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Direto das Ruas

“Ninguém pega covid aqui”, diz médico que mandou fiscalização “tomar no c...”

Defensor da cloroquina, Iliê Basso xinga fiscais que apuravam denúncia de desrespeito ao toque de recolher

Anahi Zurutuza | 01/06/2021 13:55
Iliê Vidal Basso palestrou sobre o tratamento precoce em transmissão ao vivo no dia 30 de março, ao lado do deputado federal, Luiz Ovando (PSL) (Foto: Reprodução)
Iliê Vidal Basso palestrou sobre o tratamento precoce em transmissão ao vivo no dia 30 de março, ao lado do deputado federal, Luiz Ovando (PSL) (Foto: Reprodução)

Defensor da cloroquina como forma de tratar precocemente a covid-19, médico de Rio Brilhante foi filmado desacatando equipe da Vigilância Sanitária que o flagrou reunido com amigos fora do horário do toque de recolher na cidade. O vídeo em que Iliê Vidal Basso, 35 anos, xinga os fiscais está circulando em grupos de WhatsApp e foi tema de debate em sessão da Câmara Municipal.

A “batida” da equipe que fiscaliza o cumprimento do toque de recolher foi na quarta-feira passada, dia 26, conforme notificação publicada no Diário Oficial do Município dessa segunda-feira (31). Em Rio Brilhante, o prefeito Lucas Centenaro Foroni (MDB) determinou que a população fique em casa das 19h às 5h. A medida foi tomada no dia 19 de maio.

Conforme a publicação, a abordagem da Vigilância Sanitária na casa do médico foi feita após denúncia, perto das 21h. No vídeo, Basso parece alterado desde o primeiro contato com os fiscais.

Ah é? E vocês estão dando cloroquina pro pessoal que está com covid aí? Eu sou médico... Tem mais de ano que estou dizendo que tem de dar remédio para as pessoas... Alguém já me ouviu aqui nessa merda? Teve que vir o Luiz Ovando [deputado federal do PSL] fazer live aqui”, são algumas das frases ditas por Iliê Basso aos servidores.

Alguns dos amigos do médico também vão até o portão para entender o que está acontecendo e ele continua gritando. “Estão dando a cloroquina pra alguém? A vitamina D? Estão dando o tratamento certo? E agora vem me encher o saco aqui na minha casa? Que ninguém pega covid aqui. Não aguento esse povo filha da p... vai tomar no c... Some da minha casa”.

Um outro homem assume a “linha de frente”, conversa com a equipe da Vigilância Sanitária, mas ainda é possível ouvir a voz de Basso no fundo, chamando os fiscais de genocidas e falando algo sobre as vacinas que estão sendo aplicadas na população serem “assassinas”. Veja:


Por fim, os servidores deixam o local informando que farão a autuação do morador da cidade por descumprimento do toque de recolher.

No parlamento – A polêmica foi parar na sessão da Câmara. Na sessão remota de ontem, o vereador Venizelos Papacosta Neto (PSL), primo do médico, saiu em defesa do parente. Usou sua vez de falar para dizer que entendeu o ocorrido como um desabafo por parte do profissional de saúde que foi impedido de atuar como acredita, receitando para seus pacientes o tratamento precoce com a covid-19.

Ele se refere ao fato de o médico ter deixado o atendimento em setor do Hospital de Rio Brilhante, onde estaria proibido receitar o “kit covid” para pacientes. “Ele estava salvando vidas”.

O vereador Adão Pereira Leite (DEM) discorda. “Quero repudiar a atitude do médico, que foi irresponsável na sua atitude. Nunca foi impedido de aplicar, de receitar, a secretaria só não adotou como protocolo”, afirma.

O democrata ainda faz observação sobre a nova crescente da pandemia em Mato Grosso do Sul. “Muitos dos negacionistas, hoje estão ocupando uma vaga de hospital. Ele é inconsequente”, completa o comentário sobre o médico.

Outro lado – Ao Campo Grande News, Iliê Basso diz estar sendo vítima de perseguição política. “O que aconteceu é que sou médico aqui na cidade, trabalhei no setor covid por muito tempo, mas os outros médicos tiraram o tratamento precoce e eu pedi demissão. O pessoal da prefeitura é de esquerda, são do MDB, meio petistas. O pai do atual prefeito está me denunciando toda semana para o Ministério Público, porque eu passo cloroquina”.

O médico defende que o tratamento precoce salva. “Rio Brilhante agora deve ser a cidade onde mais morre gente. Morreu 30 esse mês aqui e a lógica deles é fazer lockdown, mas não dão os remédios que curam a covid”.

Basso afirma que após partidas de tênis, na quarta passada, convidou cinco ou seis amigos para um churrasco. Ele acredita que a Vigilância Sanitária estava de prontidão para “pegá-lo”. “Todo dia estavam vindo aqui para me pegar. Já chegaram filmando a minha casa”.

O profissional de saúde diz estar pronto para se defender formalmente e afirma que se continuar sendo perseguido, não vai recuar. Diz que nunca teve pretensões políticas, mas é capaz de se candidatar para enfrentar “rivais”. “Vou sair candidato a prefeito. Tenho dinheiro, tenho muito dinheiro”.

O médico é concursado do município de Rio Brilhante e atende no hospital da cidade, além de dar plantões em UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Dourados.

Conforme boletim epidemiológico da SES (Secretaria Estadual de Saúde) desta terça-feira (1º), Rio Brilhante teve 77 confirmações de infectados com o novo coronavírus de ontem para hoje - são 4.170 positivos desde o início da pandemia. A cidade fica em 10º lugar no Estado com o maior número de pessoas diagnosticadas com a covid-19. Também de março do ano passado até agora, 57 moradores da cidade morreram por consequência da doença.

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