UFMS polemiza e convida coach para palestra sobre saúde mental
Centro acadêmico do curso de Psicologia publicou nota de repúdio contra convite ao palestrante
Imagine uma universidade convidando um coach, sem formação na área, para falar sobre saúde mental e prevenção de suicídios justamente no mês em que a situação é o mote principal de campanha, o Setembro Amarelo. Pois adivinhe: isso realmente aconteceu, e foi na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Não demorou e logo estudantes, em especial, de Psicologia, reagiram. O CA (Centro Acadêmico) do curso emitiu uma nota de repúdio contra o convite para palestra na UFMS ao coach Karim Khoury e também contra a veiculação do evento nas redes sociais da universidade, como foi realizado na quarta-feira (1º) passada.
O DCE (Diretório Central dos Estudantes) e a Liga Acadêmica em Psicologia da Saúde acompanharam o Centro Acadêmico na nota, assim como fez a ADUFMS (Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
"Foi com espanto e indignação que recebemos a notícia de que a realização da palestra [...] seria realizada por um coach e, por este motivo, optamos por não divulgar o evento, tendo em vista que esta decisão é completamente abjeta, uma vez que se trata de uma universidade pública", frisa a nota de repúdio.
Os estudantes ainda completam que a escolha de um coach "a despeito dos diversos profissionais capacitados dentro do quadro funcional da universidade", seja na graduação, pós-graduação no programa de residência médica em psiquiatria, é visto como "desrespeito flagrante a toda a classe profissional".
"Karim fala para não acreditar nas histórias da sua cabeça, dizer isto para alguém em sofrimento chega a ser violento, uma vez que o sujeito não escolhe sentir isso, o que só aumenta seu sentimento de culpa", critica o CA na nota.
No complemento, os estudantes de Psicologia afirmam que "dizer a uma pessoa com ideação suicida para ter pensamentos positivos maiores do que os negativos e para ser grato por sua vida é um ato mesquinho e abjeto", frisando que "a literatura descreve com maestria o que acontece nesses casos".
"Além de tudo isso, a repetição de mantras não corresponde nem por um instante a promoção à saúde baseada em evidências, o que seria o mínimo esperável durante uma apresentação em uma universidade de respeito", finaliza.