ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, QUINTA  21    CAMPO GRANDE 28º

Interior

Obra de indústria pode deixar legião de “filhos da celulose”, alerta sindicato

Suzano deve empregar 10 mil pessoas na construção e preocupação é com consequências sociais

Anahi Zurutuza | 30/08/2021 20:06
Local onde será construída fábrica da Suzano, em Ribas do Rio Pardo. (Foto: Saul Schramm/Governo de MS)
Local onde será construída fábrica da Suzano, em Ribas do Rio Pardo. (Foto: Saul Schramm/Governo de MS)

A construção da indústria de celulose, em Ribas do Rio Pardo - cidade a 103 km de Campo Grande -, pode deixar legião de filhos sem pai na cidade. O alerta, que pode parecer esdrúxulo, é do sindicalista José Lucas da Silva, presidente da Feintramag-MS/MT (Federação Interestadual dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso).

A explicação é simples: homens chegam à cidade para trabalhar na obra, acabam se relacionando com as mulheres da comunidade, mas com o fim da construção, partem para outros estados e as abandonam com os filhos.

A Suzano pretende contratar 10 mil trabalhadores para o canteiro de obras, conforme divulgado no lançamento oficial do projeto, em maio deste ano. Depois, a indústria empregará menos da metade – cerca de 3 mil –, quando entrar em operação.

Para evitar problemas sociais, como a explosão na taxa de natalidade e gravidez na adolescência, “Estado, município e a Suzano precisam traçar estratégias”, afirma José Lucas.

Pode parecer uma preocupação absurda, mas o sindicalista lembra que a cidade já passou por isso quando o gasoduto foi implantado em Mato Grosso do Sul. “Milhares de trabalhadores, muitos deles recebendo em dólares, se instalaram no município”.

Filhos de Itaipu - Outras obras grandiosas foram capazes de fazer a população de cidades mais que dobrar. Conforme levantamento feito pelo site The Intercept, a construção da usina de Itaipu fez a população de Foz do Iguaçu explodir: subiu de 35 mil em 1975 para 140 mil habitantes em 1984, datas do início das obras e do início das operações da usina.

“No mesmo período, cresceu também o nascimento de crianças sem o nome do pai no registro. Naquela década, o cartório de registro civil de Foz do Iguaçu anotou o nascimento de 4.280 crianças vivas e 134 natimortas sem paternidade definida – números pelo menos cinco vezes maior do que na década anterior às obras da usina hidrelétrica”, diz a matéria do jornal online.

A empresa - O Campo Grande News questionou se a Suzano têm programas de contribuição para o controle da natalidade no município, e em retorno, foram listadas medidas já realizadas em sua primeira sede, Três Lagoas, e que serão repetidas em Ribas.

"A Suzano têm total consciência de sua responsabilidade e compromisso junto a população de Ribas do Rio Pardo", diz a nota. Uma das providências, por exemplo, é dar preferência para a mão-de-obra local. "Mesmo antes do anúncio da construção da sua nova fábrica em Ribas do Rio Pardo, a empresa já vinha realizando uma série de estudos sobre os impactos da obra na comunidade e planejado ações efetivas para mitigá-los. Entre tais ações está o compromisso assumido junto ao poder público de valorizar e incentivar a contratação de mão-de-obra local pela própria Suzano, bem como pelas empresas parceiras que atuarão no empreendimento".

Outra medida, é instalar alojamentos em locais adequados, escolhidos junto com a administração do município. "Ciente da vinda de profissionais de outras localidades para posições que não são encontradas localmente, a empresa trabalhou, com o apoio do poder público municipal na escolha dos locais mais adequados para a construção dos alojamentos na cidade, e em acordo com o plano diretor do município", frisa.

A empresa ressalta que todos os alojamentos contam com total controle de acesso dos trabalhadores e, inclusive, controle de horários (entrada e saída de cada trabalhador).

"Reafirmando seu compromisso social com a população de Ribas do Rio Pardo, a empresa assina na próxima quinta-feira (2), o Termo de Compromisso com o poder público municipal do Movimento Agente do Bem", explica a Suzano na nota, que completa: "após a assinatura do termo de compromisso, os próximos passos do movimento incluem o mapeamento local que engloba levantamentos na gestão do empreendimento e no município para identificar vulnerabilidades e oportunidades de ações que passarão a integrar o plano do Agente do Bem".

Educação - Ainda dentro do tema, outro eixo de atuação da empresa no município é o Programa Suzano Educação, que foi estendido para Ribas do Rio Pardo nesse ano em função da construção do empreendimento. "O Programa Suzano de Educação investe na qualidade do ensino público, por meio do desenvolvimento profissional dos educadores e do envolvimento comunitário com foco na aprendizagem dos estudantes".

"A Suzano deixa claro que conta com o apoio de toda a comunidade para agir prontamente em caso de erros ou violações contra a moral e os bons costumes e que repudia veementemente todo e qualquer ato de violência, preconceito ou de discriminação", conclui a fábrica na nota.

Por fim, a indústria diz estar disponível para ouvir reclamações e receber denúncias. "Colocamos à disposição de toda a comunidade de Ribas do Rio Pardo o telefone e e-mail de nossa Ouvidoria:  0800 771 4060 ou pelo e-mail ouvidoriaexterna@austernet.com.br”.

Nos siga no Google Notícias