Falta de estrutura de bombeiros fica evidente em três incêndios seguidos
Em menos de seis meses, três lojas ficaram completamente destruídas pelo fogo em Campo Grande. Em todos os casos, os proprietários reclamaram da falta de estrutura do Corpo de Bombeiros para atender incêndios de grandes proporções.
Na tarde de ontem, as chamas acabaram com a loja Planeta Real, localizada na avenida Afonso Pena, no Centro da Capital. Foram aproximadamente duas horas para que os bombeiros conseguissem conter o fogo, que se alastrou muito rápido por causa da quantidade de materiais inflamáveis.
Contudo, o gerente da loja atingida, César Aparecido Lopes, reclamou do déficit de equipamentos do Corpo de Bombeiros. Ele denunciou ontem que os militares chegaram com um caminhão pipa que estava sem água e o combate às chamas só pôde começar quando um segundo veículo chegou ao local, acompanhado de outro caminhão pipa da Águas Guariroba.
“Não tem como prever o incêndio, mas a gente precisa de estrutura”, disse. Ainda segundo César, o prédio atingido pelo fogo tem três hidrantes, mas a água só chegou 1h20 depois do início das chamas. Houve problema também para acionar os outros hidrantes da quadra da loja Planeta Real, que estavam sem água.
Ainda ontem, os bombeiros tiveram dificuldade em montar a escada magirus, que falhou, e a mangueira de um dos caminhões estava furada. Os militares tiveram que usar os prédios vizinhos para combater o fogo.
O incêndio chamuscou também a parede dos fundos das Casas Bahia, estilhaçou os vidros do Centro Comercial Executive Center e desabou a parede que divide a loja Planeta Real e a Galeria Afonso Pena, todos prédios vizinhos.
Mesma história – No sábado (4), a loja de cosméticos Perfil, localizada na rua 14 de Julho, a duas quadras da Planeta Real, também foi completamente destruída em um incêndio. Na ocasião, a história se repetiu e também foram duas horas para o fogo ser controlado.
A proprietária da Perfil, Silvana Mariote Dallegrave, conta que, no dia que a loja pegou fogo, os bombeiros chegaram ao local com um caminhão sem água e em seguida chegou outro que também não tinha quantidade suficiente para poder apagar as chamas.
“Os homens até têm boa vontade e preparo, eles ficam desesperados junto com a gente, mas o problema é que não há estrutura para trabalharem da forma necessário, falta equipamento”, lamenta Silvana.
A proprietária elogia a agilidade dos profissionais, que ligeiramente isolaram o local. “Tinha muito material inflamável, queimou muito rápido, perdemos tudo na loja, mas com certeza o nosso prejuízo seria menor se o Corpo de Bombeiros tivesse mais estrutura”, aponta Silvana.
Com toda a experiência traumatizante, agora fica a preocupação com outros incêndios. “Se pegar fogo nesta proporção em um prédio residencial, morre todo mundo queimado, pois a escada dos bombeiros é curta, os caminhões são velhos e sem condições, vivemos em uma capital que cresce sem estrutura”, critica Silvana.
Ontem, ao ver a fumaça que vinha da loja vizinha, Silvana descreveu a cena com tristeza. “Foi horrível, a gente sabe que não tem só a questão da parte material, o que mais pesa é o valor sentimental, tudo envolve vidas, famílias, é muito triste”, desabafa.
Paulistão – No final do ano passado, no dia 6 de dezembro, a vítima da vez foi a loja Paulistão, localizada na avenida Costa e Silva. Embora o Corpo de Bombeiros tenham afirmado que o incêndio na Planeta Real teve proporções maiores, da outra vez os militares levaram cerca de 3 horas para combater o fogo.
No dia do incêndio, também houve o problema de falta de água. “Todas as lojas que pegaram fogo foram destruídas, na do meu sogro tem um quartel do Corpo de Bombeiros ao lado e isso não diminuiu o estrago, os equipamentos dos bombeiros é precário, sucateado”, diz o genro do proprietário da loja, Diogo Moreira, 39 anos.
No caso da loja Paulistão, os proprietários foram vítimas de incêndio pela segunda vez. Em 2007, a filial da rua Rui Barbosa também foi destruída pelo fogo. “Foi a mesma coisa, a mesma falta de estrutura para atender a ocorrência, é horrível ver tudo ser consumido pelas chamas, ver que os bombeiros não podem fazer muito mais do que fazer e saber que somos impotentes diante da situação”,
Na tarde de ontem, quando a esposa dele, filha do dono da Paulistão, viu a fumaça e soube que vinha da Planeta Real, a lembrança da própria experiência veio a tona. “Ela debruçou na sacada de casa e ficou trêmula, ainda dói lembrar de tudo”, lamenta Diogo.
No entanto, Diogo ressalta que o problema não é falta de competência dos militares, mas sim falha na estrutura de toda a corporação. “Eles têm boa vontade, mas isso não adianta, tem que ter estrutura, viatura, algo que realmente funciona”, critica Diogo.
O que acontece? – Em relação aos problemas de ontem, o chefe da comunicação social do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Joilson de Paula, disse que a escada magirus chegou à loja Planeta Real por volta das 16h, mas não foi usada imediatamente porque a viatura ABT (Auto Bomba Tanque), com capacidade para seis mil litros de água, usada no combate ao incêndio, estava presa no trânsito caótico que se formou na região central durante o incêndio.
Sobre a denúncia dos proprietários das lojas em relação à falta de água, o tenente-coronel explica que o Corpo de Bombeiros tem viaturas modelos ATR (Auto Tanque Reboque), com capacidade para 30 mil litros de água, e AT (Auto Tanque), que armazena 20 mil litros de água, mas são de apoio e não tem a pressão necessária para esguicho de água.
No caso dos hidrantes, o governado do Estado, André Puccinelli (PMDB) disse na manhã de hoje, em entrevista ao jornal da TV Morena, que isso é de responsabilidade da Águas Gariroba e de fiscalização da Prefeitura.
Conforme Joilson de Paula, se a corporação dispusesse de viaturas com novas tecnologias, o combate ao incêndio teria sido feito de maneira mais rápido. O tenente-coronel também afirma que dentro de quatro meses cerca de 30 novas viaturas entrarão em funcionamento e as que estão sendo usadas atualmente serão encaminhadas para a manutenção. Do total de veículos, cinco serão destinadas para o combate a incêndio.