Escultor encontra carta que escreveu à mãe e transforma em livro da família

Faz pouco tempo que as palavras se tornaram familiares para Tércio Mussato, de 54 anos. Nascido em Miranda (MS), por trás do homem matuto que cresceu na roça e hoje é dono de hotel tem alguém com o dom das palavras, que deram a ele o privilégio de escrever um livro.
E Tércio nunca se imaginou escritor. O gosto mesmo sempre foi pelo artesanato e, antes da escrita, demostrava talento inegável para os trabalhos manuais. O mirandense é reconhecido pelas esculturas feitas em madeira na cidade. Hoje pratica tudo como hobby e nada é vendido.
Há 5 anos, ele quis presentear a mãe com palavras de amor, através de uma carta. "Eu quis escrever uma mensagem bonita para minha mãe que iria fazer 80 anos, mas a carta deu oito páginas. Acabei deixando os papéis de lado e depois quis dar uma melhorada, foi aí que passei a escrever sobre a minha família".

Ele admite que nunca teve gosto pela leitura, mas se libertou quando viu a possibilidade de contar histórias. "Somos de uma família muito grande. Meu pais são descendentes de italianos e comecei o meu livro fazendo uma árvore genealógica da família, depois, vieram as boas histórias", se orgulha.
Lembranças de um passado humilde, a garra dos pais pela vida dos filhos e até as estripulias dos irmãos deram sentido a contos na cabeça de Tércio. "Fiz do meu jeito simples. Tenho um certo encanto pela minha família, são todos assuntos verdadeiros, porém com certo floreio", brinca.
O livro nunca foi comercializado. Tércio conseguiu parceria com uma gráfica e imprimiu cerca 500 unidades da publicação, que ganhou nome de "Anedotas da Tribo Mussato". "Esse nome foi porque a nossa família é muito grande por aqui e um dia o padre brincou que formamos uma tribo", conta.
Ele diz que foi convidado a fazer um lançamento e ganhar dinheiro com a obra, mas nunca teve esse propósito. "Fui para Campo Grande uma vez quando disse para um jornalista que estava escrevendo. Queriam que eu fizesse uma festinha de lançamento, convidasse todos e vendesse o livro, mas eu não queria nada disso", conta.
O sonho de Tércio era apenas compartilhar a história com a família. Com a obra em mãos, tudo se tornou um momento especial dentro de casa. "Eu queria sentar com eles e ler. Claro que nem todo mundo fica lendo, então todo evento de família que a gente se reúne, lemos algumas partes do nosso jeito. Para quem vem de fora, as vezes fica difícil se emocionar, mas quando a família escuta as histórias, todo mundo chora", descreve sobre a emoção.
Pai de dois filhos e proprietário de um hotel há 30 anos em Miranda, Tércio acredita que o livro foi a chance dele para evoluir. "Quando comecei minhas esculturas em 1990, sabia muito pouco, mas pude ir aperfeiçoando. E a mesma coisa aconteceu com o livro, fui pegando gosto, tentando e escrevendo até que deu certo", comemora.
Sempre detalhista, observando o gosto das pessoas pela leitura que entendeu o sentido das palavras em sua vida. "Não gostava de ler de jeito nenhum, então um dia vendo uma pessoa lendo no hotel, fiquei pensando o que tinha de tão interessante assim em um livro e decidi ler. No começo achei muito chato, mas na metade, eu entendi o sentido de escrever. É maravilho lidar com a liberdade das palavras e principalmente que todo mundo consegue chegar onde quiser, basta ter vontade e fazer", acredita.
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