança.
Agora em agosto, foi a vez do filho, de 7 anos. Da mesma maneira, a mãe e a cuidadora de idosos foram a um cartório na Capital para fazer procuração. O documento dá a dois adultos (a mulher presa e a irmã dela), que não tem vínculo biológico com a criança, “poderes para administrar a vida social” do menino e “representá-lo em repartições públicas, matriculá-lo em escolas e autorizar a prestação de assistência médica”.
“Eu não fiz isso por mal. Só queria que meus filhos tivessem uma condição melhor, coisa que eu não estava podendo dar no momento”, justificou a mãe.
O caso - A cuidadora de idosos, presa viajando ilegalmente com o menino, disse, em depoimento à polícia, que o garoto foi “dado pela mãe”. Ela alegou ainda acreditar que a procuração pública seria o suficiente para levar o menino e entrega-lo à irmã, que tinha a intenção de cuidar do garoto, mesmo sem passar por um processo legal de adoção.
O flagrante aconteceu, na quarta-feira (17), no km 493 da BR-163, na saída para Cuiabá, quando a mulher viajava com a criança em um ônibus interestadual. Ela foi presa em flagrante por tráfico de pessoas, com a finalidade de adoção ilegal. Na manhã de sexta-feira (19), em audiência de custódia, o juiz manteve a prisão da cuidadora, que foi levada para presídio na Capital.
O primeiro passo para quem quer adotar uma criança é procurar a Vara de Infância e Juventude e entrar com um pedido de adoção.