Por amor à Celminha, Claudio entrou na bateria e hoje formam casal da Igrejinha
Escola de Samba foi fundada em 1975, pelos ferroviários na região do São Francisco, e neste ano leva enredo sobre o arquiteto Luís Pedro Scalise
Celma Cardoso de Oliveira, 46 anos, a Celminha Prestígio, tem história no samba de Mato Grosso do Sul. Há 20 anos, entrou pela primeira vez para uma escola de samba e nunca mais saiu. Há dez carnavais ela é a rainha de bateria da G.R.E.S (Grêmio Recreativo Escola de Samba) Igrejinha. A história de amor pela escola da samba começou junto com outra história de amor, com o marido, Cláudio Luiz de Brittes, 60 anos. “Por amor”, brinca Celminha, ele entrou para a Igrejinha e hoje é um dos integrantes da bateria.
A história de Celminha com a Igrejinha começou com um convite irrecusável há 11 anos. Ela conta que era bailarina em "shows de mulatas", em Campo Grande. Para se inscrever no primeiro concurso de rainha do Carnaval (que ela já estreou ganhando), fez parte da Vila Carvalho e foi assim que entrou no mundo do samba. Depois, desfilou pela Tradição do Pantanal, em Corumbá. Quando voltou para Campo Grande, não tinha escola de samba e estava em uma reunião para concorrer à rainha do Carnaval quando a Igrejinha apareceu.
“A minha história é de mais de 20 anos no samba. Eu estava na reunião para concorrer à rainha do Carnaval quando eles [Igrejinha] entraram e fizeram o convite. Eles estavam fazendo um concurso de “Bumbum Dourado” para eleger a rainha e falaram que se eu aceitasse, cancelava o concurso”, eu aceitei porque era uma honra”, conta Celminha.
Na mesma época, ela casou com Cláudio Luiz, e o marido entrou na bateria da escola de samba. “Eu não era do samba e a minha história começou quando conheci a minha mulher. Desde que ela entrou na escola é a rainha da bateria da Escola Igrejinha e automaticamente, eu caí no samba, conta Cláudio Luiz. “Ele não fazia parte e entrou por amor. Aprendeu vários instrumentos e hoje sou eu no samba e ele de ritmista, sempre juntos nas apresentações”, diz Celminha.
Nesse ano, Cláudio Luiz vai realizar pela primeira o sonho de sair na bateria tocando cuíca, depois de dez anos tocando outros instrumentos. A bateria é comandada pelo mestre Franksuell Loubet, pelo segundo ano. “Não sabia nada de instrumentos e fui aprendendo aqui. A bateria tem um trabalho que tira muita gente da rua. Tem muito menino da comunidade e de fora que foram formados aqui na escola de samba que não sabiam tocar nada”, afirma.
Cotidiano – A Igrejinha foi fundada em 12 de maio de 1975 e, no começo, ensaiava em praça pública. Já foi campeã do Carnaval de Campo Grande 24 vezes desde a sua fundação. As cinco últimas, após o ano 2000, com a reestruturação do Carnaval na Capital. A última, em 2015, com o enredo Tia Eva – lutas, crenças e sonhos.
A rainha da bateria diz que não tem como descrever a emoção de representar a escola, “Tenho uma relação muito boa com a comunidade, sou bem aceita e é como uma família”. Ela também dá aula e passistas para a comunidade. O problema, segundo Celminha, que faz coro com os integrantes de outras escolas de samba é com a demora para a liberação da verba pública para o Carnaval em Campo Grande.
“Não temos apoio e precisamos fazer eventos o ano inteiro como feijoadas e almoços. Dependemos das verbas do Estado e da Prefeitura, mas é liberada uma semana antes do Carnaval. Está previsto para ser liberado hoje [26 de março]. É muito difícil fazer o Carnaval aqui [em Campo Grande], poderia ser como o Carnaval de Corumbá, que dá para trabalhar certinho, mas não conseguimos fazer nada. Acho uma falta de respeito com quem trabalha”.
Na Comunidade Tia Eva – Neste ano, a escola irá para a avenida com dez alas, mais bateria e ala das baianas. O total de componentes é de 450 a 500.
Os ensaios da Igrejinha eram realizados na quadra, no final da avenida presidente Ernesto Geisel, mas tiveram que mudar de lugar. Por vários anos, os moradores da região reclamaram do barulho. Neste ano, Igrejinha ensaia na Associação dos Descendentes de Tia Eva, no Jardim Seminário.
“Este ano foi feita uma parceria com a Comunidade Tia Eva, porque boa parte dos integrantes são daqui, pelo menos 20%. A Igrejinha começou com os ferroviários, na região do São Francisco e aqui também é uma comunidade próxima da Igrejinha e o puxador do samba é também é daqui”, explica Cláudio Luiz.
Em 2019, o enredo do samba da Igrejinha é Scalise e Igrejinha: Arquitetando Folia, Abençoado por Deus e Arteiro por Natureza, em homenagem ao arquiteto Luís Pedro Scalise. Cláudio Luiz explica o “arteiro” é em referência a ao trabalho feito e que homenageá-lo era um sonho da escola. Os detalhes do desfile, por enquanto, são mantidos em segredo.
“Vai ter muito brilho, isso pode falar, mas, é segredo. “Ele [Scalise] tem uma história aqui, é de Santa Catarina, mas, tem Campo Grande como a sua terra e prefere fazer aqui. Fez lugares como as boates Pele Vermelha, Século 15 e agora um restaurante de comida árabe. É um talento daqui”.