Época enlouquecida. O valente hoje é estar em posição moderada
Vivemos em uma época de extremismos. A busca da identidade ocupou o lugar das rebeliões dos séculos passados que eram mais sociais e emancipadoras. Começou com o fim do comunismo, a queda do muro de Berlim. Nesse momento, ficou claro que o maior movimento de emancipação fracassou. Havia se convertido no contrário, um movimento que pôs fim às liberdades, eram (ainda resta Cuba e Coreia do Norte) apenas ditaduras. Já não há um destino coletivo de emancipação
Existem raças?
Há extremismos em todos os lados. Veja o que sucede com as reivindicações identitárias negras. Há uma primeira etapa que é a da emancipação, a igualdade, ligada a uma luta social. Nela, eu, um branquelo, sou bem aceito. Mas há outra etapa em que ocorre um extremismo racial. Onde eu não tenho direito de participar em um combate antirracista. É uma ignorância em debate. Cientificamente, raça não existe. As raças estão apenas na cabeça dos racistas, sejam de esquerda (aqueles que dizem que os brancos não podem participar dos movimentos antirracistas) ou de direita (que atacam todos aqueles que não forem brancos).
Falar desde lugar algum.
Há uma interrogação dos anos setenta do século passado que retorna nos debates do século XXI: "Desde onde você fala?" Quer dizer: o discurso deve se originar, ser condicionado por nossa posição ideológica, social, biográfica... Eu falo desde lugar algum, não admito qualquer grilhão ideológico. Apenas humanista, um tanto conservador (envergonhado dos fatos recentes). O fato é que os extremistas de esquerda se alimentam daqueles de direita. E vice-versa. Mas, ainda que não sejamos todos iguais, há muito em comum para todos, há definições claras de humanidade. Basta pensar no inverso do humanismo: o egoísmo, a misantropia, a antropofobia, o exclusivismo. A esperança nos guiará. Os extremos pertencem aos velhos. Não há jovens deles participando. A moderação ressurgirá.