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Capital

Lideres quebram regras da Pastoral da Criança para “fazer milagre" com famílias

Norma é cumprir visitas virtualmente, mas a linha de frente vê que realidade é pior do que a teoria

Aletheya Alves | 13/04/2020 15:05
Materiais usados durante as reuniões comunitárias, que agora passaram a ser virtuais e individuais. (Foto: Arquivo/Aletheya Alves)
Materiais usados durante as reuniões comunitárias, que agora passaram a ser virtuais e individuais. (Foto: Arquivo/Aletheya Alves)

Responsáveis pela Pastoral da Criança tiveram seu trabalho modificado desde que o novo coronavírus se tornou realidade. Orientadas a interromper os acompanhamentos presenciais das famílias, algumas lideranças resolveram deixar de lado regras repassadas pela igreja e continuar o serviço.

Conhecendo a situação precária de quem mora na periferia, responsáveis pela pastoral de alguns bairros passaram a arrecadar comida para famílias que já enfrentavam dificuldades antes da pandemia e decidiram manter as visitas para quem não tem acesso a celular.

Afastada temporariamente das faxinas que colocam o pão na própria mesa, a líder de pastoral Patrícia dos Santos Padilha atende 18 famílias no Jardim Campo Alto - região sul da Capital. Ela e outras líderes do bairro pensam em como fazer milagres juntando moedas para comprar alguns sacos de arroz, feijão e macarrão para as mães que tinham dificuldades com crise antes mesmo do coronavírus.

Distribuir alimentos não é postura padrão adotada pela Pastoral da Criança. Conforme divulgado no site da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o órgão busca orientar as famílias e encaminhar os casos de necessidade ao poder público. O sistema de assistencialismo não é pregado pela pastoral.

Até agora, também sem emprego fixo garantido, Patrícia conseguiu comprar uma cesta básica para compartilhar entre os próprios filhos e outros da comunidade. "É coisa simples, mas não conseguimos fazer muito mais".

Teve uma mãe que entrou em crise, queria se matar porque ela cuida sozinha de quatro filhos. É com essa que vou dividir a cesta.

Em sua visão institucional, a Pastoral da Criança deixa explícito que o futuro desejado é aquele em que “todas as crianças, mesmo as mais vulneráveis, viverão num ambiente favorável ao seu desenvolvimento”. De acordo com os relatos da líder, esse ideal ainda está longe da realidade no Jardim Campo Alto.

Cesta básica montada por Patrícia para dividir com famílias. (Foto: Arquivo Pessoal)
Cesta básica montada por Patrícia para dividir com famílias. (Foto: Arquivo Pessoal)

Coordenadora estadual da Pastoral da Criança, Suely Maria de Araújo Lynch, explica que alguns líderes têm percebido complicações nos quadros familiares. "Eles têm articulado para providenciar sacolões para conseguir atender quem precisa. Nossa missão é de acompanhamento e orientação, só ajudamos quando encontramos famílias em extrema necessidade".

De acordo com Suely, grande parte das pastorais e setores que mantêm contato com a sociedade resolveu praticar o assistencialismo enquanto a pandemia durar.

Distanciamento social - A norma geral, informada pela igreja católica, é retirar das ruas as 580 lideranças presentes em Mato Grosso do Sul. O problema é que quem conhece a periferia sabe que nem todo mundo consegue chegar ao mundo digital.

Das 18 famílias atendidas por Patrícia, no Jardim Campo Alto, sete não têm acesso a celular ou telefone e estariam excluídas das orientações sobre saúde e nutrição das crianças, assunto principal das conversas mensais que mantêm o laço entre família e pastoral ativo.

Sem se questionar, Patrícia resolveu suspender a orientação geral para esses casos e manteve o trabalho presencial com distância necessária, luvas e máscaras.

A gente não pode abandonar essas mães em situação alguma. Está difícil, mas estamos tentando levar a vida. Só eu estou agindo por causa da covid-19, muitas líderes são de idade e outras têm alguma doença em particular.

Aplicativo usado para registrar as informações das famílias acompanhadas. (Foto: Reprodução)
Aplicativo usado para registrar as informações das famílias acompanhadas. (Foto: Reprodução)

Em teoria, cada liderança seria responsável por apenas cinco famílias com crianças de até seis anos, mas não é o que acontece.

Depois de fazer os questionamentos às mães, tirar dúvidas e compartilhar conhecimento, todas as informações captadas são transferidas para o aplicativo da pastoral, independente se as visitas são presenciais ou à distância.

Além do aplicativo oficial, a indicação é que cada líder consiga manter diálogo com as famílias via whatsapp, facebook ou ligações. Acostumados com as reuniões em igrejas e visitas marcadas no calendários, quem participa do órgão vem se adaptando sem ter ideia de quando as mudanças irão acabar.

Enquanto a pandemia segue, novas regras vão surgindo de acordo com a necessidade de cada comunidade. Alguns conseguem acompanhar as atividades via internet, outros se preocupam em como manter os trabalhos na ativa.

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