Casa de professor é prova de que dá para reformar sem destruir história
Apaixonado por casas antigas, Hugo decidiu investir em construção que é uma das mais antigas do Amambaí
Em uma das casas mais antigas do bairro Amambaí, as paredes construídas com tijolos de barro estão seguras e não serão demolidas para se tornar estacionamento, prédio comercial ou uma residência que destoa da edificação atual. Apaixonado por construções características do século passado em Campo Grande, o professor Hugo Cezar Fernandes Gondim resolveu mostrar que dá para reformar e morar de um jeito confortável sem destruir a história da cidade.
Por isso, decidiu manter os traços marcantes de casas tradicionais do bairro Amambaí e incluir seu estilo na decoração e adaptação dos espaços.
“Eu não gosto de ‘casa-consultório’, de apartamento caixa de fósforo, então meu sonho sempre foi morar em uma casa confortável. Gosto muito dessas casas antigas daqui de Campo Grande porque elas fazem sentido para mim”, introduz Hugo. Por isso, ao lado da arquiteta Vivianne Maria de Freitas, ele integra o grupo de quem acredita que é necessário manter a “cara” de Campo Grande e aproveitar o que as construções históricas podem garantir.
Gostar de ambientes que lembram o período de sua infância e adolescência é algo que vai além das construções para Hugo. Tanto é que, para nos receber, o professor de história levou um conjunto de xícaras, café e bolinho que foi ensinado por sua avó. “Acho que muita gente tem se apegado a esse estilo de vida que busca coisas boas no passado e que ficaram para trás. O contato com as pessoas, comidas confortáveis e isso se espalha para a casa também”, diz o professor.
É pensando nesse modo de viver que, depois de morar em residências atuais comuns, ele decidiu que havia chegado o momento de concretizar a vontade que estava sendo aprimorada há tempos. “Meus pais moram em uma casa assim também, me lembro que passei minha infância e adolescência assim. É engraçado porque eles também compraram essa casa de uma senhorinha e a minha casa tem uma história assim também. Antes de ser herdada pelos filhos, os pais idosos é que moravam aqui”.
“Quando passei pelo portão, me senti abraçado. Sempre quis morar em uma casa assim e a sensação entrando aqui foi incrível”, descreve o professor. Detalhando sobre a escolha da casa, ele comenta que desde a residência possuir espaço de sobra quanto o modo de construção foram pontos fortes.
Além do estilo remeter a boas memórias afetivas e ser característica do bairro Amambaí, Hugo comenta que os tijolos feitos de barro, por exemplo, garantem um aspecto positivo e que se perdeu com a modernização das construções. “A gente sente que aqui é mais arejado, por exemplo. Outro detalhe são as janelas que também gosto muito. Como Campo Grande é muito quente, essas características fazem a diferença”.
Antes de chegar à decisão final sobre a casa, ele comenta que viu outras residências, mas o bairro ajudou na escolha.
“Eu dei uma olhada na vizinhança, vi como era bem calma e que os vizinhos também são amigáveis. Hoje, a gente não costuma nem conhecer quem está do nosso lado e os moradores aqui do bairro vão em um rumo diferente. Isso também foi importante”, diz Hugo.
Sabendo que gostaria de manter os detalhes característicos da casa como a fachada, as janelas amplas e melhorar o aproveitamento dos espaços, o professor decidiu contratar Vivianne. A arquiteta explica que tem se especializado em projetos que unem restauração e reforma, então se conectar com Hugo foi a combinação ideal.
“A casa de Hugo foi projetada para expressar toda a personalidade única do cliente, fazendo com que a casa virasse um verdadeiro refúgio pessoal. Inspirada nos estilos boho chic e escandinavo, o projeto traz a preservação da arquitetura original da casa, o uso de cores quentes e neuras, madeira e a reutilização de diversos móveis com valores históricos e sentimentais", explica a arquiteta.
Contextualizando sobre a casa, Vivianne relata que o primeiro passo para planejar a reforma foi entender o histórico do bairro. “A gente sabia que esse é um dos bairros mais antigos da cidade, então fomos ver sobre a localização da casa e sobre o terreno. Em um dos primeiros traçados do bairro, nós encontramos esse terreno aqui, então sabemos que é um dos mais antigos de Campo Grande”.
Conforme as pesquisas realizadas, essa é a segunda casa construída no terreno. “Antes dela, uma casa de madeira estava aqui. Pela descrição que temos das casas de alvenaria do século passado, essa aqui bate. Então, ela é bem antiga, é tradicional daquela época”, descreve.
A confirmação sobre seu histórico vem desde adornos na fachada, a quantidade de cômodos e, principalmente, os materiais usados para a construção.
“As paredes dessa casa respiram, como costumamos dizer, porque elas foram feitas com tijolos de barro. Nas paredes, não há cimento, o material usado também foi terra e não há pilares porque esse tipo de construção se mantém ‘sozinho’. É uma técnica do século passado e foi usada na primeira parte da casa porque, anos depois, foi feita uma extensão”, diz a arquiteta.
Ao contrário das paredes de barro, a cozinha, por exemplo, já possui os tijolos mais recentes e uso de cimento.
Apesar de ser uma casa antiga, ela não tem problemas muito grandes, então a reforma vai ser relativamente rápida. Estamos fazendo os últimos ajustes para começarmos em alguns meses”, explica Hugo.
Retornando às paredes, Vivianne comenta que a construção possuir um tipo diferente de material e técnica implica em detalhes que precisam de atenção. “Nós não podemos aplicar qualquer tipo de tinta aqui, por exemplo. Tintas mais comuns não permanecem, elas se soltam rapidamente, estufam devido à troca de ar e umidade”.
Por isso, o desenvolvimento do projeto precisa estar atento aos detalhes que vão desde a restauração da parede com a mesma técnica usada na época original até a aplicação na nova tintura.
“Outro ponto que o Hugo queria era manter as janelas. Partes delas estão faltantes por problema de cupim, então vamos precisar aplicar um material para resolver essa questão e, depois, refazer a parte faltante”, relata Vivianne.
O chão de taco também irá permanecer e precisa passar por um processo que irá devolver sua cor e brilho. E, entre as expectativas, está o chão da varanda.
Em conversa com os antigos proprietários, Hugo foi informado de que havia ladrilhos hidráulicos sob o piso atual. “Estamos bastante ansiosos para tirar esse piso e vermos se realmente encontramos o antigo. Se ele estiver por ali, também vamos tentar fazer o restauro”.
E, para finalizar o projeto, a área externa também receberá novidades. Apaixonado por plantas, Hugo pediu para que a casa reservasse espaços que correspondessem e, por isso, a área gourmet terá um jardim vertical.
Segundo a arquiteta, o objetivo foi de aproveitar ao máximo toda a área e, nesse caso, o jardim vertical se encaixou bem.
“Eu queria uma casa com essas características antigas, mas que ao mesmo tempo conseguisse se adequar aos meus gostos. Acho que nesse projeto a gente conseguiu mostrar bem como não precisamos destruir as casinhas, que elas podem ser adaptadas. Essa foi uma alegria para mim e para os antigos donos, já que a casa da infância deles não vai virar um estacionamento”, completa Hugo.
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