Vendedores ambulantes retornam às calçadas do Centro e incomodam comércio formal
Rua 14 de Julho, Praça Ary Coelho e os Altos da Afonso Pena são locais com aumento de vendas informais
Com estandes improvisados em calçadas, vendedores ambulantes voltam a ocupar cada vez mais as ruas de Campo Grande. Apesar de ser uma atividade irregular, no centro da cidade é possível encontrar os mais diferentes produtos, como roupas, acessórios de celulares, comidas e outras “bugigangas”.
Na década de 90, os ambulantes foram a principal “dor de cabeça” dos comerciantes. Em 1998, a criação Centro Comercial Popular Marcelo Barbosa da Fonseca, conhecido popularmente como Camelódromo, diminuiu o problema, mas não o extinguiu. Hoje, são 450 boxes no centro comercial. E as vendas informais seguem aumentando em pontos como a Rua 14 de Julho, Praça Ary Coelho e os Altos da Afonso Pena.
A reportagem percorreu alguns desses pontos para trocar impressões sobre o assunto com lojistas, clientes e com vendedores ambulantes, que apesar de educados, demonstraram desconfiança ao conversar com a imprensa.
Na Rua 14 de Julho, a variedade de produtos é grande, com “banquinhas” de roupas, artesanato, produtos para celular, brinquedos, perfumes e comidas. Ao Campo Grande News, alguns ambulantes afirmaram saber que a atividade é irregular.
"Eu já me dei muito mal. Perdi R$ 2 mil em um dia de 'rapa'. Só que é a opção que eu tenho", explica um vendedor de meias, que possui uma banca na calçada da Rua 14 de Julho.
Questionado se já pensou em legalizar sua venda, um ambulante da Rua 14 de Julho, que não quis se identificar, afirma que sim. “Se eu tivesse espaço no camelódromo, até iria, mas não tem. Eu preciso vender, então venho para cá”.
Prejuízo - No meio desse cenário, os comerciantes da Capital são os que acabam arcando com as consequências econômicas dos impactos provocados pelos ambulantes nos estabelecimentos comerciais convencionais.
Na Rua 14 de Julho, o comerciante Carlos Alessandro de Freitas Correira, 39 anos, vende acessórios de celular, como carregadores, capas protetoras e fones de ouvido. Em média, seus produtos vão de R$ 20 até R$ 200. “Capinhas simples para celulares são a partir de R$ 20. Para IPhone, a média é de R$ 50, porque são duráveis, mais trabalhadas, com símbolo da Apple”, explica.
No ramo de vendas de Carlos, os ambulantes também têm se destacado, oferecendo cabos de carregamento por R$ 15 e capas de celular que chegam a custar R$ 10. Além disso, os vendedores informais trazem a possibilidade de “negociar” o preço.
Entretanto, essa diferenciação de preços acaba impactando diretamente as margens de lucro das lojas formais, algo que Carlos afirma sentir no bolso. "O ambulante não tem o custo na logística, água, luz, funcionários e imposto. Só que nós temos. Ao tirar esses gastos que agregam no valor final do produto, o ambulante consegue oferecer um valor mais em conta. Com isso, acaba dando um prejuízo para as lojas formais", explica o comerciante.
Segundo Carlos, o comércio formal precisa lidar com custos que antecedem a hora da venda, o que acaba por refletir no valor final dos produtos. "Os nossos produtos são originais. Então já tem um custo mais elevado. Nisso, precisamos dissolver todos os gastos no valor final, para no final do mês conseguir ter algum lucro".
O comerciante também ressalta que, embora compreenda as dificuldades enfrentadas pelos ambulantes, é fundamental buscar soluções que promovam uma competição justa e equilibrada no mercado. "Eu não tenho nada contra eles. Sei que são pais de família, que estão buscando o sustento. Até porque hoje em dia, o emprego não está fácil para todo mundo".
Carlos menciona o exemplo do Camelódromo, que, no passado, serviu como uma alternativa para acomodar os vendedores ambulantes, aliviando a concorrência direta nas calçadas.
"Uma medida que fizeram no passado e que funcionou foi o Camelódromo. Ele foi criado porque a cidade tinha muitos vendedores ambulantes. Lembro que as calçadas da Rua Barão do Rio Branco eram lotadas. Depois, foram para o Camelódromo. Para a situação atual, eu não tenho certeza do que poderia ser feito, mas o Camelódromo funcionou naquela época."
Assim como Carlos, a gerente de uma loja de cosméticos, Sirlei Mariotti, acredita que os ambulantes prejudicam os estabelecimentos formais. "Isso é muito injusto. O aluguel aqui é caro e nós pagamos impostos caros. Só que eles ficam em frente a nossas lojas, querendo até que a gente compre".
Sirlei aponta para a necessidade de maior fiscalização e zelo pela Rua 14 de Julho, alegando que a presença desordenada dos ambulantes e a falta de cuidado após a reforma da via impactam negativamente a experiência dos consumidores e o desenvolvimento do comércio local.
"Eu acho que tem ter mais fiscalização. A Rua 14 de Julho era para estar muito melhor. No começo, após a reforma, havia um zelo. Agora está largada. Foi uma obra cara, tanto para a prefeitura quanto para nós lojistas. Tivemos que aguentar a falta de clientes e o barro", comenta Sirlei.
A comerciante de acessórios para celular, Fabiana Neves, explica que lida com o problema de uma forma diferente. Segundo ela, seu ramo é voltado para vendas no atacado, o que não compete diretamente com os ambulantes. “Até agora, as vendas estão boas. Só que os ambulantes não me prejudicam tanto, porque o meu ramo é atacado e eles acabam comprando de mim. Mas para comerciantes do varejo, é outra coisa”.
Preferências - Entre os clientes, as preferências variam de acordo com o produto. A professora de educação física Vanessa Júlia Santana, de 27 anos, afirma que opta por adquirir aparelhos eletrônicos em lojas formais devido à confiabilidade e autenticidade dos produtos.
"Acho que depende da mercadoria. Geralmente, aparelho eletrônico eu compro em loja, porque gosto de original. Roupas e maquiagem eu compro com ambulantes mesmo. Sempre acho em terminais. Eu compro com ambulantes por causa do preço e da praticidade. Eles sempre têm na hora", explica Vanessa.
A autônoma Jéssica Alves, de 31 anos, também afirma que também prefere comércio tradicional para a maioria de suas compras, mas que não descarta a opção dada por ambulantes. "Vou mais no mercado tradicional, porque sabe a procedência do material. Prefiro a qualidade. Mas algumas coisas eu compro com ambulantes, como água, comida e brinquedinhos para crianças".
Por outro lado, a professora Vânia Cristina Machado, de 52 anos, enxerga a segurança e preços sem grandes disparidades como fatores determinantes para sua preferência pelo comércio formal. "Prefiro o comércio tradicional. Acho mais seguro e os valores não têm tanta diferença nos preços”.
Fiscalização - A reportagem entrou em contato com a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) para saber se a pasta pretende aumentar a fiscalização do comércio na região central e se há alguma proposta para regulamentar a venda dos novos ambulantes. Até o fechamento desta matéria, não obteve resposta.
O Campo Grande News também tentou contato com a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), para saber o posicionamento da organização sobre o tema. No entanto, não houve resposta. O espaço segue aberto.
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