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Interior

Após 1 semana, Exército não consegue apontar vírus que matou um e contaminou 88

Mãe de soldado morto conta que médico destacou treinamento acima do limite e falta de água

Por Aline dos Santos | 03/05/2024 11:59
Vinicíus Ibanez Riquelme, de 19 anos, em unidade do quartel de Bela Vista (Foto: Arquivo Pessoal) 
Vinicíus Ibanez Riquelme, de 19 anos, em unidade do quartel de Bela Vista (Foto: Arquivo Pessoal)

Passada uma semana do término do treinamento do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado de Bela Vista, que teve trágico saldo de uma morte e 88 militares que precisaram buscar atendimento médico por sintomas de infecção viral, o Exército ainda não divulgou qual vírus causou tamanho surto.

Na última nota à imprensa, publicada na quinta-feira (dia 2), o Comando da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, com sede em Dourados, apontou que oito militares permanecem hospitalizados. Ontem, começou a imunização contra o vírus da gripe.

Contudo, conforme os comunicados, somente quatro casos tinham confirmação de Influenza, vírus da gripe, enquanto um tinha suspeita de dengue. Portanto, só há explicação para cinco doentes, sendo o quadro total de 88 contaminados.

Nesta sexta-feira (dia 3), a reportagem solicitou informação se o vírus já foi identificado e, especificamente, qual vírus provocou a morte do soldado Vinícius Ibanez Riquelme, de 19 anos. Mas não recebeu resposta até a publicação da matéria. O surto não atingiu os demais moradores da cidade de Bela Vista.

“Levaram para matar” 

Mãe do soldado que morreu, Nilda Ibanez Acosta, 42 anos, que mora em Bela Vista, cobra respostas e contratou advogado para acompanhar o desenrolar do caso, que tem como protagonista a perda do seu único filho. “Eu vou correr atrás de Justiça”, diz.

Ela conta que Vinícius estava há quase dois meses no Exército e sabia que ia enfrentar um treinamento “duro” entre os dias 22 e 26 de abril, quando os militares iam para o campo e ficariam incomunicáveis.

“Não ia ser mesmo fácil, mas acho que essa tortura toda foi a primeira vez. Eles mataram meu filho. Levaram meu filho para matar. Negar água para um ser humano, servir barro no lugar de água”, diz a mãe.

Naquele dia 26, Nilda se preparava para um reencontro, rever o filho na cerimônia de formatura. Mas, no local, foi comunicada que Vinícius estava no hospital de Bela Vista. “Ele não conseguia urinar, a boca ressecada, não respirava direito. Estava desidratado ao extremo”.

Em choque, ela tentou explicação médica para o quadro. “Um médico perguntou se o Vinícius tinha doença preexistente. Disse que era um menino saudável. O médico me falou que foi muto esforço, treinamento pesado, acima do limite e muita falta de água”.

O soldado foi transferido para a Santa Casa de Campo Grande, onde morreu em 27 de abril. A mãe busca entender como foi o treinamento. Com a voz embargada, conta que, inclusive, chegou ao seu conhecimento que uma militar não queria que o filho entrasse na ambulância porque o barro ia sujar o veículo.

“Se recusa a falar” 

A mãe de outro militar que participou do treinamento disse ao Campo Grande News que o filho se recusa a falar do que aconteceu no local. Bastante abalado psicologicamente, ele não consegue dormir à noite e a família agendou atendimento com psicólogo. Ela pediu para não ser identificada, por temer represálias.

A mulher reencontrou o filho na sexta-feira, dia 26, e se assustou com seu quadro de saúde. “Ele estava com a boca muto feia, uma casca amarela na boca, que sangrava. Estava podre. Levei ele ao médico, que disse que era uma infecção”.

A mãe acredita que a situação foi decorrente do consumo forçado de limão, alho e cebola. “Tinha que comer na hora, cru, era obrigatório”. A boca tem melhorado com o tratamento, mas persiste o choro e abalo psicológico.

No treinamento, ele contou para a mãe que viu Vinícius pedir socorro, cair, desmaiar e tomar barro em vez de água.

Sobre as denúncias de abusos no treinamento, o Exército informou que abriu investigação.

“No que tange às denúncias de possíveis desvios de conduta, durante a realização do exercício de instrução individual básica do contingente incorporado no ano de 2024, foi instaurado procedimento administrativo para averiguar se houve excessos por parte de algum militar envolvido no treinamento. Ressalta-se que o Exército Brasileiro não coaduna com abusos e todas as responsabilidades serão apuradas.”

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