Em áreas de retomada, pobreza é ainda pior e indígenas vivem sob ameaça
Quem mora em terras ocupadas não tem comida, não tem água e ainda é ameaçado por jagunços
A situação difícil enfrentada pela maioria dos guaranis-kaiowás e terenas das aldeias Bororó e Jaguapiru só não é pior daquela vivida por famílias que moram em barracos nas áreas de ocupação.
No entorno da Reserva de Dourados existem pelo menos 14 acampamentos, chamados pelos indígenas de áreas de retomada. As ocupações começaram em 2015 em cinco sítios e depois se espalharam por outras áreas.
Os indígenas reivindicam perícia nessas áreas, pois acreditam que ao longo dos anos foram expropriadas por produtores rurais. Segundo essa tese, nem todos os 3.600 hectares demarcados em 1917 estariam de posse da comunidade. A Justiça Federal até hoje não determinou o levantamento antropológico.
Nessas ocupações não há abastecimento de água, não tem rede elétrica, as necessidades fisiológicas são feitas em um buraco no chão cercado por lona e pedaços de pau, as famílias não recebem acompanhamento de saúde e o pouco alimento é plantado ali mesmo.
É num desses acampamentos, perto do trevo do anel viário com a Avenida Guaicurus, que mora Magno de Souza, candidato a governador de Mato Grosso do Sul pelo PCO na eleição do ano passado. Impugnado, ele disputou com recurso judicial e aproveitou o palanque para denunciar o abandono das comunidades indígenas.
“Algumas famílias recebem uma cestinha da Funai com dois pacotes de arroz, uma lata de óleo, mas não dá para 30 dias. Como uma família com sete, nove pessoas, vai se alimentar só com isso?”, questiona.
Segundo ele, os indígenas ficaram seis meses sem receber as cestas e a distribuição só foi retomada agora. “O presidente Bolsonaro tinha proibido ajudar as retomadas”.
Magno, sua família e os vizinhos da retomada perfuraram um poço caseiro para conseguir sobreviver na área. É dali que tiram água para lavar roupa e fazer comida. A refeição é preparada num fogão improvisado com lenha.
Se não bastassem todas as dificuldades em viver sob um barraco de lona e pedaços de madeira em pleno janeiro com temperatura batendo perto dos 40 graus, os indígenas das retomadas precisam conviver com as ameaças de despejo forçado.
Na área onde Magno mora, proprietários de terras vizinhas contrataram uma empresa de segurança para tentar impedir novas ocupações. A exemplo de outras retomadas, o local já foi palco de confrontos entre indígenas e seguranças.
Magno de Souza afirma que os seguranças, a quem chama de “pistoleiros” e “jagunços”, fazem ameaças constantes e usam o reservatório de água da Sanesul como torre de observação. O caso foi mostrado no ano passado pelo Campo Grande News.
“Ali está a caixa d’água da Sanesul, não sei quantos metros de água tem ali, já está atendendo a cidade, mas nós aqui, bem perto, não recebemos nem uma gota”, protesta Magno. Segundo a Sanesul, o reservatório tem capacidade para 1,5 milhão de litros de água tratada.