Marina Peralta se emociona ao encontrar fãs na juventude Terena
Cantora que se projetou, entre outras características, por falar dos povos indígenas, levou a filha à aldeia Ipegue no segundo dia
Ela rimou, cantou, leve e simples, com um violão emprestado a tira colo. Na tarde de quinta-feira (9), segundo dia da 13ª Assembleia Terena, enquanto cantava, todos os olhares estavam voltados para a cantora e “rainha do reggae” sul-mato-grossense, Marina Peralta. Prestes a se despedir do estado – Marina está de mudança para São Paulo -, ela levou a filha à aldeia Ipegue, onde se emocionou ao perceber “quão longe” chegou sua música.
Quem também a viu de perto, cantou e aplaudiu foi a cantora Maria Gadu – entre o meio artístico um dos nomes mais fortes na defesa dos povos indígenas – e um dos “nomes especiais” dessa edição da assembleia. Para Marina, que canta uma música cujo refrão entoa “meu Deus é índio”, o momento foi de escuta e sensibilidade. É a primeira vez que visita a Assembleia Terena.
“É muita força, estar aqui hoje para mim é bem significativo porque é um espaço de escuta para mim, é um espaço onde eu apenas escuto. E a gente tenta depois amplificar um pouco isso através do que eu faço que é o microfone na mão e trabalhando com a música e com a arte, que é algo que eu já venho fazendo há um tempo”, conta.
A cantora relata “muita felicidade” ao encontrar, na juventude Terena, fãs de sua música. “Eu fiquei muito feliz de chegar aqui hoje e saber que tem boa parte da juventude que já conhece as músicas”, comentou.
Marina notou diferenças (por já ter visitado antes), entre o Aty Guasu, assembleia dos Guarani e Kaiowá e os Terena. “Eu estou achando muito importante, tem muita gente e eu acho que o mais legal é conseguir unir outras etnias que é o que eles estão fazendo. Essa coisa... os povos Terena, boa parte, estão em centros urbanos, então, essa coisa que eu vejo que é diferente dos Kaiowá, de incentivar a juventude a ocupar as universidades e tal”, afirma.
“Eu acho que eu gostaria de estar muito mais perto [dos povos indígenas], só que a vida no momento não permite, mas eu acho que é até uma grande responsabilidade eu, por exemplo, vir aqui cantar uma música falando de índio para os índios, então não sei nem até que ponto eu faria isso”, pontua.
Peralta contou já ter sofrido “censura” em espaços onde o tom crítico não foi bem recebido. “Eu já enfrentei várias vezes o discurso de ódio a respeito desses temas, censura mesmo, de não poder falar sobre agronegócio em determinados eventos e aí eu começo a refletir até que ponto eu quero tocar nesse evento ou não, porque se eu não posso falar, nem seja melhor estar”, diz.
“Mas eu gostaria de estar ainda mais próxima, mais inserida e eu acho que o caminho é estar aqui. É estar em uma situação de convivência mesmo, não de sugar e nem de achar que a gente tem muito para contribuir. Eu acho que a gente só tem que estar aqui, eu vejo um pouco assim”, relata.
Espaços fundamentais – Marina classifica as assembleias “como espaços fundamentais”. Para ela, é momento de reverter uma visão de que os indígenas precisam ser integrados à sociedade.
“Esses espaços são muito fundamentais. A fala do Eloy [Luiz Henrique Eloy] é muito importante no sentido de voltar a acreditar na luta. Eu acho que existe um lado de desanimo que é de: ‘cara, não tem o que fazer’. A gente está diante de um governo que faz isso com a gente, mas acho que uma pauta importante da gente amplificar é a questão da integração. É um governo que tenta dialogar com a sociedade de que os indígenas precisam ser integrados e muitas vezes esse debate é aceito pela sociedade que, ignorantemente, acha que é melhor, sendo que eles têm sua própria civilização. Eles não precisam ser integrados, eles já estão integrados entre si”, afirma.