Mulheres vítimas de violência esperam mais de 12h por atendimento em delegacia
Razão da espera é a prioridade dada aos casos de flagrante, de acordo com quem foi até local
Cerca de dez mulheres passaram a noite e a madrugada desta segunda-feira (11) na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Os relatos são de que, desde às 18h do domingo (10), há vítimas de violência aguardando para conseguirem registrar boletim de ocorrência e solicitar medidas protetivas, mas sem atendimento.
Para elas, a justificativa dita pelos funcionários é de que os casos de flagrante, aqueles com suspeitos das agressões presos, têm prioridade no atendimento.
Comerciante de 34 anos contou ao Campo Grande News que foi espancada pelo ex-marido com uma barra de ferro, no fim da tarde de ontem. Com muitos hematomas e sangue ainda aparente, ela passou a noite na delegacia e já espera cerca de 12 horas para conseguir registrar a ocorrência.
"Vir aqui já é humilhante, toda situação já é humilhante, e ainda tem essa demora", relatou a comerciante. Ela conta que teve o filho de 5 anos que viu a agressão. A vítima já passou por atendimento psicológico, mas disse que não pode voltar para casa sem a medida protetiva contra o agressor.
Além dela, outra mulher de 35 anos, que também vai ter a identidade preservada, chegou às 18:30 do domingo e segue aguardando, também ao lado da filha de 5 anos, para registrar a ocorrência. É mais uma que depende de medida protetiva, mas ainda não conseguiu. A queixa é de que, agora de manhã, precisa buscar o crachá para ir trabalhar, mas tem medo de reencontrar o agressor.
"Isso aqui é falta de humanidade, a gente vem aqui porque precisa, como que vai sair da Casa da Mulher Brasileira sem um boletim de ocorrência ou medida protetiva? Eu fui expulsa de casa, como vou voltar lá e ter o risco de ser agredida? Isso aqui é revoltante", reclama a residente.
As mulheres contam que muitas outras vítimas passaram por lá durante a noite, mas que desistiram do atendimento. Juntas, assinaram uma ata de reclamação pela demora na delegacia.
Outra vítima da demora é uma técnica de laboratório de 31 anos. Ela tem pressa no atendimento, porque a filha sumiu. O ex descumpriu medida protetiva, levando a menina de 1 ano e 9 meses sem acompanhante, conforme determinava a ordem judicial. Ela busca ajuda, por não saber onde a criança está.
"Liguei para polícia e disseram que não podiam fazer nada, que eu tinha que vir aqui registrar B.O. Não sei onde ela está, como está, porque eu dormi aqui, né? Algum policial vai lá comigo buscar minha filha? Eu estou desesperada", reclamou a vítima
Em nota, a Polícia Civil informou que o fim de semana foi "atípico" em relação ao número de casos de violência doméstica, "bem como vaturas que chegaram para apresentarem ocorrências que demandam atendimentos urgentes. Assim, a Polícia Civil adotou providências para que a situação fosse resolvida, e a população e as viaturas serem liberados no menor tempo possível".
Matéria atualizada às 11h30 para acréscimo de informação
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.