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Capital

“Fazia a festa na UTI”, ouviu vítima ao denunciar enfermeiro por estupro

“Tive medo de morrer, medo de ele fazer mais coisas, medo de ninguém acreditar”, relatou vítima aos prantos

Mirian Machado | 11/02/2021 16:42
"A gente não tem paz nem no leito de hospital", disse vítima de abuso dentro do HR (Foto: Henrique Kawaminami)
"A gente não tem paz nem no leito de hospital", disse vítima de abuso dentro do HR (Foto: Henrique Kawaminami)

Abusada no leito da enfermaria dentro do Hospital Regional em Campo Grande, a mulher de 36 anos que vem sofrendo para dormir após o ocorrido, ainda ouviu de outros enfermeiros que o suspeito, que aparenta ter cerca de 50 anos, “fazia a festa na UTI”.

Conforme relatado ao Campo Grande News, a mulher, que tem tido problemas de ansiedade e taquicardia na hora de dormir, chegou a ouvir de três pessoas da equipe hospitalar que não era a única vítima. “Eles me disseram que ele fazia isso com outras mulheres na maioria das vezes quando elas estavam inconscientes ou que tinham histórico psiquiátrico”, contou.

Vítima no hospital, momentos depois do ocorrido (Direto das Ruas)
Vítima no hospital, momentos depois do ocorrido (Direto das Ruas)

A mulher afirmou ter conseguido junto à Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher) uma medida protetiva e explica que além do medo de contar, também temeu dos julgamentos. “Tive medo de morrer, medo de ele fazer mais coisas, medo de ninguém acreditar”, afirmou ainda aos prantos, lembrando da pior noite que teve na sua vida.

No quarto onde tudo aconteceu, a vítima não estava sozinha. Uma senhora de pouco mais de 80 anos era sua companheira, mas conforme relatado pela mulher, o enfermeiro que também ministrava medicação, teria aplicado algo na idosa momentos antes de cometer o crime. “Ele ainda mexeu no pé dela e verificou que ela não se mexia, aí veio pra cima de mim”, disse.

Narrou que tentava chamar, gritar por ajuda, porém a situação debilitada por conta da doença a impedia. “Apesar de não conseguir lutar com a minha força, eu estava consciente, lúcida. Meu avô me falava que em situações de risco eu devia prestar atenção em detalhes e foi o que eu fiz. Se eu o ver com toda certeza consigo reconhecer”.

Após o ocorrido, quando percebeu que a vítima estava em desespero, o autor pediu ajuda a outra enfermeira para conseguir estabilizá-la e apertando-a falava. “Estamos bem né?”.

Tempo depois, o homem passou novamente pelo quarto e disse à mulher. “Hoje à noite estou de plantão e volto”. Foi neste momento em que a vítima novamente entrou em desespero e resolveu fazer a denuncia à equipe médica.

“Eu nunca vi ele na minha vida. Não o conheço. Não sei por que ele me escolheu. Mas ele não tinha direito de achar que porque eu estava naquele estado, podia fazer algo comigo. Foi nojento, constrangedor. A gente não tem paz nem no leito de hospital”, disse indignada também com os julgamentos que tem recebido sobre o caso.

"Vou salvar o que sobrou da vida da minha filha”, diz mãe de paciente estuprada em hospital (Foto: Henrique Kawaminami)
"Vou salvar o que sobrou da vida da minha filha”, diz mãe de paciente estuprada em hospital (Foto: Henrique Kawaminami)

A mãe da vítima de 56 anos contou que na manhã de sexta-feira (12) pretende fazer a denuncia também na OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil Seccional de Mato Grosso do Sul). “Fomos maltratadas no hospital depois do ocorrido desde a portaria até a assistência social. Disseram para ela [filha] que era com ela, que não podiam fazer nada”, contou.

A mãe ainda contou que só tem recebido apoio da imprensa e da polícia. O hospital apenas teria ligado para pedir que enviasse um e-mail à Ouvidoria. “Primeiro eu vou salvar o que sobrou da vida da minha filha”, concluiu.

“Como mãe, me sinto inútil. O maior medo de uma mãe é que isso aconteça com um filho e como aconteceu. Sinto que falhei”, relatou a mãe da vítima, bastante abalada.

Investigação- A delegada responsável pelo caso Maíra Machado, da Deam já ouviu 4 enfermeiras – uma delas, peça-chave na investigação, já que foi a primeira a ter contato com a paciente logo após aquela madrugada. A profissional relatou que percebeu o abalo da mulher doente logo que chegou. A troca dos plantões acontece às 6h30.

Outros dois enfermeiros que tem contrato temporário com o hospital serão intimados para depor. Ambos estavam na escala de trabalho da madrugada de 4 de fevereiro, data do crime.

Maíra afirma que, até agora, o hospital só colaborou com a entrega de escala de plantão. A Deam aguarda ainda o envio de outros documentos solicitados, como o prontuário médico da paciente.

A mulher foi encaminhada para exames no Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal). A responsável pelo inquérito pediu ainda perícia nas roupas que a paciente usava na noite do estupro. Ainda não há prazo, portanto, para a conclusão das investigações.

Não há informações sobre quais providências foram tomadas pela instituição. "Reiteramos que todos os casos de supostas infrações nos diversos campos, administrativo e assistencial, o HRMS pauta-se nos ditames éticos e legais vigentes para tomada de providências", diz nota enviada pelo hospital, a única manifestação até agora.

O caso – A paciente estava internada desde o dia 1º de fevereiro. Bastante debilitada, depois de ter passado mal durante a noite, tendo vômito e falta de ar, a paciente notou quando o profissional de enfermagem começou ir ao quarto dela e passou a passar a mão em seu corpo.

Em determinado momento, por volta das 3h, o suspeito, segundo a vítima, retornou ao leito com “óleo de girassol”, passou nos dedos e começou os abusos. “Dizia que eu ia gostar”, contou a mulher em entrevista ao Campo Grande News, um dia depois de receber alta.

A vítima ainda tenta se recuperar das sequelas que a covid-19 deixou. No entanto, segundo ela, se as dores da doença ainda causam desconforto, o abalo emocional, depois de ser abusada sexualmente, é irreparável.

Não há informações sobre quais providências foram tomadas pela instituição. (Divulgação)
Não há informações sobre quais providências foram tomadas pela instituição. (Divulgação)


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