Crianças cresceram cuidando de árvores e em 15 anos surgiu o Bosque da Poesia
Cada criança da quadra se responsabilizou por cuidar de uma árvore. Foi assim que em 15 anos elas cresceram o bastante para formar o Bosque da Poesia. O pequeno recanto que ainda tem tocos de madeira e pneus transformados em balanços, parece sair de um passado onde a infância se vivia na praça do bairro.
O endereço continua fazendo sucesso entre as gerações e é o ponto de encontro dos moradores do entorno da rua Arlindo Sampaio Jorge, no bairro Nova Bahia. Os idealizadores do bosque ou Praça da Poesia são muitos. A maioria reside ali desde a década de 80.
“Nós que fizemos. Existia essa área verde e enviamos vários projetos para a prefeitura transformar em uma praça. Mas, nunca acontecia. Reunimos os moradores e começamos o plantio de árvores e plantas. Envolvemos as crianças, cada um cuidava de duas ou três árvores. Hoje, estão todos grandes”, relembra o professor de filosofia José Manfroi, 64 anos.
Ao lado do vizinho, o também José, mas dessa vez, Ferreira de Macedo, de 82 anos, os dois relembram o início do bosque. “Aqui é bom demais de viver. Plantamos muitas árvores, algumas frutíferas. Agora, as araras estão voltando”, comemora.
O bairro é quietinho, quase sem movimento durante o início da tarde, mas o professor conta que as crianças ainda vem brincar nos balanços. “É uma forma de elas aproveitarem o espaço do bairro, o ar livre”, diz.
Para unir toda a comunidade em torno do espaço criado de forma colaborativa, cerca de 20 moradores decidiram realizar festas temáticas. Uma vez por mês, aos domingos, o grupo faz um Café da Manhã poético. O escritor é escolhido e suas obras são penduras em varais. “Conversamos sobre a vida, os problemas do bairro, contamos piada. As crianças brincam no espaço e lemos algumas poesias”, explica o professor.
Os cuidados com o espaço são constantes. Aos 82 anos, seu José ainda faz questão de fazer novas mudas para plantar na praça. “Fiz de abacate e acho que podemos plantar mais frutíferas, para as araras e outras aves aproveitarem”, planeja.
Trabalhador durante muito tempo em área rural, o mineiro trouxe o conhecimento para o bosque. “Tenho 17 netos e 6 bisnetos. Eles moram tudo aqui pertinho, vem brincar aqui, quando não estão muito preguiçosos”, ri.
Antigamente, a praça chegou a ter uma casa na árvore, que com o tempo foi desmontada. “Atraia usuários de drogas”, lamenta. Mesmo assim, os moradores não se cansam de cuidar de cada trecho da praça.
“Queremos revitalizar. Fizemos o caminho das bicicletas, da caminhada, plantamos as árvores. Conseguimos a iluminação há alguns anos. Queremos melhorar ainda mais. Fazemos festas de natal, juninas, é um cantinho que temos muito carinho”, confessa o professor Manfroi.