Em Roma como aqui: sexo na política, trânsito, latrinas...
É tentador pensar nos antigos romanos como uma versão de nós mesmos. A vida em Roma tinha aspectos que nos são muito familiares. Viver em uma capital com um milhão de habitantes, a maior aglomeração urbana no Ocidente até o século XIX, apresentava problemas que nos são muito conhecidos: desde a paralisia do tráfego (uma lei impedia veículos pesados circularem no centro de Roma durante o dia) até problemas idênticos aos atuais de urbanismo (qual altura para construir prédios no centro e nos bairros).
Leis inúteis e corrupção.
Os políticos romanos tinham todo tipo de preocupações. Escreveram e aprovaram infinitas e inúteis leis tentando resolver problemas insolúveis. Também criaram uma imensa gama de leis e punições para os políticos e funcionários públicos que enchessem os bolsos com dinheiro público. Parece que havia poucas exceções. Até Marco Túlio Cícero, político, poeta, filósofo e piadista, tido como de reconhecida honradez, deixou um cargo público no exterior com uma pequena fortuna na maleta.
A relação entre sexo e poder.
Hollywoodiana é a ideia que fazemos dos bacanais romanos. A impressão que passa é que todo e qualquer cidadão romano participava dessas festas regadas a sexo e vinho. Nada mais errado. O romano médio era puritano. Fazia piadas sobre os costumes gregos de homens idosos terem relações com meninos. Mas os bacanais dos poderosos eram reais, gastavam muito dinheiro público com mocinhas. E essas práticas influenciavam eleições. As regras da democracia romana eram muito semelhantes às atuais. E, ao contrário dos gregos, odiavam ditadores, ainda que fossem governados por autoritários famosos.
Latrina por todos os lados.
"Me encanta esse lugar", exclama Mary Beard, a maior estudiosa dos costumes romanos. O "monumento" a que ela se refere são as latrinas públicas. Defecar, para os romanos, não era sempre um assunto privado. Compartilhavam conversas, comentários, política, negócios e até uma esponja unida a um pau, que utilizavam para limpar-se. Algo que na atualidade se consideraria nem um pouco higiênico. Mary Beard afirma categoricamente que se queremos entender a cultura de um povo temos de conhecer suas latrinas. No centro de Roma havia 144 latrinas. Diz ela que não é possível sabermos quantos assentos tinha cada uma. Também não é possível saber se eram mistas. Mas não há dúvida de que eram muito avançadas quando comparadas com outros povos. Basta comparar com nossos reizinhos Pedro I e Pedro II. Mil anos depois, continuavam defecando no mato. Ou com a atual Campo Grande, onde temos - funcionando eventualmente - uma só latrina pública.