Até vizinhos ganham reforma para ‘cracolândia’ virar área nobre
Para tentar se vender, empreendimento investiu em recapeamento e reforma do muro das residências
Na promessa de “salvar” a região em que está localizado o prédio em que costumava funcionar a antiga Rodoviária de Campo Grande, e transformar o Bairro Amambaí em área nobre, até os muros dos vizinhos ganharam reforma na esquina das ruas Vasconcelos Fernandes e Rua Dom Aquino.
Bem na esquina, costumava ficar um prédio caindo aos pedaços ocupado por pessoas em situação de rua e usuários de drogas, o que era sinônimo de 'dor de cabeça' para os moradores e para o comércio local. O cenário de abandono, no entanto, pareceu encontrar uma mudança com a promessa de elevar o padrão arquitetônico do bairro com a sua reforma.
A nova instalação promete 18 apartamentos de 1 e 2 quartos para aluguel de temporada, além de 2 salões comerciais, sendo um deles de esquina. Os apartamentos serão totalmente mobiliados para a hospedagem. A expectativa é de que o hotel gere mais de 100 empregos diretos e indiretos.
O empreendimento, para tentar se vender, promete afastar a população em situação de rua e os usuários de drogas da região. Para isso, investiu até no recapeamento de um pedaço da rua Vasconcelos Fernandes, entre as ruas Dom Aquino e Marechal Rondon, e na reforma do muro das residências vizinhas, que devem ganhar uma nova pintura nos próximos dias, conforme explica o vigilante da obra, Iran de Lima, 60.
Iran diz que o dono do empreendimento fez um acordo com os proprietários das casas no entorno e reformou todos os muros. A previsão é de que todos ganhem pintura nova na próxima segunda-feira (17).
Apesar de prometer “redefinir a paisagem urbana e revitalizar uma área há muito marginalizada”, enquanto o hotel passa a ganhar forma, o empreendimento é vizinho do prédio da antiga rodoviária, cujo a obra de revitalização da prefeitura caminha a passos lentos. O problema nos arredores do prédio público é antigo e se arrasta por mais de uma década. Por mais que o empreendimento afaste, por ora, os usuários de drogas do entorno, eles acabam se aglomerando em outras esquinas.
Por mais que a comerciante Ariadne Calisto, 54, acredite que o empreendimento novo seja bom para erguer a imagem do bairro, ainda é necessário acabar com o “coração” do problema: o abandono do prédio da antiga rodoviária. “A decadência aqui é a rodoviária, porque os ‘noiados’ ficam tudo ali. Eles [pessoal do empreendimento] conseguiram tirar eles daqui porque eles tem dinheiro pra isso. Mas eles foram parar ali [do outro lado da rodoviária]. Então, a rodoviária que é o coração”, conta.
O aposentado Lídio Pereira, 70, é um dos moradores que teve o muro da residência reformado pela empreiteira e expressa que tendo o hotel como vizinho, finalmente vai poder dormir tranquilo. Mas ele pontua que se o empreendimento acabar “esquecido” como a antiga rodoviária, todo o esforço não será o suficiente. “Vai dar uma força mais pro lugar. Mas não sei, vamos ver. Deixa passar mais uns 10 anos e ver se melhora, não é? A esperança é melhorar”.
Apesar de não morar na região, o aposentado Ramon Pereira, 67, frequenta o local e em sua observação, o novo hotel irá ajudar a elevar o bairro, principalmente o comércio, porque “vem alguém passear, ver o lugar, e pode querer vir pra cá se instalar”, opina.
Aposentada, que não quis se identificar, mora na rua lateral do prédio abandonado do terminal há 50 anos, e relembra que “aqui eram casas de família e acabaram com tudo”. Vizinha dos moradores de rua, ela conta que viu, com os passar dos anos, os prédios serem abandonados e na sequência ocupados por usuários de drogas, modificando a imagem do Bairro Amambai como ela conhecia.
Ao observar pela janela de casa o hotel tomando forma, enxerga no empreendimento uma esperança para que mais empresários olhem para a região e decidam investir ali também. “A gente espera sempre que melhore”, comenta.
A equipe de reportagem procurou a Prefeitura de Campo Grande, através do e-mail, para pedir atualizações sobre o andamento da obra na antiga rodoviária e aguarda retorno.
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