Conselhos para a vida profissional
(especialmente para profissionais liberais)
ÍNDICE
1. Para começar a conversa
2. Quanto mais cedo melhor
3. Qual o melhor curso de graduação?
4. Mente empreendedora
5. Qual seu perfil: operacional ou comercial?
6. “Prepare-se, depois case” ou “invista em sua formação, depois em bens”
CONCLUSÃO
1. PARA COMEÇAR A CONVERSA
Com alguma frequência, sou chamado para conversar sobre assuntos relacionados ao desenvolvimento da carreira profissional e às escolhas que isso envolve. Mesmo tendo pouco tempo para assuntos fora do mundo jurídico, preciso reconhecer que gosto de falar sobre esse tema e tenho satisfação em acompanhar o progresso das pessoas. A sabedoria judaica considera uma mitsvá (um mandamento) dedicar tempo para ajudar outros indivíduos. Esse conceito é denominado pelos rabinos como chessed, que ocorre quando você se dedica, com amor, ao próximo. É diferente de tsedacá, que está relacionado especificamente ao ato de colaborar financeiramente (escrevi um livro sobre isso, caso se interesse, pesquise no site ao final indicado). Os rabinos chegam a afirmar que a chessed é o que sustenta o universo.
Costumo dizer que existem três áreas da vida que impactam enormemente a existência de um ser humano: seu relacionamento com Deus; sua vida familiar e conjugal; e sua vida profissional e financeira. Quando um desses três aspectos não está “legal”, os outros são negativamente influenciados e significam uma felicidade incompleta, ou, às vezes, até uma infelicidade completa.
Vale lembrar que não sou coaching, não tenho formação nessa área e nem pretendo ter, pois dedico completamente meu tempo à advocacia, aos estudos jurídicos, religiosos e filosóficos, à família, além de, vez ou outra, à atividade física (por insistência de minha esposa). Por outro lado, posso garantir que já li e ainda leio uma quantidade razoável de obras que me deram alicerce para tomar decisões muito importantes na vida. Evidente que hoje reconheço a presença de Deus nas tomadas de direção, mesmo quando eu não percebia.
No decorrer deste texto, falarei sobre o que observo como “regra geral” e, em alguns casos, alertarei para as sempre presentes exceções. A “regra geral” é aquilo que, na minha visão de mundo, significa o caminho mais seguro e com maiores chances de êxito para os que o trilham.
No entanto, existem tantas e tantas ressalvas que, no final, o importante é percorrer um caminho que traga alegria e que não tenha como motivação principal o aspecto financeiro, mas sim a satisfação pessoal naquilo que se dispõe a fazer.
Como última observação antes de começarmos, relembro aos leitores que minha experiência está inserida no universo jurídico e, mais especificamente, na advocacia, sendo alguns princípios aplicados a quaisquer situações, e outros não. Cabe ao leitor, portanto, filtrar o que for pertinente para si.
2. QUANTO MAIS CEDO MELHOR
Legitimo a ideia de que quanto mais cedo você decidir o caminho que pretende trilhar, melhor será, pois se desde a adolescência já souber a profissão que deseja seguir, poderá escolher o curso universitário correspondente e realizar estágios que estejam em sintonia com o sonho almejado.
Tomemos como exemplo alguém que pretende a advocacia. Obviamente, será necessário concluir o curso de Direito e buscar estágios em escritórios de advocacia, porque quanto antes estiver inserido neste universo, mais brevemente começará a entender como funcionam suas engrenagens. Assim, a não ser que tenha como objetivo aumentar a rede de relacionamentos pessoais, não fará sentido trabalhar ou mesmo estagiar em comércio, empresas ou repartições públicas.
Quem pretende o caminho dos concursos públicos, por outro lado, precisa se inserir nesse meio. Caso não seja possível ingressar nos órgãos públicos através das seleções de estágio, busque ser voluntário. Iniciar nessa condição será muito valioso, pois é a oportunidade de mostrar suas habilidades e seu valor. Posso garantir que, se você “valer a pena”, dificilmente te deixarão ir, pois lido com a árdua realidade de encontrar profissionais de qualidade. Comumente, as pessoas agem como o servo inútil e infiel do qual Jesus falou, fazendo apenas aquilo que lhe foi solicitado. Poucos são os que se revelam proativos, prestativos e que possuem bom conhecimento geral, bom raciocínio lógico e boa formação.
Não se preocupe, pelo menos no início, com o conhecimento específico. De maneira geral, as pessoas têm prazer em ensinar a quem se mostra sinceramente interessado e capaz. Por outro lado, características como as que anteriormente citei dificilmente são ensinadas, já que, apesar de poderem ser desenvolvidas ao longo da vida, as pessoas não querem verdadeiramente mudar a forma de pensar e de agir.
Voltando para a realidade do concurso público, você, trabalhando de forma voluntária ou não em algum lugar que respeite a jornada de seis horas, terá as outras dezoito horas do seu dia para se dedicar ao estudo (ninguém disse que seria fácil), descontando-se apenas o estritamente necessário para outras atividades menos importantes nessa fase da vida como alimentação, esportes, lazer, relacionamento pessoal, relacionamento amoroso, descanso, etc. Digo isso para quem quer ser aprovado num concurso para um bom cargo. Não caia na besteira de pretender concurso e fazer estágio em escritório de advocacia, pois de duas uma: ou você será um mau estagiário, que faz somente o que te pedem, que chega no seu horário e sai correndo no “horário combinado”; ou então, você se dedicará de corpo e alma, ficando sem tempo e sem energia para os estudos voltados ao concurso, correndo o sério risco de se apaixonar pela advocacia e se “desviar” de seu caminho.
Esse é o caminho mais seguro, mas como eu disse, há muitas exceções que me fazem questionar se realmente existe a “regra geral”.
Existem grandes profissionais que antes de estarem nas profissões em que se destacam, fizeram coisas bastante diferentes. Há também aqueles que estiveram em ocupações que serviram de base para onde estão hoje. Essas experiências anteriores geralmente servem de duas formas:
1 – Para ter um conhecimento mais aprofundado daquilo que se faz no momento. Por exemplo, conheço conceituados médicos que foram fisioterapeutas, advogados tributaristas que foram contadores ou empresários, e assim por diante;
2 – Como essencial rede de relacionamento. O que acaba sendo uma fonte de clientela com a qual começam a carreira até se estabilizarem na vida profissional.
Seja qual for o motivo, boa parte das experiências anteriores são aproveitadas. Portanto, jamais é tarde para começar a trilhar o caminho em direção ao objetivo que se deseja alcançar. Repito, quanto antes se decidir sobre aquilo que pretende fazer na vida profissional, melhor, pois esse ainda é o caminho mais seguro.
No entanto, as exceções são muitas. Há aqueles que, mesmo após aprovados em bons concursos, “largam tudo” e se dedicam com grande sucesso à advocacia. Há aqueles que nem estudam tantas horas por dia e são surpreendentemente aprovados. Há também aqueles que possuem padrinhos fortes. Há, ainda, aqueles que nem chegam a terminar o ensino médio e se destacam na vida empresarial. Mas não se esqueça: são exceções!
3. QUAL O MELHOR CURSO DE GRADUAÇÃO?
Em determinado momento da vida é comum ficarmos em dúvida sobre qual graduação cursar e até mesmo se devemos realmente fazer alguma faculdade. Novamente volto para a questão daquilo que observo como “regra geral”, ou seja, aquilo que vejo ocorrer frequentemente e, por conseguinte, onde haverá mais chances de acertar, não deixando de ressaltar as comuns exceções.
Apenas uma ressalva inicial (mais uma dentre várias). Este capítulo retrata uma realidade típica de sociedades com grande desigualdade social, como a brasileira, onde ter acesso a um bom ensino faz grande diferença na vida financeira, perpetuando, assim, as injustiças sociais. Em muitos países europeus, não é tão grande a diferença de remuneração entre alguém com curso técnico e outro com graduação e pós-graduação.
Pois bem, via de regra, quem tem uma boa graduação, cursada em uma boa instituição de ensino superior, costuma ter uma vida profissional e financeira melhor do que aqueles que não concluíram qualquer faculdade.
Vale lembrar, contudo, que quem “faz o curso” é o aluno, ou seja, o mais importante é a dedicação e as solitárias horas de estudos. O professor insatisfatório de uma determinada disciplina presencial pode ser suprido com inúmeros vídeos na internet para complementar a aula ministrada em sala. Óbvio, contudo, que o ideal é um ótimo professor em sala de aula, não apenas lecionando bem, mas despertando nos alunos o interesse pela matéria e auxiliando-os na pesquisa científica.
Apesar disso, você me pergunta: “qual graduação devo fazer?”. O ideal é que, quanto antes, você passe a observar em quais áreas possui melhor desempenho. O que você gosta naturalmente de fazer? Não vale responder: jogar online com meus amigos. Não obstante, válido ressaltar que há muitas pessoas que trilharam esse caminho e que hoje são milionárias da informática (exceções). Durante o ensino médio, em quais disciplinas você apresentava facilidade? Isso pode dar uma pista. É melhor com literatura, história e redação, ou com física e matemática? Desperta seu interesse os seriados que se passam dentro de hospitais? Tem alguma aptidão para cuidar do familiar que fica doente? Sim? Talvez medicina seja o seu caminho. Tem habilidade com trabalhos manuais? Poderá ser um excelente cirurgião. Enquanto o professor de literatura está ensinando sobre determinado escritor, você “viaja” fazendo desenhos em seu caderno? Sim? Talvez arquitetura seja seu caminho. Gosta de filmes com tribunais? Advinha. Gosta muito de ler? Há muitas opções nas ciências humanas.
O ideal é que a escolha do curso, que pode representar a profissão que te acompanhará por toda a vida, seja baseada na vocação, naquilo que gosta de fazer e não no resultado financeiro que você espera de determinado ofício. Se, independentemente de ter ou não dinheiro, você faz o que aprecia, há uma boa chance de ser agraciado também com o sucesso financeiro, pois quando as pessoas percebem que você ama o que está fazendo sentem confiança em te contratar. Por outro lado, se o combustível for apenas o resultado financeiro, é de se esperar que quando atravessar uma época de pouco ou de nenhum dinheiro – situação comum na fase inicial da vida profissional –, você não consiga produzir ou se apresente desmotivado, sem o famoso “brilho no olhar” típico daqueles que amam o que fazem. Então, com um péssimo estado de ânimo como esse, o normal é que esse profissional não consiga progredir na carreira e permaneça estagnado.
Apenas aos meus filhos (portanto, não vale para o leitor), costumo dizer que gostaria que eles fizessem Direito, Engenharia Civil ou Medicina. E que a escolha fosse feita segundo os critérios indicados acima. Você pode se perguntar o porquê dessa visão tão retrógrada. Explico. Resido em uma cidade que, apesar de ser capital do Estado, ainda é bastante “interiorana” e “fechada”, de modo que apesar de muitas profissões serem fantásticas e importantíssimas, fico preocupado com o efetivo mercado de trabalho. Em cidades menos populosas, talvez sejam nessas três áreas que se concentram as maiores possibilidades profissionais. Além do mais, se não forem exercer a respectiva profissão, pelo menos servirá como excelente base para a vida empresarial, ou mesmo para qualquer outro caminho que escolherem.
Pois bem. Consideremos a Engenharia Civil. Ainda que você não exerça estritamente essa bela profissão (construção de casas, prédios, pontes, rodovias etc.), a forma de raciocínio desenvolvida ajuda bastante no mundo empresarial, aliás, não é por outro motivo que os executivos de muitas empresas possuem essa formação acadêmica. No Direito, há a possibilidade de vários excelentes concursos públicos, como também a própria advocacia. Mesmo que, porventura, pretenda empreender em outras áreas, não tenha dúvidas de que o conhecimento jurídico será relevante. Na medicina, as possibilidades são muitas também. Apesar de os médicos estarem sofrendo injusta desvalorização por parte do Poder Público, a verdade é que a medicina sempre será uma profissão das mais nobres e indispensáveis.
Digo para meus filhos que não deverão escolher uma das três profissões pensando no aspecto financeiro, mas sim, após analisarem as atividades que constituem a base de cada uma delas, sintam prazer em exercê-las.
Ainda sobre essas três áreas, quanto à perspectiva financeira, costumo explicar o seguinte: se você tiver mente de empregado, talvez o Direito seja a pior, a Engenharia ficaria num nível intermediário e a Medicina é a que mais paga bem no início da carreira. Nisso estou desconsiderando inúmeras variantes, como a possibilidade de ter na família alguém da área, de já ter uma empresa do ramo, de possuir contatos que poderão ajudar, entre outras. Estou falando para alguém sem qualquer “Q.I” (quem indique).
Ainda sobre a escolha da formação acadêmica, o mais importante é o que vou tratar no próximo capítulo.
4. MENTE EMPREENDEDORA
A cada dia tenho me convencido ainda mais de que a graduação escolhida é o aspecto menos relevante, sendo o mais importante aquilo que se costuma chamar de “espírito empreendedor”.
Vejo, não poucos, médicos, engenheiros e advogados tão subvalorizados, com salários que jogam por terra a ideia preconceituosa de existir uma “profissão certa”. Uma pessoa com boas ideias, coragem de arriscar, vontade de empreender e sem preguiça de trabalhar, independentemente de sua formação acadêmica, ou até se não a tiver, provavelmente terá “sucesso financeiro” (se é isso que você está buscando).
É a velha história: você monta uma padaria, cria uma maneira de atender bem os clientes e de fornecer produtos de qualidade com preço justo e, um dia, tem uma rede de padarias. Ou você abre um salão de beleza que um dia se torna um império. Talvez inicie um estúdio de musculação na garagem de casa e, “de repente”, está com uma bela academia. Ou quem sabe, resolve comprar algo para uso próprio e não encontra nada que goste e então, percebendo a oportunidade, começa a fabricar ou a importar um produto de qualidade e tem a sua vida transformada. Já pensou em começar a dar aulas de reforço em casa? Você pode um dia ter uma rede de escolas.
Óbvio que não é assim tão simples. Sei por experiência própria. Esse “de repente” geralmente tem embutido catorze horas de trabalho por dia, finais de semana de estudos e trabalhos, preocupações constantes, medos, incertezas, estresses, frustrações com a falta de envolvimento e interesse das pessoas ao redor, entre outros sofrimentos que só sabe quem chegou ou está tentando chegar lá.
Aliás, já que toquei no assunto das “pessoas ao redor”, vale deixar claro que muitas ou mesmo quase todas as pessoas querem chegar em um lugar de destaque, mas não querem fazer o que é necessário, isto é, “pagar o preço”. Quando se fala em dedicar-se também nas madrugadas, nos finais de semanas e nos feriados, costumam rejeitar a “dica” porque entendem que “merecem” ter uma vida equilibrada, com tempo para descansar e desfrutar de “qualidade de vida” (lazer, família, entretenimento etc). São pessoas que acreditam que, quando estão trabalhando em algum lugar, por não serem “donas”, precisam continuar pensando e agindo como empregados, sem saber que aqueles que vencem já pensavam e agiam como donos muito antes de sê-los.
O que essas “pessoas ao redor” mais observam é o sucesso financeiro, achando que isso é o que faz o empreendedor se dedicar tanto ao negócio. Coitados. Nem imaginam que geralmente o aspecto financeiro, apesar de importante, não é o principal combustível. Desconhecem que o prazer é ver algo realizado com maestria; um serviço de alta qualidade sendo prestado; um produto bem elaborado e apreciado; é ter uma empresa bem organizada; uma carreira solidamente estruturada, enfim, algo que se possa deixar como um bom exemplo a ser trilhado. É, acima de tudo, a satisfação em ver que fez algo de qualidade, que acrescenta a vida das pessoas e contribui para o progresso daquilo a que se dedicou.
Para pessoas com essa personalidade, não importa a formação acadêmica, nem mesmo se é graduado pela USP ou se fez curso à distância, porque sua forma de encarar o mundo fará com que alcancem o lugar que muitos sonham estar.
Entretanto, se o indivíduo não entende essa forma de pensamento e de postura, recomendo que procure estudar nas melhores instituições que puder, buscar as formações acadêmicas que sejam mais valorizadas pela sociedade e que suas escolhas estejam de acordo com aquilo que gosta de fazer, para que no futuro trabalhe sem que pareça estar carregando um fardo. Isso fará com que tenham bagagem educacional e, o dia que despertarem, alcançarão altos voos.
Em alguns casos, desde muito cedo já se percebe a mentalidade empreendedora. Sabe aqueles amigos que vendiam “gelinho” no bairro ou na escola? Aqueles que faziam pipa (pandorga) para vender? Então, muitos são os se tornarão empresários. Mas algo muito importante e acalentador precisa ser dito: essa mentalidade também pode ser descoberta em qualquer momento da vida, mesmo após estar há anos na fase dos “enta”. Isso porque o pensamento empreendedor pode ser desenvolvido de forma espontânea ou até mesmo forçadamente, a depender das várias circunstâncias e necessidades da vida.
Assim, enquanto você ainda não se descobriu com o viés empreendedor, estude, aprimore-se, dedique-se intensamente àquilo em que está inserido, faça sempre o melhor, pense e aja como se dono fosse, pois são essas as posturas mentais e as atitudes reais que o levarão aos lugares altos.
5. HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS
Independente da sua profissão, você deve começar se perguntando: o que eu pretendo? Por exemplo, se é da área jurídica: concurso ou advocacia? Se é concurso, qual o nível da carreira? Magistratura, Ministério Público, Procuradorias, Tabelionato, Registrador de Imóveis? Se seu plano é a Advocacia, em qual condição? Como sócio proprietário de algum escritório? Ou como associado, empregado, correspondente? Esses questionamentos são de suma importância, pois implicam diretamente no grau de comprometimento e de dedicação que serão exigidos.
Veja as inconsistências: quer ser aprovado num concurso para o Ministério Público, estuda poucas horas por dia e, pior, há dias em que sequer chega a estudar. Quer ser sócio de um relevante escritório, mas age como empregado ou como associado, trabalhando apenas nos horários “combinados” e quando sai do escritório “se desliga” de tudo e vai curtir o seu lazer. Ora, para evitar mágoas, nem vou dizer o que alcançará com esses dois exemplos de atitudes.
Enfim, continuemos com meus devaneios.
Se você é um profissional liberal, advogado, contador, dentista, engenheiro ou publicitário, e pretende ter seu próprio negócio, deve ter claro em sua mente o seguinte: ele só vai existir se houver uma figura importantíssima chamada “cliente”. A principal diferença entre um estabelecimento pequeno (o dono e a secretária) e outro com cem pessoas é a quantidade de clientes. Quanto menos clientes, menos pessoas para trabalhar. Quanto mais clientes, mais associados, empregados, secretárias, administrativos, etc. Essa é uma informação básica e escrevo para que fique claro. Então, se você quer ser sócio ou dono de seu próprio negócio já sabe o que precisa aprender a conquistar.
Nessa arte de conquistar clientes, abre-se um mundo.
Primeiro, devemos considerar que existem dois perfis bem evidentes de profissionais e ainda há um terceiro perfil, identificado como uma espécie de mistura. Tentarei explicar adiante.
Alguns possuem perfil técnico, isto é, operacional. Adoram trabalhar internamente. Sabem tudo do negócio ou produto. Para estes, o melhor lugar é na frente da tela do computador. Evitam contato com o público. Atender pessoas, só se já forem clientes e pretenderem apenas esclarecer dúvidas sobre o serviço ou produto que compraram. Isso porque conquistar a clientela não é com eles. Esses profissionais gostam de fazer especializações, mestrado, doutorado. Enfim, são excelentes para fazer o serviço propriamente dito. São operacionais.
Por outro lado, existem os profissionais liberais que possuem perfil mais comercial. É aquele que “coloca o cliente para dentro do negócio”. Geralmente não gostam de ficar trabalhando apenas de frente para o computador. Adoram atender clientes e ir a campo. Se for contador, prefere passar o dia visitando os clientes e ouvindo suas necessidades do que ficar na frente do computador lendo os novos manuais da Receita Federal. Se for advogado, prefere audiência à peticionar. Se tiver tempo para se preparar, não vê problema com a sustentação oral.
Esses profissionais, mesmo fora do horário de “expediente”, quando ouvem (e possuem “bons ouvidos”) alguém falando de certa situação em que é possível oferecer seu produto ou serviço, já ficam atentos e, se razoável, procuram se aproximar.
Esses “comerciais” são excelentes em levar serviço para os “operacionais”.
Apenas para ilustrar e descontrair, se fosse em uma Igreja, diríamos que os “técnicos-operacionais” são aqueles que ministram a Palavra e cuidam dos demais membros. Já os “comerciais” são os evangelistas e os missionários.
Conheço profissionais que apesar de possuírem excelente conhecimento de seu produto ou serviço e de saberem prestar um ótimo trabalho, por conta do perfil apenas “técnico” e por lhes faltar a habilidade para conquistar a clientela necessária para conseguir montar e manter seu próprio negócio, acabam trabalhando como empregados ou terceirizados. Por exemplo, há profissionais que desenvolvem sites maravilhosos, mas que “travam” quando estão diante de nós, clientes, tentando explicar seu funcionamento.
Um dos caminhos para os profissionais de perfil técnico (operacional) é buscar trabalhar em uma empresa com considerável porte, pois certamente terá condições financeiras e estruturais de valorizar satisfatoriamente seus profundos conhecimentos técnicos. Tratando-se de um advogado altamente especializado – com doutorado, por exemplo – e com poucas habilidades em relações humanas, ou seja, advogado “técnico”, precisará trabalhar em um grande escritório de advocacia, que tenha condições de corresponder financeiramente.
Outra opção para o profissional “técnico” é buscar um sócio que tenha o perfil “comercial”, onde possam trabalhar em conjunto: um trazendo os clientes e outro “tocando” os serviços. O sócio técnico deve ficar bastante atento para a forma como será combinada essa sociedade, pois os sócios comerciais tendem a crer que são mais importantes do que os sócios operacionais e, com o passar do tempo, podem acreditar que o técnico recebe muito (participação nos lucros) pelo que faz, pois por valor muito inferior poderia contratar bons profissionais técnicos para trabalhar.
Para os profissionais com “pegada” mais comercial, geralmente o caminho que percebo é o de montarem seus próprios negócios e colocarem os técnicos para realizarem o trabalho como empregados, associados ou também por meio de parcerias externas com terceirizados.
O perfil misto, às vezes, é fundamental, mas nem sempre. Explico.
Se é uma profissão que exige muita pessoalidade, é bom desenvolver uma personalidade que combine os dois perfis, ou seja, ser ótimo em relações humanas (comercial) e excelente técnico. Veja o caso de um neurocirurgião. Dificilmente ele conseguirá montar uma grande equipe onde seu renome traga muitos pacientes e outros (de seu time) realizem as cirurgias. Quem o contrata certamente, dada a delicadeza da situação, exigirá que seja o renomado profissional quem faça o serviço.
Contudo, em uma profissão com pouca pessoalidade – onde é possível que um profissional com perfil “comercial” conquiste uma grande quantidade de clientes e tenha os colaboradores “técnicos” para realizarem o serviço – o perfil misto é bom, mas não imprescindível.
Enfim, o “misto” é o profissional que tem bom conhecimento técnico dos serviços que presta, sabe realizá-los com maestria, mas ao mesmo tempo tem desenvoltura em atender e cativar clientes. Este sabe, portanto, passar a segurança necessária para fazê-los confiar na qualidade do serviço e trazê-los para dentro do negócio.
Então, a questão que cada um deve analisar é se em sua profissão um perfil apenas técnico é suficiente, ou só comercial, ou, ainda, se é necessário ter os dois. Caso identifique a necessidade de um perfil “misto”, deve verificar quais aspectos está faltando em si, e empenhar-se para desenvolver ou aliar-se com quem os possui.
Se sua profissão exige alta pessoalidade e sua personalidade é muito “comercial” e pouquíssimo “técnica”, você pode acabar limitando seu crescimento profissional porque conseguirá se desenvolver bem apenas em assuntos mais simples e com clientes menos exigentes. Entretanto, chegará um determinado momento em que suas habilidades “comerciais” não serão suficientes para te auxiliar perante uma clientela mais específica e exigente.
Observemos o caso de um arquiteto. Acredito ser uma profissão com alta pessoalidade, onde, ainda que o “famoso” tenha uma equipe para auxiliar, o cliente quer ser atendido por ele e não por alguém da equipe, quer debater cada aspecto do projeto com o “renomado. Em profissões com esse nível de pessoalidade, se alguém for apenas excelente “comercial”, ainda que seja ótimo para fechar negócios, se sempre precisar ter o “técnico” para qualquer conversa com o cliente, terá sua carreira profissional limitada, pois o cliente perceberá que quem entende do assunto é o outro e provavelmente indicará o técnico para possíveis outros clientes. A não ser, contudo, que se trate de uma sociedade e que o cliente veja os dois profissionais como uma coesa equipe.
Esse profissional com desenvoltura comercial pode buscar se aprimorar tecnicamente. Assim, deve estudar para atingir o equilíbrio ou reconhecer sua posição no tabuleiro e procurar se inserir em uma equipe onde possa atuar naquilo em que é bom.
Já para o “técnico”, que é a maioria, creio que há mais obstáculos a serem superados, pois precisará desenvolver habilidades que até então foram negligenciadas. Para conseguir, precisará de um firme propósito. Terá que aprender a ser simpático; sorrir; ter “jogo de cintura”; ser agradável; “quebrar o gelo”, transmitir confiança, demonstrar legítimo interesse e preocupação com o problema do cliente; ter “sangue frio” para suportar determinadas situações complicadas; fazer um pouco de autopromoção; sair da zona de conforto; arriscar ouvir não; ou seja, é necessária uma profunda transformação.
Enfim, com essa teoria das ideias de profissional “operacional” (técnico) e “comercial”, espero ter inspirado a autoavaliação de cada um, a fim de que compreenda para qual lado se está mais inclinado e, consequentemente, quais habilidades deverão ser desenvolvidas ou supridas em parcerias com profissionais que já as possuírem.
6. “PREPARE-SE, DEPOIS CASE” OU “INVISTA EM SUA FORMAÇÃO, DEPOIS EM BENS”
Preste atenção na lição de Provérbios 24:27: “Não construa a sua casa, nem forme o seu lar até que as suas plantações estejam prontas e você esteja certo de que pode ganhar a vida”. Esse é um valioso conselho do Eterno para as nossas vidas, tanto no aspecto pessoal como profissional.
Esse provérbio nos orienta a investir, primeiro, em nossa formação profissional ou em nosso negócio e só depois cuidar da vida pessoal.
Em que pese falar especificamente de casamento, o objetivo dele é alertar sobre o consequente aumento do custo de vida e sobre a mudança de prioridades que podem ocorrer ao contrair matrimônio, pois com as novas preocupações conjugais, pode-se deixar de lado a construção de uma carreira que serviria justamente para possibilitar as condições financeiras necessárias para um maior conforto e bem-estar da própria família e para ter capacidade de ajudar outras pessoas.
Tendo por base essas premissas, se a pessoa tiver a graça de encontrar alguém que, ao invés de dividir, some ou até multiplique as energias, certamente que o casamento é benção em qualquer fase da vida, mesmo antes de ter alcançado o lugar profissional que pretende. Um bom relacionamento é aquele em que um é o esteio e o incentivador do outro. Aliás, melhor dois, do que um.
Espero ter deixado claro que o problema não é, de modo algum, o casamento em si, mas a absorção de quaisquer compromissos, inclusive financeiros, conjugais etc., que signifiquem dispersão de foco num momento em que precisa se dedicar ao seu próprio desenvolvimento profissional. Exemplo clássico é o jovem bastante estudioso e bom aluno que começa namorar justamente na fase do ENEM e, quando não é uma companheira igualmente dedicada, acaba não conseguindo a aprovação que pretendia e que tinha toda condição de conquistar.
No caso do recém-formado, quando ele recebe um incremento na renda ou um dinheiro extra, se realmente se preocupa com o seu futuro, seu investimento deve se concentrar em realizar um bom curso de pós-graduação, de mestrado, de doutorado, de oratória, de persuasão, ou seja, destinar seus recursos ao seu crescimento profissional e pessoal, pois isso nunca lhe será retirado.
Eu sei que fazer um ou outro curso aparentemente, não muda muito a situação, por isso é mais tentador fazer algo mais imediato com o dinheiro extra. Entretanto, deve-se ter em mente que é o acúmulo de conhecimento, de cursos concluídos, de palestras, de congressos, de livros lidos, dentre outros, que paulatinamente fará a diferença. A formação leva tempo e exige investimentos.
Óbvio que, em muitos casos, é necessário ter um veículo, e no caso de alguns profissionais liberais um bom veículo é imprescindível. Ter um local para residir também é importante. Nesse sentido, não tenho condições de avaliar a situação de cada pessoa, porém, deve haver um equilíbrio entre o que realmente é necessário e o que é supérfluo. Será que o carro que possui já não está suficiente? Será que realmente precisava parar de pagar aluguel nesse momento? Não seria melhor investir o dinheiro em um curso no exterior?
Deve-se ter em mente que depois de ter conseguido uma sólida formação (pós-graduação lato sensu, mestrado, doutorado, cursos de extensão etc.) e ter desenvolvido habilidades necessárias para a vida profissional (oratória, redação, argumentação, apresentação em público etc.), a aquisição de veículos, de imóveis, de eletrônicos, dentre outros, será apenas um detalhe.
Entretanto, quando se inverte essa lógica, aumentando-se o custo de vida, a consequência é que os investimentos no desenvolvimento pessoal e profissional tendem a diminuir, pois há o IPVA, o IPTU, o condomínio, a revisão, a manutenção e tantas outras coisas que se tornam obrigatórias.
Quando se percebe, já se está formado há anos e com a vida profissional estagnada, daí a culpa é do governo, do patrão, do cônjuge, dos pais, do mercado e de tantos outros. Aliás, como a culpa é da pessoa, ela imputa a quem quiser, correto?
CONCLUSÃO
Como disse no início, neste texto procurei expor alguns pontos que vejo apenas como “regra geral” ou que “geralmente acontece assim”, mas alerto para a existência de exceções em cada ponto que abordei. A ideia do texto foi expor meu ponto de vista e ajudar com algum conselho baseado na experiência pessoal. Procurei lastrear minha vida percorrendo o caminho com maiores possibilidades de acertos (foco, estudo, trabalho, dedicação), por me sentir pouco à vontade em ficar à mercê de eventualidades, casos fortuitos, exceções. Aliás, como saber se seremos uma exceção e conseguiremos fazer algo de bom, útil e relevante, mesmo sem termos foco, sem estudarmos muito, trabalharmos bastante e nos dedicarmos completamente?
Enfim, espero que este texto ajude quem aprecia conselhos práticos e sinceros para a vida profissional. Nem todo mundo tem pais, familiares ou amigos em condições de dar uma boa e sincera orientação. Às vezes vejo pessoas que possuem grande inteligência e potencial, porém estão com a vida profissional estagnada justamente por pensamentos errados ou mesmo por falta de um direcionamento.
Sei que deixei de abordar inúmeros aspectos e que existe muito a ser dito. Mas o objetivo foi escrever um texto curto e direto, que poderá eventualmente ser incrementado no futuro.
Importante lembrar que Deus, o Eterno, é o melhor coaching que podemos ter e que, por meio de sua Palavra, a Bíblia, e das orações, mesmo em meio a ambientes que, para nós, são de incertezas, perigos e, às vezes, de desânimo, Ele nos orienta e nos conduz pelo melhor caminho. É o que garante o Salmo 32:8: “O SENHOR Deus me disse: “Eu lhe ensinarei o caminho por onde você deve ir; eu vou guiá-lo e orientá-lo."
Forte abraço, Henrique Lima.
HENRIQUE LIMA
Advogado (www.henriquelima.com.br). Mestre em direito pela Universidade de Girona – Espanha e pós-graduado em Direito Constitucional, Civil, do Consumidor, do Trabalho e de Família. Autor de livros e artigos, jurídicos e sobre temas diversos. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/5217644664058408