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Economia

Quem vive de salário mínimo trocou gás por lenha e já cortou até o pão francês

Arroz com ovo, bolinho frito e leite caipira são opções de quem ganha R$ 1.212 por mês

Caroline Maldonado e Cleber Gellio | 09/05/2022 12:15
Dona de casa Eva Conceição da Rocha, de 55 anos, ferve água no fogão a lenha de casa, no Bairro Nova Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)
Dona de casa Eva Conceição da Rocha, de 55 anos, ferve água no fogão a lenha de casa, no Bairro Nova Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)

Para as famílias que vivem de salário mínimo a inflação é tão cruel que já cortou até o pão francês do café da manhã. Arroz com ovo e bolinho de arroz são alternativas na casa de quem já trocou, no almoço, a carne vermelha pelas de frango e de porco. Quem vive com apenas R$ 1.212 por mês e tem filhos, geralmente, aceita ajuda de amigos e parentes para dar conta de pôr comida na mesa.

No Bairro Nova Campo Grande, a sorte no caso da dona de casa Eva Conceição da Rocha, de 55 anos, é que o marido é pedreiro e trabalha em uma fazenda. De lá, ele traz algumas doações do patrão, vez ou outra.

A renda dele é de um salário mínimo e a dela também, mas Eva já teve que fazer um empréstimo e recebe metade do valor todos os meses. O dinheiro do casal sustenta o filho, a nora e a neta. Outro filho que mora no mesmo terreno, ajuda nas despesas. O gás de cozinha, ela usa pouco, porque o marido já construiu um fogão a lenha para economizarem.

Dona de casa Eva Conceição da Rocha, de 55 anos, na varanda de casa. (Foto: Marcos Maluf)
Dona de casa Eva Conceição da Rocha, de 55 anos, na varanda de casa. (Foto: Marcos Maluf)

Pão a gente não compra mais. Tenho feito outras coisas que saem mais barato. Faço arroz com ovo de manhã para todo mundo. Tenho que gastar cerca de R$ 80 com remédios que preciso também. Parece pouco, mas para quem ganha um salário faz diferença. Se não fosse meu outro filho ajudar e o fato do meu marido trazer alguma carne da fazenda, aí seria mais difícil ainda”, conta Eva.

Do outro lado da cidade, a rotina é parecida e o tradicional pãozinho também já foi vitimado pelo aperto no orçamento doméstico, na casa da auxiliar de limpeza Ana Letícia dos Santos Jesus, de 28 anos.

Ela mora no Bairro Tiradentes com o marido Jean Carlos Rolon, de 30 anos, que é servente de pedreiro. Na casa, há dois filhos do casal e mais dois de relacionamento anterior. São quatro crianças, de 11, 8 e 6 anos e um bebê de 11 meses. A pensão de outros dois filhos já leva parte do salário dele.

Com o aluguel, lá se vão mais R$ 470. Contas de água, energia e telefone levam mais R$ 400. O que sobra vai em medicamentos com a filha que ficou doente.

Auxiliar de limpeza Ana Letícia dos Santos Jesus, de 28 anos, no quintal de casa no Bairro Tiradentes. (Foto: Cleber Gellio)
Auxiliar de limpeza Ana Letícia dos Santos Jesus, de 28 anos, no quintal de casa no Bairro Tiradentes. (Foto: Cleber Gellio)

No café da manhã, não tem mais pão. Faço um bolinho de arroz e coisas caseiras. Priorizo muito a alimentação das crianças. O restante a gente vai deixando de comprar, como roupa e sapato”, relata Ana.

Ela vai contando as estratégias para dar conta de viver com o salário mínimo, afetado pela inflação que bateu recorde em março. A alta nos produtos foi de 1,62%, a maior para o mês de março em 28 anos, desde o início do Plano Real, em 1994, mesmo ano em que Ana Letícia nasceu. Enquanto isso, Campo Grande teve a 4ª maior alta do Brasil, com aumento de 1,73% no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“Compro leite caipira de um senhor que traz do sítio. A garrafa de 2 litros sai por R$ 8. Já é uma economia, porque no mercado é mais caro. Também vendo título de capitalização, mas é bem pouquinho o lucro. O bom é que sempre pego uma cartela e vai que dou sorte.”

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