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Capital

Mulher sofre estupro coletivo, passa a tarde na Deam e ainda sai sem exame

Por conta do horário, vítima não fez corpo de delito e foi orientada a retornar à Deam no dia seguinte

Por Ketlen Gomes, Clara Farias e Gabi Cenciarelli | 06/03/2025 19:14
Mulher sofre estupro coletivo, passa a tarde na Deam e ainda sai sem exame
Vítimas relatam atrasos e dificuldades no atendimento  (Foto: Juliano Almeida)

Após aguardar por horas para registrar um boletim de ocorrência na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), uma jovem de 23 anos saiu do local sem conseguir realizar o exame de corpo de delito, pois o serviço já havia sido encerrado devido ao horário. Ela chegou à delegacia às 11h58 e só conseguiu sair às 17h.

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Mulheres enfrentam dificuldades e atrasos no atendimento da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) em Campo Grande. Uma jovem de 23 anos, vítima de violência sexual coletiva, esperou horas para registrar boletim de ocorrência e não conseguiu realizar exame de corpo de delito. Outra mulher, de 42 anos, relatou demora para consultar processo de violência doméstica. Problemas no atendimento foram discutidos em reunião do Ministério das Mulheres, mas a unidade local não foi foco. A situação destaca desafios no suporte a vítimas de violência.

A vítima procurou a delegacia para denunciar a violência sexual coletiva que sofreu durante uma festa, na madrugada de domingo (2) para segunda-feira (3). Conforme seu relato, ela recebeu um cigarro e, após fumá-lo, não se lembra do que aconteceu depois.

Na segunda-feira, ao despertar, percebeu dores intensas e sangramento nas partes íntimas. Em estado de choque, tentou contra a própria vida ingerindo uma grande quantidade de medicamentos e precisou ser encaminhada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Somente nesta quinta-feira (6), sentindo-se emocionalmente apta, ela conseguiu ir à delegacia para registrar a ocorrência.

Apesar de ser atendida pelo serviço psicossocial, a vítima informou que o atendimento foi demorado. Além disso, por não ter conseguido fazer o exame de corpo de delito, foi orientada a retornar à Deam no dia seguinte. Ela ainda precisaria ir ao CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial), pois o protocolo da UPA encaminha pacientes que tentam contra a própria vida para o local. No entanto, a jovem não sabia a que horas conseguiria chegar em casa, pois depende de transporte público.

Em março do ano passado, a ministra da Mulher, Cida Gonçalves, esteve em Campo Grande para inaugurar a segunda unidade do Imol (Instituto de Medicina Legal) na CMB (Casa da Mulher Brasileira). Na ocasião, foi informado que o instituto atenderia as demandas da Deam no horário das 7h às 13h e das 19h às 1h, de segunda a sexta-feira.

Outro caso de atraso foi relatado ao Campo Grande News nesta quinta-feira, envolvendo uma dona de casa de 42 anos que foi à CMB para consultar um processo de violência doméstica. Ela relatou que chegou ao local às 14h e só conseguiu sair às 17h, mesmo com apenas três pessoas aguardando atendimento na Defensoria Pública.

Há três meses, o ex-companheiro da vítima a agrediu fisicamente, verbalmente e psicologicamente. Ela procurou a Deam, registrou o boletim de ocorrência e foi mandada de volta para casa. No dia seguinte, ela ligou para a delegacia para saber se o ex-companheiro estava preso, mas disseram que não podiam informar sobre o caso.

Com medo de que ele permanecesse em liberdade, a dona de casa decidiu mudar-se. Sabia que, caso ele ficasse solto, ele provavelmente a procuraria. O Campo Grande News entrou em contato com a assessoria da Prefeitura de Campo Grande, mas foi informado que o assunto deveria ser tratado pela Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública). A assessoria da Polícia Civil estava indisponível no momento da reportagem.

Na manhã desta quinta-feira, a reportagem também verificou que houve uma reunião geral com as gerências da Casa da Mulher Brasileira em todo o país. Durante o encontro, o Ministério das Mulheres discutiu melhorias no sistema e aprimoramento das ações. A secretária-executiva da Mulher, Angélica Fontanari, explicou que essa reunião é realizada regularmente por videoconferência com o governo federal. “Algumas casas são mais antigas, outras foram criadas recentemente, então as novas unidades compartilham suas experiências”, explicou Fontanari.

A unidade de Campo Grande, apesar dos questionamentos sobre o atendimento na Deam e o caso de feminicídio de Vanessa Ricarte, não foi o foco da reunião, garantiu a secretária.

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