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Capital

Menino resgatado em viagem ilegal não é primeiro que mãe “doa” para outro criar

“Queria que tivessem uma condição melhor”, disse mãe de 8, que entregou filhos para conhecidos

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 22/08/2022 14:35
Mãe foi à Depca prestar depoimento na tarde desta segunda-feira. (Foto: Paulo Francis)
Mãe foi à Depca prestar depoimento na tarde desta segunda-feira. (Foto: Paulo Francis)

A história do menino de 7 anos que foi encontrado, pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), viajando com uma mulher de 43 anos é uma das muitas nos enredos das adoções ilegais, que ainda acontecem pelo País. Também não é a primeira dentro da própria família.

Antes do garotinho, a mãe, de 44 anos, já “entregou” uma filha para um parente do pai da menina criar. A criança, hoje com 6 anos, vive em Rondonópolis, no Mato Grosso, cidade a 2 horas de distância de onde o irmão 1 ano mais velho moraria, se não fosse a interrupção da viagem.

A mulher de 44 anos conta que criou os quatro filhos mais velhos – de 18, 20, 21 e 23 anos – aos trancos e barrancos, e depois, teve outros quatro – de 6, 7, 9 e 15 anos. A diarista, que mora no Bairro Dom Antônio Barbosa, extremo sul da Capital, afirma que nos últimos anos, cuidava apenas dos dois pequenos e que passando por muitos problemas financeiros, se viu sem saída, permitindo que o pai da caçula a levasse, quando ela tinha de 4 para 5 anos. Na época, foi a um cartório e lavrou uma procuração pública para que os familiares paternos tivessem poderes sobre a criança.

Neste ano, foi a vez do filho, de 7 anos. Uma conhecida, a mulher que acabou presa no dia 17, teria se oferecido para levá-lo a viver com uma irmã, na cidade de Nova Esperança, no interior do Mato Grosso. Da mesma maneira, as duas foram a um cartório na Capital para fazer procuração. O documento dá a dois adultos (a presa e a irmã dela), que não tem vínculo biológico com a criança, “poderes para administrar a vida social” do menino e “representá-lo em repartições públicas, matriculá-lo em escolas e autorizar a prestação de assistência médica”.

“Eu não fiz isso por mal. Só queria que meus filhos tivessem uma condição melhor, coisa que eu não estava podendo dar no momento”, justifica a mãe, dizendo que as “adoções” seriam temporárias, até que ela melhorasse de vida. Ela também nega que tenha recebido dinheiro para entregar os filhos.

Ela foi à DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) na tarde desta segunda-feira (22) para prestar depoimento, acompanhada da advogada Aurea Rodrigues, que representará a mulher presa na viagem com o filho e tentará revogar a prisão.

A diarista explicou ainda que pretendia se mudar para o Mato Grosso, porque havia conseguido um trabalho, mas ainda precisava de algum tempo para organizar a vida por aqui. Agora, pretende recuperar a guarda do garoto, que foi levado para abrigo e só deve voltar para a família por ordem judicial. “Estou sem condições de voltar pra minha casa. Estou tendo que ficar numa amiga de favor, porque as pessoas querem me bater”, conta.

A mãe narrou ainda que diante da repercussão do caso, o Conselho Tutelar de Rondonópolis também foi acionado para verificar a situação da menina, hoje com 6 anos, mas não sabe ainda o que vai acontecer.

Mulher e criança na noite em que foram levadas pela PRF para delegacia na Capital. (Foto: PRF/Divulgação)
Mulher e criança na noite em que foram levadas pela PRF para delegacia na Capital. (Foto: PRF/Divulgação)

O caso - A cuidadora de idosos, de 43 anos, presa viajando ilegalmente com o menino, disse, em depoimento à polícia, que o garoto foi “dado pela mãe”. Ela alegou ainda acreditar que a procuração pública seria o suficiente para levar o menino e entrega-lo à irmã, que tinha a intenção de cuidar do garoto, mesmo sem passar por um processo legal de adoção.

O flagrante aconteceu, na quarta-feira (17), no km 493 da BR-163, na saída para Cuiabá, quando a mulher viajava com a criança em um ônibus interestadual. Ela foi presa em flagrante por tráfico de pessoas, com a finalidade de adoção ilegal. Na manhã de sexta-feira (19), em audiência de custódia, o juiz manteve a prisão da cuidadora, que foi levada para presídio na Capital.

O primeiro passo para quem quer adotar uma criança é procurar a Vara de Infância e Juventude e entrar com um pedido de adoção.

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