Meio macaco, a refeição dos primeiros paulistas no Pantanal
A vida dos primeiros paulistas que chegaram no Mato Grosso do Sul era de sacrifício e extrema penúria. Reveses constantes forçavam pousos mais longos. Era hora para secar as roupas encharcadas na travessia de algum lamaçal, curar os pés rasgados por paus e espinhos e aguardar a chegada de algum companheiro retardatário. Pelejavam diariamente com as sangrias, pulgas, sarnas de carrapato e a profusão de onças. Estas eram tantas que, "além das que se mataram", e das "que fugiram", causava admiração ver a "terra revolvida pelas unhadas delas, como se fora cavada com enxadas", narra um documento da época.
Chegaram no Pantanal.
Em pleno Pantanal, sem terra por perto, houve noite em que tiveram de dormir nas árvores ou nas canoas, comendo meio macaco, muitas formigas, um pouco de farinha e marmelada rançosa. Depois de tantas agruras, uns poucos palmos de chão seco parecia a terra da Promissão. Estendiam os toldos para se abrigar de chuvas e acendiam as fogueiras para enfrentar o frio e algum animal.
A solene ceia de Natal.
O Natal, por ser tão solene, foi festejado com quatro macacos preparados de quatro modos diferentes. Mas nem todas as refeições eram tão pobres. Bastava colocar uma luz no centro da canoa para que os piabuçus e as piracanjubas saltassem mais facilmente para dentro dela, dando um bom jantar.
Dormiam em declives.
As tropas de paulistas que chegavam ao Pantanal dormiam quase sempre ao relento, nem tempo tinham de armar as tendas. Batiam estacas à beira de algum córrego a fim de, nelas, amarrar seus animais. Para acomodar seus corpos, cargas e provisões, preferiam os declives, por onde, em caso de chuva forte, as águas podiam escorrer mais facilmente. Se juntavam à noite para fumar, conversar e arriscar alguma cantoria. E sonhar com uma de suas principais alegrias: uma rapadura.
E surge Albuquerque, o assentamento que originou Corumbá.
Depois de muitos paulistas chegarem ao Pantanal, em 1.778, surgiu, na margem direita do rio Paraguai, o pouso de Albuquerque, onde se desenvolveria a cidade de Corumbá. Era constituído por um grande pátio fechado "com casas em torno, formando quatro lances e um portão em frente ao rio". Roças de milho e feijão bastavam para os duzentos moradores e mais os navegantes que pernoitavam. Era um oásis de fartura.