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Economia

Raio-x da pobreza: 32% de crianças e adolescentes sofrem por falta de dinheiro

Em MS, os piores indicadores são referentes à renda e ao saneamento, conforme estudo da Unicef

Caroline Maldonado | 14/02/2023 12:53
Crianças em favela de Campo Grande (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Crianças em favela de Campo Grande (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

Não é só a renda que conta, por isso um estudo do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) apresenta um raio-x da pobreza entre crianças e adolescentes no Brasil, destacando também números de outras sete dimensões: alimentação, educação, trabalho infantil, moradia, água, saneamento e informação. Em Mato Grosso do Sul, os piores indicadores são referentes à renda e ao saneamento.

Em MS, 32,7% dos moradores de 0 a 17 anos sofrem com alguma privação de renda. Há estados em situação muito pior, a maioria nas regiões Norte e Nordeste. O indicador mais baixo é de Santa Catarina, com 16,7%. O pior é o Maranhão, com 69,3%.

A pesquisa “As Múltiplas Dimensões da Pobreza na Infância e na Adolescência no Brasil” divulgou nesta terça-feira (14) os números da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), categorizando por casos sem privação, de privação intermediária e de privação extrema de cada uma das dimensões.

Dimensões da pobreza - Em MS, 4,9% das crianças e adolescentes sofriam com alguma privação no direito à educação em 2021. Em todo o Brasil, o índice passou de 2% para 3,1%, o que representa aumento de 55%. Os demais estados do Centro-Oeste, além de Sudeste e Sul apresentam percentuais menores, ou seja, menos pessoas com essa privação.

Entre crianças e adolescentes de 10 a 13 anos, em 2019, 7% exerciam algum tipo de trabalho infantil em MS. O Estado com pior desempenho nesse quesito foi o Amapá, com 16,8%. O Rio de Janeiro teve 1,8%, seguido de Rio Grande no Norte e Goiás, ambos com 3,3%.

Na privação de moradia, MS apresentou percentual de 6,2%, que não está entre os piores. Roraima teve o pior índice, 29,8%, e Paraná o melhor, com 3%.

Apenas 1% das crianças e adolescentes tiveram privação de água em 2020 em MS e no Rio Grande do Sul. No Espírito Santo, foram 0,5%. No Maranhão, foram 19,5%.

A privação de acesso à internet e televisão, em 2020, ficou em 3,8% do total de crianças e adolescentes de MS. Em São Paulo, foram 2,8%, o menor percentual. O pior resultado é do Amazonas, em que 23,7% sofreram com alguma privação.

Com relação ao saneamento, são 47,7% com alguma privação de acesso a banheiro e rede de esgoto, com base em dados de 2020. Novamente, MS não está entre os piores estados. No Piauí, 91,1% estão nessa situação. O melhor índice é de São Paulo, 9,8%.

Crianças na favela Morro do Mandela em Campo Garnde, em 2019. (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Crianças na favela Morro do Mandela em Campo Garnde, em 2019. (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)


Negros e indígenas - A desigualdade vai além da região. A pesquisa não traz índice por Estado para grupos por cor/raça, mas mostra que no Brasil todo aumentaram, nos últimos anos, os números de privação monetária entre crianças e adolescentes negras e indígenas.

Em todo o País, 51% deles passam por privação intermediária ou extrema de dinheiro, enquanto entre as brancas o percentual é de 29,5%. Ocorre o mesmo com relação à falta de banheiro e rede de esgoto, segundo a pesquisa.

A alimentação é a única dimensão para a qual não foram levantados dados por estado. No Brasil, entre 2009 e 2018, o número de crianças e adolescentes com privação extrema deste direito caiu pela metade.

A queda ocorreu em praticamente todos os estados e para todos os grupos, especialmente crianças e adolescentes negros e indígenas, que registraram uma queda de 17% para 7,6%. No entanto, a pandemia reverteu os dados.

Entre 2018 e 2021, o número de crianças e adolescentes privados de renda familiar necessária para uma alimentação adequada passou de 9,8 milhões para 13,7 milhões, o que representa aumento de quase 40%.

Preocupante - A chefe da área de Políticas Sociais na Unicef Brasil, Liliana Chopitea, fez um alerta para os dados preocupantes no que diz respeito às desigualdades étnicas e destacou que meninas de 14 a 17 anos são mais impactadas pelo trabalho infantil em relação aos meninos.

“Infelizmente, as desigualdades persistem, principalmente no acesso à tecnologia. Famílias com renda baixa melhoraram, mas em 2021, quando o auxílio foi descontinuado, a falta de renda subiu a patamares históricos, de 13%, em 2019, para 26%, em 2021. O panorama é preocupante. Há muitas crianças privadas de saneamento e renda, principalmente, no País. Ainda temos crianças que não voltaram à escola após a pandemia”, comentou durante coletiva de imprensa.

Recomendações - A Unicef recomenda que os governos, em todas as esferas, priorizem políticas sociais, ampliem oferta de serviços aos mais vulneráveis, fortaleçam os sistemas de garantias de direitos, implementem medições e monitoramento das diferentes dimensões da pobreza, promovam segurança alimentar e nutricional, implantem busca ativa a estudantes que deixaram as escolas, priorizem a agenda de água e saneamento, implementem formas de identificar precocemente as famílias vulneráveis às violências e promovam oportunidades na escola para transição ao mercado de trabalho.

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