Índios ampliam ocupação e montam barracos em mais três propriedades
Agora são 13 sítios localizados na região norte de Dourados invadidos nos últimos dez dias; morador fotografou momento em que sua propriedade era ocupada, hoje de manhã
Índios que há dez dias ocupam propriedades rurais nos arredores da reserva de Dourados, a 233 km de Campo Grande, voltaram a invadir novas áreas na manhã de hoje (16). O proprietário de um sítio fotografou o momento em que o grupo entrava na propriedade, localizada na região norte da cidade, entre o anel viário e a aldeia Jaguapiru.
Segundo os moradores, agora são 13 sítios invadidos desde 5 de março, quando começaram as ocupações. Além de moradores da reserva local, o grupo é formado por índios de Amambai e Caarapó.
A Funai (Fundação Nacional do Índio) informou que os guarani-kaiowá reivindicam as terras há quase 50 anos. Estudos antropológicos começaram a ser feitos no local, mas foram suspensos em 2006.
Na sexta-feira (11), os proprietários dos sítios entraram com um pedido de reintegração de posse na Justiça Federal em Dourados. Ontem o processo foi encaminhado ao MPF (Ministério Público Federal), para um parecer.
Moradora cercada – A proprietária de um dos sítios onde os índios montaram barracos está cercada há quase duas semanas, mas reluta em deixar a propriedade, assim como fizeram outros moradores. O filho dela, que pediu para não ter o nome divulgado, disse ao Campo Grande News que sua mãe retirou o gado e equipamentos de maior valor e contratou seguranças para permanecer no sítio.
“Para minha mãe é muito triste ver tudo que construiu ao longo da vida ser destruído, depredado. Quando sair a reintegração de posse ela quer vender o sítio. Essas invasões vão ter reflexo muito ruim para nosso município, pois era a região de maior crescimento, próxima a vários condomínios e bairros de classe média e alta, além das grandes empresas que ali se instalariam”, afirmou ele.
Ele considera as invasões “uma afronta à sociedade e aos cidadãos de bem”. Segundo ele, os proprietários das áreas ocupadas ficaram “reféns de bandidos que entram em sua área, queimam, destroem tudo e você não pode fazer nada”.
O homem, que é servidor público, protesta contra o silêncio de autoridades locais e estaduais e do governo federal. “Até agora ninguém do governo federal, da Funai, do Ministério Público Federal ou da Polícia Federal se pronuncia. Em todas as portas que batemos, um empurra para o outro e ninguém quer se envolver com índio”, protestou.
Cimi denuncia ataque – Em seu site, o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) denunciou hoje que mais um índio teria ficado ferido durante ataque de seguranças e fazendeiros que protegem a fazenda Cristal, localizada ao lado da aldeia Jaguapiru, entre os municípios de Dourados e Itaporã. A área foi ocupada sábado, mas proprietários vizinhos reagiram e expulsaram os índios, que continuam na fazenda, mas na divisa com a reserva, longe da sede.
Citando depoimentos de supostas lideranças do grupo, o Cimi diz que ao taque ao rezador de 70 anos foi feito por homens que estavam em uma caminhonete. Ele teria sido atingido por um tiro de bala de borracha, mas não sofreu ferimentos graves.
No sábado, Isael Reginaldo Alves, 41, morador na aldeia Jaguapiru, foi socorrido a um hospital de Dourados, supostamente após ser ferido a tiros. Entretanto, o Campo Grande News apurou que os ferimentos foram superficiais, provocados por estilhaços de rojão.