Não chegar ao fim do mês. A classe média esfumaça

Guedes foi cuidar de sua fortuna pessoal e desapareceu. Com ele, as esperanças dos mais ricos de terem lucros estratosféricos, murcha. Iniciamos a era Haddad. As perspectivas, as promessas são de melhorias para o lado oposto da pirâmide social: os mais pobres receberão substânciais auxílios governamentais. Mas, onde fica a classe média nessa gangorra econômica? Estava na posição de não chegar ao fim do mês. Tudo indica que permanecerá na mesma situação ou será ainda mais penalizada.

Todos entendem o que é classe média, ninguém a define.

A classe média: basta pronunciar para essas palavras para que todos entendam a que nos referimos. Mas ninguém sabe defini-la com um mínimo de precisão. É um conceito volúvel, extremamente flexível....quase mágico. Estima-se que a classe média brasileira caiu de 51% em 2020 para 47% em 2022. No "chutômetro" governamental, teríamos algo como 100 milhões de brasileiros vivendo na classe média. Vale repetir: não passa de chute. Muitos pobres preferem pensar que são de classe média baixa. Alguns ricos preferem se livrar da má fama dos afortunados brasileiros e maquiar sua posição social afirmando que são de classe média alta.

A obsessão dos partidos por seduzir a classe média.

Os grandes partidos políticos vivem obsessionados por seduzir a classe média. Significa moderação, bem estar, modernidade e consumo. Significa, família, sonhos, casa própria, carros e aparelhos domésticos. Cartão de crédito livre de dívidas. Mas que demônios, afinal, é essa tal de classe média? Neste momento, e apenas neste momento histórico, é certo que seja o que for, está vivendo sob fortes tensões. Está em um torniquete, mais apertada que parafuso de roda de carro.

Brevíssima história da classe média.

A classe média sempre existiu. Aristóteles já escrevia em livro "Política" que uma sociedade bem governada deveria ter uma ampla classe média que seria a vértebra da "polis", da cidade, da comunidade. Seria a responsável de evitar a discórdia social. Até Karl Marx, o sujeito que estabeleceu a claríssima divisão entre burguesia e proletariado - leia-se ricos e alguns pobres - como antagonistas, aceitava a existência de uma classe média. De acordo com esse alemão extremista, a classe média não seria relevante, formada apenas por pequenos artesãos independentes.

Crise no passado e no futuro.

Historicamente, a classe média só adquire importância depois da Segunda Guerra Mundial, com a erupção dos Estados de bem estar social, especialmente dos localizados na Escandinávia. Uma grande jogada do capitalismo ocidental para distanciar os trabalhadores dessa região dos cantos de sereia da União Soviética, localizada em suas vizinhanças. É a única etapa da história que alguns povos alcançaram alta coesão social e conseguido limar a desigualdade. A regra sempre foi, e tende a permanecer: a classe média não chega ao fim do mês. Com ela em crise, os governos também tem dificuldade a chegarem a bom final, também entram em crise.