Médicos da Santa Casa de Corumbá anunciam pedido de demissão coletiva

A Santa Casa de Corumbá vai ter “apagão total” no atendimento médico em todas as especialidades a partir de janeiro, caso os problemas financeiros da unidade não sejam solucionados. A decisão do corpo clínico foi anunciada nesta quinta-feira (15) em ofício encaminhado à Prefeitura de Corumbá, cidade distante 428 quilômetros de Campo Grande, e ao Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, principais mantenedores do hospital, assim como outras instituições e órgãos estaduais.

“Caso não seja apresentada uma solução concreta e definitiva para atual situação catastrófica que se encontra a Santa Casa, o corpo clínico deixará de fazer parte das escalas de todas as especialidades médicas (cirurgia geral, ortopedia, clínica médica, cirurgia vascular, pediatria, ultrassonografia, ginecologia/obstetrícia, cardiologia, urologia e anestesia)”.

A Santa Casa de Corumbá é o único hospital público de média e alta complexidade da cidade e atende a macrorregião, o que inclui Ladário, a população pantaneira e também a área de fronteira, fatos citados pelo documento.

Mensalmente, o Governo do Estado repassa cerca de R$ 800 mil à unidade, já ao hospital  de Três Lagoas são repassados cerca de R$ 5,6 milhões, e ao de Ponta Porã R$ 5,4 milhões, sendo que esse último tem número menor de leitos que o hospital de Corumbá.

Ainda segundo o corpo clínico, somando os repasses federal, estadual e municipal, o orçamento total da Santa Casa atualmente é de R$ 2,7 milhões e, portanto, não cobrem os gastos do hospital, que atualmente tem despesas em torno de R$ 4,5 milhões por mês.

“Repasses realizados de forma esporádica, ‘para apagar fogo', não solucionam de maneira definitiva os problemas recorrentes da Santa Casa, havendo necessidade de repasses sistemáticos para o bom andamento do serviço”, diz o ofício.

Ainda de acordo com o corpo clínico, há falta constante de insumos, que gera dificuldades na realização de atendimento básico e digno ao usuário do SUS. Esse fato também gerou suspensão de procedimentos, não retorno das cirurgias eletivas, necessidade de trocas constantes de medicamentos no meio do tratamento, principalmente antibióticos, entre outras situações.

Lado da Prefeitura - Em nota, a Prefeitura de Corumbá informou que é obrigação dela o repasse mensal de R$ 799 mil. “Essa contratualização, inclusive, foi reajustada em junho deste ano, quando era de R$ 684 mil. Os valores que competem ao executivo municipal foram todos pagos e estão rigorosamente em dia. Além disso, com objetivo de prestar o melhor atendimento possível à população corumbaense, ladarense e aos bolivianos da faixa de fronteira, a Prefeitura repassou, no decorrer de 2022, o total de R$ 4,5 milhões a mais do que foi contratualizado”.

Segundo a administração municipal, esses recursos foram usados na compra de medicamentos e atendimento da folha de pagamento. “Ou seja, só em 2022, a Prefeitura já repassou para a Santa Casa R$ 13,3 milhões. A Prefeitura reforça que tem trabalhado incansavelmente para aumentar os repasses, melhorar o atendimento no único hospital público da região e para evitar que a população seja de alguma forma prejudicada”, finalizou em nota.

Governo do Estado - A SES (Secretaria de Estado de Saúde) também emitiu nota sobre a situação. Em um breve comunicado, afirmou que “a Associação Beneficente Santa Casa de Corumbá é uma instituição filantrópica administrada pelo município. Assim, as decisões administrativas cabem ao município respondê-las. A SES reitera que ao longo de 2022 repassou R$ 4,1 milhões como apoio extra para execução em ações de saúde destinadas à instituição via município e ressalta que os repasses contratualizados estão em dia junto à Santa Casa de Corumbá. A SES lamenta o ocorrido e espera que a situação seja resolvida brevemente”.

Leia no link a seguir a íntegra do ofício encaminhado pelo corpo clínico do hospital às instituições e órgãos estaduais: Ofício - Santa Casa de Corumbá.pdf