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Capital do Pantanal, Corumbá completa 244 anos nesta quarta-feira

Cultura marca a história do município ao longo dos séculos

Gabriel de Matos e Idaicy Solano | 21/09/2022 06:11
Vista aérea de Corumbá (Foto: Divulgação/Prefeitura de Corumbá)
Vista aérea de Corumbá (Foto: Divulgação/Prefeitura de Corumbá)

Capital do Pantanal, Corumbá comemora seus 244 anos nesta quarta-feira (21). Distante 424 quilômetros de Campo Grande, é o maior município em território de Mato Grosso do Sul e a principal cidade do bioma pantaneiro. São 64.438,363 km² para mais de 110 mil pessoas, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Hoje tem show sertanejo de Edson e Hudson, a partir das 23h, na Praça Generoso Ponce. A entrada é gratuita.

No coração da América do Sul, a cidade já teve o terceiro maior porto da América Latina até a década de 1930. A cidade também foi centro da Guerra da Tríplice Aliança, também chamada de Guerra do Paraguai, (1864-1870). Em 1865, foi ocupada pelas tropas do presidente paraguaio Francisco Solano López e destruída. Cinco anos mais tarde, reconstruída sob o comando do coronel Antônio Maria Coelho.

O “lugar distante”, tradução do nome vindo do tupi guarani, tem muitos segredos desconhecidos. Uma cultura antiga presente no tradicional São João e em outras datas comemorativas quer atenção.

O cururu e o siriri são duas práticas culturais permeadas de festa, alegria, elementos da geografia pantaneira e que hoje está praticamente restrito às pessoas mais velhas. Ambos trazem a música com a viola de cocho. A diferença entre os dois é vista na participação das mulheres, geralmente mais presente no siriri.

O historiador e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Divino Marcos de Sena ressaltou que o cururu é “uma das manifestações culturais mais antigas da nossa região pantaneira. Ela envolve interesse tantos dos indígenas, também expressões dos africanos e dos europeus. É um produto sintético e híbrido da nossa raiz cultural brasileira”.

Ainda sobre o que é a prática, o professor conceituou que o “cururu é uma prática cultural permeada de dança, movimento e cantoria. Ele é utilizado tanto em festas profanas quanto religiosas. Em festas religiosas, é um momento de atração, são cantadas músicas em homenagem aos santos, geralmente relacionadas ao catolicismo”.

Ele realizou uma pesquisa em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para mapear os cururueiros e siririeros da região pantaneira. O mapeamento foi nas cidades de Corumbá e Ladário.

O objetivo da pesquisa feita entre outubro de 2018 e setembro de 2019, de acordo com o professor, é o de fazer a manutenção da cultura na região. Vale destacar que os praticantes dessa cultura se encontram em uma idade mais avançada, na zona rural e em “número reduzido”. O levantamento começou com base nos dados das secretarias de cultura de Ladário e Corumbá. “A partir disso, encontramos outros. Eles acabam tendo uma rede. Fomos até o local. Os dados foram repassados ao Iphan”.

Cururueiros de Corumbá e Ladário: Sr. Sebastião Brandão; Sr. Otávio Oliveira; Sr. João de Moura e Sr. Vergílio da Costa (Foto: Divino Marcos de Sena)
Cururueiros de Corumbá e Ladário: Sr. Sebastião Brandão; Sr. Otávio Oliveira; Sr. João de Moura e Sr. Vergílio da Costa (Foto: Divino Marcos de Sena)

Os resultados estão no artigo do professor Divino Marcos com o título ‘Cururueiros no Pantanal sul-mato-grossense em princípio do século XXI’. Foram identificadas 26 pessoas na região do pantanal. A maioria nasceu em Mato Grosso. Em Corumbá, são cinco pessoais naturais. Os outros são de Paconé (MT), Cuiabá, Barão de Melgaço (MT) e Várzea Grande (MT).

Essa cultura “conversa” com um período de um Brasil rural, conforme analisa o professor. “Nos espaços urbanos é quase impossível encontrar essas tradições. Há uma certa nostalgia por conta disso tudo”. O perfil dos atuais curureiros é de condição econômica muito baixa, trabalhando em serviços braçais ou no campo, e idosos que moram na zona rural. “Os mais jovens estão na faixa dos 55 anos”, completa Divino.

A cultura do cururu e siriri é algo que passa de geração em geração. No entanto, a falta de interesse dos mais jovens fez com que ela se estagnasse. O artesão aposentado Sebastião de Souza Brandão, 78, que mora em Ladário, é uma das principais referências do estado quando falamos desse segmento.

Violas de cocho produzidas na oficina de Sebastião (Foto: Acervo Pessoal)
Violas de cocho produzidas na oficina de Sebastião (Foto: Acervo Pessoal)

Ele explica que a relação com o cururu começou desde quando era criança. “Desde que eu me entendi por gente, minha família toda era dessa cultura. Meu pai era cururueiro. Meus tios todos eram cururueiros”.

A importância do cururu para Sebastião é muito grande. Ele conta que até hoje não conseguiu parar e ainda pega encomendas de viola de cocho para fazer. Em entrevista, ele relatou que para o aniversário de Corumbá, tem várias ‘violinhas’ por entregar.

O cururu tem dois principais instrumentos para a prática, a viola de cocho e o ganzá (instrumento musical de percussão utilizado no samba e outros ritmos brasileiros). O siriri tem esses dois e o mocho.

Sebastião finaliza com a lembrança do auge dessa cultura e com a desesperança para o futuro. “cururu é mais na época do São João. Está acabando aquelas pessoas que conhecem o cururu, os jovens não estão muito interessados”.


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