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Interior

Mesmo ineficaz, cidade de MS compra 120 mil comprimidos de Ivermectina

Ao todo 120 mil comprimidos foram comprados pela Prefeitura de Rio Verde

Adriano Fernandes | 25/03/2021 22:57
Da esquerda para direita, vice-prefeito de Rio Verde, Réus Fornari ao lado do médico Luiz Eugênio Engleitne(Foto: Yhgor Chagas)
Da esquerda para direita, vice-prefeito de Rio Verde, Réus Fornari ao lado do médico Luiz Eugênio Engleitne(Foto: Yhgor Chagas)

A prefeitura de Rio Verde de Mato Grosso, a 207 quilômetros da Capital, decidiu investir dinheiro na distribuição de 120 mil comprimidos de Ivermectina à população, medicamento que é comprovadamente ineficaz no tratamento da covid-19. Até a própria empresa fabricante da droga já afirmou, em fevereiro, que não existem evidências que o medicamento traga benefícios contra a doença.

O anúncio da distribuição foi feito pelo vice-prefeito da cidade, Réus Fornari em live na noite desta quinta-feira (25), durante uma reunião promovida pela Associação Comercial de Rio Verde no plenário da Câmara de Vereadores. Os medicamentos serão entregues ao município na próxima segunda-feira (29), e em seguida serão distribuídos para todos os postos de saúde da cidade. O uso do medicamento não é obrigatório.

O cronograma de distribuição ainda está sendo formulado, mas na prática, qualquer morador que procurar uma unidade de saúde vai poder adquirir os comprimidos depois de passar por uma avaliação médica. Segundo o vice-prefeito os médicos usarão "balanças" para calcular a quantidade de comprimidos indicadas para cada paciente.

Em seu pronunciamento, Fornari recomendou o uso do medicamento por acreditar que ele “diminuiu a gravidade do vírus”. No entanto, entidades de saúde mundialmente reconhecidas como a Agência Europeia de Medicamentos, não aconselham o uso do fármaco no tratamento preventivo da doença assim como qualquer outro medicamento, uma vez que não existe tratamento precoce para a covid-19. Quem também participou da live e endossou o uso do medicamento foi o médico de Rio Verde, Luiz Eugênio Engleitne.

O profissional citou exemplo da África onde supostamente “o numero de caso é bem mais baixo”, porque a população consome o medicamento. A informação, no entanto, também não procede. Portais como o Uol e Revista Piauí já confirmaram que não há evidências científicas que comprovem que a pandemia da covid-19 na África esteja sob controle por causa da ivermectina.

O valor da compra dos medicamentos não foi divulgado. A reportagem não conseguiu contato com o vice-prefeito e nem com o prefeito de Rio Verde, Zé de Oliveira (MDB).

Ineficaz - A ivermectina é um medicamento utilizado para tratar infecções causadas por vermes e parasitas. Na sua versão veterinária, é indicado para acabar com sarnas em gatos e cachorros. No mês passado a farmacêutica Merck Sharp & Dohme, responsável pela fabricação da ivermectina, afirmou que não existem evidências sobre a eficácia do medicamento contra a doença e que não há nenhuma base científica que aponte efeitos positivos em pacientes.

Há dois dias a AMB (Associação Médica Brasileira) também divulgou boletim, assinado por 81 entidades médicas do País em que aponta a ineficácia dos medicamentos do chamado "kit covid", no tratamento da covid-19. Conforme a organização, drogas como a ivermectina, nitazoxanida, azitromicina, cloroquina e colchicina "não possuem eficácia científica comprovada no tratamento ou prevenção", seja na fase inicial ou nas fases avançadas da doença e, portanto, "a sua utilização deve ser banida das unidades de saúde".

Ao longo da pandemia, cidades como Itajaí, SC, distribuíram o medicamento para população. Mesmo assim o município liderou em 2020 o ranking de mortes causadas pela covid-19 entre os maiores municípios de Santa Catarina, com mais de 100 mil habitantes.

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