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Comportamento

Há 15 anos, irmãos e esposas dividem mesmo teto e até sombra da árvore

Idamar e Rudimar construíram casa igual no terreno para viverem com as respectivas mulheres e filhos

Jéssica Fernandes | 07/03/2022 06:55
Rudimar e Idamar dividem o mesmo imóvel há 15 anos. (Foto: Jéssica Fernandes)
Rudimar e Idamar dividem o mesmo imóvel há 15 anos. (Foto: Jéssica Fernandes)

Enquanto seguia para o Bairro Alto Sumaré, comentei com o motorista de aplicativo a história de dois irmãos que há 15 anos dividem um imóvel com as respectivas famílias. “Diferente, né? Será que dá certo?”, ele perguntou. Pois é, a história é inusitada mesmo e só o Idamar Roberto Boniatti, de 55 anos, e Rudimar Cláudio Boniatti, de 57 anos, para falarem melhor do que ninguém se a ideia deu certo.

Na época, os dois procuravam separadamente um local para morar, mas possuíam poucos recursos para adquirir a casa dos sonhos. Incentivados pelo pai, os irmãos uniram forças, juntaram o dinheiro e investiram no mesmo terreno. Desse jeito, Idamar e Rudimar foram viver juntos e compartilhar até a sombra da árvore plantada no quintal.

A planta da casa é igual na estrutura, número de ambientes e tamanhos. Para garantir que cada um tivesse a própria privacidade, vivendo com as respectivas mulheres e filhos, a residência foi dividida ao meio. Desde então, para garantir a democracia e evitar atritos, os irmãos conversam sobre tudo antes de tomarem qualquer decisão. “Se eu quero reformar aqui na frente e, por exemplo, trocar o piso, eu tenho que ver com ele”, explica Idamar.

Parecidos nos gostos, aparência e com talento para fazer piadas, os irmãos são superbrincalhões. Idamar conta que nem sempre foi fácil dividir o mesmo espaço e nunca escondeu isso de ninguém. “O pessoal quando descobre que a gente mora no mesmo terreno pergunta: 'Às vezes, não dá quebra pau não?' Eu respondo: 'Dá!'”, ri.

Rudimar ao lado da esposa e Idamar com a esposa Ligia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Rudimar ao lado da esposa e Idamar com a esposa Ligia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nos dois primeiros anos, Idamar revela que algo rendeu dor de cabeça para ambas as famílias. “Não foram só flores, tivemos muitos problemas. No começo, fizemos o mesmo padrão de energia e água e esse foi nosso primeiro problema”, diz. Ele comenta que tudo que tem relação com a residência é pessoal, mas da porta para fora, é de todo mundo. “Só a minha casa e a casa dele é particular, porque fora, vamos combinando e dividindo”, diz.

Apesar de ter dito que nem tudo são flores, Idamar faz questão de destacar a parte boa de morar ao lado do irmão. “Quando vamos viajar, um fica para cuidar da casa, então você fica despreocupado com a parte de segurança da casa”, expõe. Além de irmãos, eles são bastante parceiros e constantemente dão um jeito de unir o útil ao agradável. “Queríamos construir uma piscina, mas decidimos não fazer. Somos sócios do mesmo clube, porque a hora que vamos, dá para ir com o mesmo carro. Tudo a gente aproveita esse tipo de situação”, fala.

Para quem acha pouco morar com a própria família e a do irmão no mesmo espaço, é porque não faz ideia que a situação poderia ser outra. Há 15 anos, o pai deles queria que os demais filhos também construíssem casas no terreno de Rudimar e Idamar. “Inicialmente, surgiu a oportunidade de quatro deles morarem aqui. Ia ficar aqueles condomínios de arregaçar, mas ainda bem que não deu certo”, ri.

Idamar e Rudimar com os outros três irmãos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Idamar e Rudimar com os outros três irmãos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Rudimar apareceu no meio da entrevista, mas chegou bem-humorado e fazendo graça. Questionado como era morar ao lado da família do Idamar, ele se diverte. “É o inferno isso aqui, é um problema. Morar ao lado da cunhada, cê acha que é legal?!”, brinca. De vez em quando, os dois entram em conflito, porém Rudimar garante que a paz é restabelecida durante um churrasco. “No fim das contas, fazemos um churrasquinho e resolvemos tudo”, enfatiza.

Depois das brincadeiras, ele comentou gostar de ter a companhia da família do irmão. “Eu acho legal, porque não gosto de ficar isolado não. Quanto mais gente, melhor para mim”, afirma. Por terem crescido no hotel que os pais tinham, eles se acostumaram a estar rodeados de pessoas e, por isso, estranham o isolamento.  “Aqui fica parecendo A Grande Família”, conta Rudimar.

Como se não bastasse morar no mesmo local, eles estão constantemente saindo um na companhia dos outro. Seja para ir ao clube, bares da região e demais eventos, Idamar e Rudimar não se largam. “As mulheres tinham que reivindicar um espaço com a gente, porque era difícil. O tempo todo combinávamos de ir jogar bola, depois um barzinho”, explica Idamar.

Entre pequenos atritos, reconciliações no churrasco e um repertório vasto de piadas, “A Grande Família” segue firme e forte. Por hora, Idamar e Rudimar seguem dividindo tudo que passa da porta para o quintal e não têm pressa de mudar de residência e endereço.

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