Previsões indicam dias dramáticos da covid em pleno aniversário de Campo Grande
Torcida é para que projeção não se confirme, e enquanto isso, quem tradicionalmente faz parte dos festejos, vai comemorar em casa
No próximo dia 26 de agosto, Campo Grande completa 121 anos de fundação e diante da pandemia do novo coronavírus, comemora-se como? Sem desfile cívico previsto, o medo é que até lá, além de não haver festa, ainda cumpra-se previsão de pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) indicando situação crítica na saúde da cidade durante todo o mês de aniversário com pico em 25 de agosto.
Segundo o último levantamento divulgado, em 27 de julho, crescimento no número de casos e mortes na Capital tem sido exponencial desde meados de junho e continua.
“Infelizmente, se nada for feito para conter a proliferação da doença, continuaremos neste cenário por todo o mês de agosto”, diz parte da análise.
Pior ainda é a projeção de uso de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Para o dia 16 de agosto, é estimada superlotação, com mais pessoas precisando dessas vagas do que leitos disponíveis para internação.
Com esse quadro, o Campo Grande News conversou com quem está, tradicionalmente, fazendo parte dos festejos de aniversário. Ouvimos representantes do Mercadão Municipal e da Banda de Música. Todos disseram que não há muito o que comemorar.
A ideia comum é de que “tudo isso vai passar” e que nesse processo, todos estão aprendendo.
Cleuber Linares tem 49 anos e é presidente da Associação dos Comerciantes do Mercado Municipal de Campo Grande, entreposto a caminho dos 62 anos, em setembro.
Ele convive no local desde os 5 anos de idade, quando o pai montou a peixaria, e não se lembra de momento tão tenso na cidade desde então.
“Essa situação é totalmente atípica. Nenhum de nós nunca passou, nunca viu algo parecido, não fomos ensinados a lidar com isso, então, estamos aprendendo na prática”, ressalta. “Não vejo muito o que comemorar (no aniversário de Campo Grande”, enfatiza.
Para ele, a única celebração seria as próprias saúde e vida, por aqueles ainda imunes à doença. “Não tem muito o que comemorar, se tiver é pra comemorar a vida, por conseguir ultrapassar essa fase que não está fácil pra ninguém”, sustenta.
Apesar de considerar o aniversário de Campo Grande data especial, afirma ser preciso ter muita cautela. “Quando a gente fala em comemorar a gente lembra de festa, dos festivais de pastel, de sobá, do desfile e outros eventos, e não vai ter nada disso. Então, a gente comemora com a saúde e seguindo as orientações de distanciamento”.
Maestro da Banda Municipal de Música, Antônio Marcos Ramires Bezerra, 50 anos participa do Desfile Cívico em comemoração ao aniversário da Capital desde os 7 anos de idade. “Me arrepio todo!”, afirma, e relembra que “o desfile era o ápice das comemorações, que começavam com a alvorada na Esplanada e de lá, a gente se deslocava pro desfile”. No ano passado, o evento reuniu 25 mil pessoas.
Otimista, ele se nega a ver apenas o lado negativo de toda a situação e avalia que é preciso olhar para o que se pode aprender. “
"Se vai ser triste ou não, não sei, mas sei que estamos aprendendo, é tudo novidade. Talvez com tudo isso passemos a valorar outras coisas, ter outras referências”, afirma.
Bezerra avalia que a tristeza existe pelas vidas perdidas com a pandemia. Diz, porém, ver necessidade de “refletir sobre isso, como tirar algum proveito de uma situação tão ruim, olhar pra frente e pensar que vai passar”, sustenta.
Alternativas de pandemia - Uma alegria deste ano, por exemplo, foi poder fazer projeto novo para a Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo), em que, cada músico da banda, em casa e do celular, toca o tema da novela "Novo Mundo", da Rede Globo. Na edição, os vídeos foram reunidos, formando uma bela apresentação, à distância.
Também parte da Banda Municipal, João Victor Santos Mendes Alves, 18 anos, esteve presente no Desfile Cívico por três anos seguidos – 2017, 2018 e 2019 -, e participaria este ano, se houvesse.
“A sensação de participar do desfile é única, não dá pra explicar. Estar ali, tocando, vendo o povo olha pra você, aplaudir. É muito bom”, revela, afirmando que em anos que o evento acontece, a preparação começa cedo. “Meses antes... a gente ensaiava na rua, no bairro Amambaí e ia desfilando pela rua e tocava pras pessoas que passavam”.
Sem nada disso em 2010, ele diz que a pandemia “frustrou muita gente este ano”, mas que “querendo ou não, tem que parar, tem que evitar aglomeração” e que, mesmo sendo um momento triste, é necessário. “É uma pandemia, todo mundo está sendo afetado”, lamenta.
Nas ruas - Para quem anda pelas ruas da cidade, o momento explica a ausência de comemorações efusivas. A pensionista Fátima Chaves, 62, diz que "é triste pensar que não vai ter nada", porque ela sempre vai ao desfile e leva o neto. O jeito é resignar-se: "a gente precisa abrir mão pela saúde geral".
Ela analisa ainda que "se tiver desfile ou qualquer tipo de festa com gente nas ruas, o pico só vai piorar e nunca vai acabar tudo isso. É melhor resguardar, as pessoas estão morrendo. Depois a gente se reúne e comemora, quando as coisas se resolverem".
Roseleine da Silva Lima, 35, é atendente e sustenta que "a saúde é mais importante do que qualquer outra coisa". Segundo ela, "ano que vem tem festa e aniversário, a gente só precisa se cuidar e respeitar. A gente sabe que se tivesse festa, desfile, ia lotar ainda mais os hospitais. Mais gente ainda morrendo por falta de leito", pondera.
A reportagem procurou a Prefeitura de Campo Grande para informar que eventos, mesmo online, que estão programados para o mês de aniversário. O retorno foi o pedido para que se aguardasse, porque será anunciado.