No abraço, o agradecimento ao delegado que salvou bebê de 9 meses de engasgo
De toalha, mãe correu pelas ruas do Jd. Tijuca até encontrar ajuda para salvar filha, quase desfalecida

Amanda Cristina da Costa, 19 anos, saía do banho quando foi alertada pelo filho de 2 anos: “Mamãe, a Mimi acordou”. Ao olhar para cama, viu Yasmin, de 9 meses, arfando, mole, enrolando a língua e tremendo. No desespero, saiu correndo pelas ruas do Jardim Tijuca e seu caminho se cruzou com delegado Fabrício Dias dos Santos que, naquele dia, alterou a rotina, mudança que acabou salvando a menina do engasgamento.
O incidente aconteceu na última terça-feira (21), por volta das 12h. Hoje, passado o susto, foi hora de agradecer ao delegado, em visita na 6ª DP. O encontro foi flagrado pela reportagem do Campo Grande News, que fazia ronda para perguntar sobre casos investigados na delegacia e encontrou uma história que vai além das ocorrências policiais.
Amanda contou o desespero que passou. Ao ver a filha quase desfalecida, saiu correndo, vestida apenas com roupa íntima e enrolada na toalha. “Na hora, nem pensei em colocar roupa, só saí em direção aos bombeiros”.
Foram percorridos 450 metros, da casa até o Corpo de Bombeiros, o trajeto mais angustiante da vida dela. Descalça, gritando e pedindo ajuda, passou por cerca de quatro quadras de rua sem asfalto e cheia de pedras. Atrás, a tia a seguia, com a bebê nos braços.
Na frente do Corpo de Bombeiros, na Avenida Souto Maior, a agonia aumentou ao não encontrar equipe no local. O grupo havia saído para atender ocorrência.
Ao lado da unidade, está a sede da 6ª DP, de onde o delegado Fabrício dos Santos manobrava o carro para sair. Naquela terça-feira, se sentindo um pouco mal, decidiu não almoçar na delegacia, como regularmente faz, e resolveu ir para casa.
“Olhei o retrovisor e vi Amanda correndo de toalha na rua, a tia atrás, um cachorro correndo com elas e fiquei sem entender. Pensei: ‘alguém está batendo nela e ela está fugindo'”.
O delegado desceu do carro e foi até as mulheres que estavam desesperadas, gritando em frente da unidade do bombeiro. Viu a menina agonizando. “Realizei o procedimento que aprendemos na Academia [de Polícia], aprendi há 9 anos e nunca tinha usado”, referindo-se ao treinamento de primeiros socorros repassado na Polícia Civil.
O delegado usou a manobra de Heimlich: apoiou Yasmin no antebraço, a posicionou de cabeça para baixo e fez compressões no dorso da menina com a palma da mão. “Na hora fiquei bem nervoso e só pensei, ‘vou fazer e vai dar certo’”, contou. “Não sei quantas palmadas dei, a tia me falou que foram três e ela voltou”.
A manobra de Heimlich (tração abdominal) é um procedimento rápido de primeiros socorros para tratar asfixia por obstrução das vias respiratórias superiores por corpo estranho, tipicamente alimentos ou brinquedos. Se necessário, pode-se utilizar também compressões torácicas e percussão nas costas.
Santos diz que chamou atenção o fato de várias pessoas estarem na rua, mas que ninguém se prontificou a ajudar.
Depois da manobra, o delegado levou as mulheres e a bebê de volta para casa na travessa. De lá, seguiram para Hospital Regional, onde Yasmin foi internada. Ela passou por exames e foi liberada ontem. A mãe não relatou à reportagem o que poderia ter sido a causa do engasgamento.
O delegado se recorda da sensação que ficou depois de ver a menina voltando a ficar consciente. “Foi sensação de estresse, angústia e, depois, alívio”, disse ao Campo Grande News. “A gente aqui está preparado para tudo: troca de tiros, mortes, mas essa é sensação diferente, de salvar um bebê; para mim, ter saído de rotina para salvar a bebê naquele dia foi como se eu fosse um instrumento de Deus, era para ser”.
No agradecimento, o delegado disse que não se sente herói. “As maiores heroínas são elas, principalmente Amanda que saiu correndo essas quadras de ruas de pedra, descalça e de toalha. O que eu fiz foi reação prática daquele que aprendi na academia”.