Justiça acata denúncia contra 6 acusados de matar professores índios
Jenivaldo e Rolindo Vera desapareceram em outubro de 2009 em Paranhos. Até hoje, só o corpo de um apareceu. Fazendeiro e dois filhos, vereador e mais três pessoas são acusados de matar os índios e ocultar corpos
Quase 40 meses depois do desaparecimento de dois professores na comunidade indígena de Ypo'i, em Paranhos, no sul do Estado, seis pessoas se tornaram oficialmente réus pela morte e e ocultação dos corpos de Jenivaldo Vera e Rolindo Vera. Até hoje, só o corpo de Jenivaldo foi encontrado, mas as investigações da Polícia Federal e do MPF apontam que ele também foi morto e, na semana passada, a Justiça Federal acatou a denúncia, que envolve um vereador e um fazendeiro da cidade.
O MPF também informou hoje que pediu a abertura de novo inquérito para apurar a utilização de carros oficiais da Prefeitura para a invasão à comunidade indígena.
No processo já em andamento, foram transformados em réus seis pessoas, o dono da fazenda São Luís, onde os índios estão acampados, Fermino Aurélio Escolbar Filho; os filhos dele, Rui Evaldo Nunes Escobar e Evaldo Luís Nunes Escobar, o vereador e presidente do Sindicato Rural de Paranhos, Moacir João Macedo (PSDB), o comerciante Antônio Pereira e o ex-candidato a prefeito da cidade, Joanelse Tavares Pinheiro.
Como foi-Conforme a denúncia apresentada à Justiça, os dois professores foram mortos durante um ataque em que foram expulsos da fazenda São Luiz, reivindicada como de ocupação tradicional da etnia guarani-kaiowá na Fazenda São Luiz, em Paranhos, em 31 de outubro de 2009.
Conforme a denúncia, quatro dos réus, Evaldo, Moacir, Antônio Pereira e Joanelse , e outras pessoas ainda não identificadas, com o auxílio dos réus Fermino e Rui, chegaram ao local em caminhões e caminhonetes, fazendo disparos com pelo menos sete armas de fogo de vários calibres e agredindo o grupo de 50 indígenas.
De acordo com a denúncia, Mário Vera, à época com 89 anos, recebeu pauladas nas costas, ombros e pernas. Os dois professores foram mortos e os corpos, ocultados.
O corpo de Jenivaldo foi encontrado uma semana depois, em 7 de novembro, dentro no Rio Ypo´i, próximo ao local do conflito. O boletim de ocorrência, Jenivaldo “estava sem camisa, com cueca e calção, descalço, com perfuração de arma de grosso calibre frontal no peito e nas costas”.
A perícia comprovou que a morte foi causada por um tiro nas costas, que saiu pelo peito, provocando hemorragia fatal. Apesar das buscas realizadas pela Polícia com o auxílio do Exército e do Corpo de Bombeiros, o corpo de Rolindo não foi encontrado até hoje.
Retomada - Depois de expulsos em 2009, os indígenas guarani-kaiowá puderam voltar para a fazenda São Luís em 19 de agosto de 2010, amparados por decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que cassou ordem de reintegração de posse “até a produção de prova pericial antropológica”, ou seja, os estudos que confirmem os indícios de ocupação tradicional da região por aquele grupo étnico. Segundo o Tribunal, "existem provas de que a Fazenda São Luiz pode vir a ser demarcada como área tradicionalmente ocupada pelos índios".
Também por decisão da Justiça, o corpo de Jenivaldo foi sepultado na área, e está em um mausoléu construído pela família.
O processo contra os seis acusados está, neste momento, com o MPF, para tomar ciência de que a denúncia foi acatada. Depois, seguirá os tramites normais, de depoimentos da acusação, da defesa, até a fase de definição se os acusados serão levados a júri popular.