Posto alagado e único médico doente colocam aldeias Terena em emergência
Estrutura antiga dá a impressão de que o teto pode desabar. Dentro, chuva molhou medicamentos e aparelhos de ar condicionado
O polo base do Dsei (Distrito de Saúde Indígena) de Mato Grosso do Sul em Aquidauana, a 135 km de Campo Grande, ficou completamente alagado com a chuva que atingiu a cidade na quarta-feira (13). Com a unidade comprometida e medicamentos perdidos, há ainda outro problema para as aldeias Terena atendidas pelo polo: o único médico que atua na região está doente e vai ficar afastado por 12 dias.
Conforme apurou o Campo Grande News junto às comunidades, o profissional contratado pelo programa Mais Médicos foi diagnosticado com cálculos renais e precisou de atestado médico para se afastar do trabalho.
O polo base alagado é localizado na cidade e serve como central administrativa e de coordenação da equipe multidisciplinar, hoje reduzida a um médico e poucos profissionais, como uma enfermeira (há uma profissional afastada com atestado) e uma nutricionista. A sobrecarga de trabalho também tem sido relacionada ao adoecimento de profissionais, levantou a reportagem. Há pouco menos de dois meses dois médicos atuavam na região, mas um deles passou em concurso e pediu afastamento.
Agora as cerca de 11 aldeias (o número chega a ser maior quando o trabalho abrange territórios não demarcados pelo governo federal) e as mais de 7,9 mil pessoas estão sem nenhum profissional de medicina para realizar o atendimento na atenção primária no cerne da pandemia de covid-19. O trabalho da equipe é volante, ou seja, direto nas aldeias, onde os profissionais visitam os postos locais e atendem os moradores.
Estrutura prestes a desabar – Conforme as imagens recebidas pela reportagem, a chuva atingiu desde a sala onde ficam guardados os medicamentos até a enfermaria e provocou indignação entre os trabalhadores que citam problema histórico.
Aparelhos de ar condicionado foram molhados (dentro das caixas e novos, sem instalação), conforme apurou o Campo Grande News. O teto acima das caixas com os aparelhos dá a impressão de que vai cair a qualquer momento.
Ainda causa estranheza, do lado de fora do prédio, uma piscina cheia de água verde, abandonada, onde até plantas aquáticas se desenvolveram. O local que trata a saúde, dessa forma, tem criadouro próprio do mosquito aedes aegypti, causador da dengue e outras doenças infecciosas.
Coordenador do Dsei, sediado na Capital, o historiador Eldo Elcídio Moro disse que já deslocou equipes para Aquidauana e afirma que o processo de busca de uma sede, mais adequada à estrutura exigida para o trabalho, começou. Ele disse ter pedido à coordenação do polo base para procurar imóveis.
Segundo o coordenador, o aluguel do prédio atual gira em torno de R$ 3 mil. Muito antigo, o prédio já não tem condições para funcionar, disse Eldo. “Isso já chegou pra gente, nós já havíamos solicitado para administração local procurar um novo local, nossa equipe está descendo para Aquidauana para fazer a verificação disso [alagamento]. Como a gente sabe que há um problema que ocorre há algum tempo, estamos nos providenciando para que se localize um prédio com melhores condições”, comentou.
Ele afirmou que a principal exigência é que o imóvel tenha estacionamento que comporte as 7 viaturas da Sesai que ele garante estarem funcionamento atualmente. “O prédio é muito bom, pelo espaço, mas realmente precisa de reparos e é inviável fazer os reparos pela idade do imóvel”, disse.
Emergência – Eldo declarou que o Dsei vai buscar solução emergencial junto à Prefeitura de Aquidauana. Ainda assim, os relatos entre os índios envolvem dificuldade de atendimento em hospitais ou unidade que não sejam ligadas à Sesai. Eles citam o preconceito.
O coordenador do Dsei afirma que a solução no momento é buscar profissional que substitua emergencialmente o médico afastado enquanto o edital para contratação de novos profissionais não seja publicado. Ele também garante que os medicamentos danificados serão descartados e o estoque reposto com novos remédios.
“Nós estamos buscando viabilizar essa contratação de forma emergencial, a gente está correndo contra o tempo para poder atender a população, mas mesmo assim vamos buscar apoio junto à Prefeitura em parceria nesse momento até que haja a contratação. O procedimento é o descarte, o que comprometeu tem que ser descartado, e a reposição é feita assim que solicitado pela administração local”, comentou.
Coordenador do polo base, Antônio Mariano disse, ainda assim, que a busca por novo imóvel começou agora. Ele também alegou que a administração não tampou a piscina “porque precisa de autorização do dono”. Questionado sobre o pedido ao proprietário, disse não ter feito. Ele disse que o prédio já é alugado pela Sesai há mais de 10 anos.
“Hoje de manhã tivemos um contato com Campo Grande e estão pedindo essa busca por um novo prédio, estou em busca de preços, de orçamento, para enviar para Campo Grande. Estou correndo atrás agora. Só foi feito pintura uma vez só pelo dono e nunca mais. Para refazer uma reforma aqui é muito caro e não compensa porque o local é antigo”, comentou.