Avós não conseguiram, mas neta voltou a Okinawa e descobriu o sobá original
A meta era voltar às origens ao pisar na terra em que os avós nasceram, como tantas outras histórias de famílias que deixaram o Japão para ajudar a construir Campo Grande. Nesta jornada, Okinawa foi o destino escolhido pela jornalista Daiane Tamanaha. Retornar à ilha era um sonho dos avós, por isso o valor da viagem não tem medida.
A primeira vontade era encontrar parentes desconhecidos. Mas quando Daiane chegou, percebeu que o sobrenome da família era como o “Silva” no Brasil. “Aqui todo mundo tem uma árvore genealógica e achei que iria chegar aqui e encontrar alguém, mas o sobrenome é muito comum e percebi que seria impossível encontrar algum parente”, explica.
Meio frustrada, a jornalista foi cumprir o segundo item na lista de prioridades em Okinawa, agora por curiosidade óbvia de quem nasceu em Campo Grande. Caçou um lugar para experimentar o sobá original e ver quais as semelhanças com o de Mato Grosso do Sul.
“Conheci um japonês e ele disse que me levaria para comer o melhor sobá. Era um restaurante bem escondido, nos fundos de um local onde vendia frutas. Diferente das sobarias de Campo Grande”, descreve.
A diferença ela percebeu já na hora de fazer o pedido, quando o atendente perguntou se o sobá era liso ou ondulado, sobre o formato do macarrão como 2 opções. Ao chegar na mesa, um acompanhamento também surpreendeu. O sobá é servido com chá de jasmim gelado. É tradição por lá e acaba criando uma boa combinação para o verão da cidade, com dias de muito calor.
Os ingredientes também mudaram arté chegar aqui. “O sobá de Okinawa não tem ovo e eles usam um tipo diferente de cebolinha, que é mais fina. No lugar do ovo, coloca kamaboko, uma espécie de bolinho de frutos do mar. E a carne é absurdamente macia”, explica Daiane.
O original é servido com carne de porco e há poucas opções com carne bovina em Okinawa, mas mesmo com as diferenças, o sabor acaba bem parecido com o que é servido em Campo Grande. “Eu adorei o caldo e é parecido mesmo com o nosso. Acho que que em Campo Grande ficou difícil de fazer o bolinho e talvez por isso substituíram pelo ovo. Mas conseguiram preservar muito o sabor com a criatividade. Achei legal descobrir isso e vi que o nosso sobá é muito autêntico”, completa.
A cultura e a simpatia do povo de Okinawa aproximou ainda mais Daiane dos avós, das lembranças deixadas por eles. Os dois chegaram por aqui no início do século passado, no navio Kasato Maru, que transportou os primeiro grupos de imigrantes japoneses para trabalhar em lavouras de café. A meta era mudar de vida e depois retornar à cidade de origem, mas isso nunca aconteceu.
"Eles morreram querendo voltar aqui e cada lugar que conheço me vejo muito, tanto pela cor da pele, quanto pelo povo e os costumes. Eu ainda ando na rua e penso que aquele pode ser um parente meu", descreve.
A receptividade também foi o ponto chave. "É um povo alegre e simpático. Quando fui ao restaurante, um senhor perguntou se éramos do Nepal e quando falamos do Brasil ele levantou, sorriu e nos deu a mão. Me senti muito bem", conta.
Durante os passeios, ficou claro como a região é diferente de muito do que conhecia do Japão. "Eu morei em Tókyo em 2007, as pessoas são mais fashionistas e preocupadas com a aparência. Já em Okinawa são mais simples. Reconheci os vestidos que a minha avó usava, não eram as mesmas cores, mas os cortes são bem parecidos."
Daiane ainda está na ilha, vai ficar 5 dias, pouco tempo nas contas dela, mas o necessário para reencontrar um pouco dos avós e de todos os Tamanaha. "Até o cheiro da comida lembra eles, eu vi muito da minha família aqui ", comenta.