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Diversão

Campanha quer educar folião e garantir ocupação em cidade que ama burocratizar

Todo ano é a mesma discussão em torno da festa na Esplanada, agora o foco é educar folião sobre Patrimônio Cultural

Thailla Torres | 04/02/2020 08:15
Carnaval de rua em Campo Grande reúne aproximadamente 45 mil pessoas. (Foto: Vaca Azul)
Carnaval de rua em Campo Grande reúne aproximadamente 45 mil pessoas. (Foto: Vaca Azul)

Nos últimos anos Carnaval de Campo Grande ganhou novo status. Se tornou ponto de multidão que diverte mais de 45 mil pessoas por dia, isso representa aproximadamente 5% da população da nossa Capital. Em contrapartida, a cada festa é possível acompanhar uma discussão em torno da folia campo-grandense, mais especificamente o Carnaval de rua na região da Esplanada Ferroviária.

É só publicar alguma notícia sobre a programação ou novas iniciativas para realização do Carnaval de rua que “chove” comentário contrário à festa popular. Há quem diga que a folia não deve estar na lista prioridades, alguns, vão além, e dizem que a festança é um vandalismo aos patrimônios da cidade.

Em decorrência dos interesses privados e da inércia de um poder público atuante, a cada manifestação cultural, surge a dúvida se ela realmente irá ocorrer, há um cerceamento do Carnaval de rua, com até mesmo sugestões de transferência de local da festa ou de limitações que são opostas ao espírito de Carnaval.

Arquiteto João Santos defende organização para ocupar espaços públicos. (Foto: Paulo Francis)
Arquiteto João Santos defende organização para ocupar espaços públicos. (Foto: Paulo Francis)

Pensando nisso, o Capivara Blasé resolveu adotar medidas para valorizar o espaço utilizado pelo bloco há sete anos e ter a oportunidade de conscientizar os foliões sobre o uso do local, “pois trata-se de um local de grande importância histórica e cultural para a cidade”, afirma um dos organizadores, o diretor teatral Vitor Hugo Samúdio.

Para dar início à campanha de educação patrimonial, o bloco fez parceria com uma associação de catadores durante os dias de pré-Carnaval e Carnaval, além de ações de conscientização sobre uso de copos reutilizáveis, conteúdos socioeducativos nas redes sociais sobre a história do Complexo Ferroviário da Noroeste do Brasil e sua importância como Patrimônio Cultural Nacional e painéis sobre Educação Patrimonial.

“É essencial que tenhamos conhecimento e base teórica sobre a história e cultura do espaço que a população utiliza nos dias de folia. Procuramos a instituição (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para realizar essa imersão sobre o patrimônio, que é tão valioso para a história não apenas do nosso Estado, mas do próprio Carnaval sul-mato-grossense", ressalta Vitor.

Ainda que não seja possível educar 45 mil pessoas em apenas três dias de Carnaval, a iniciativa é válida, mas não deve ficar restrita ao bloco carnavalesco, avalia o arquiteto João Santos, mestre em conservação e restauração. “É necessária uma união de esforços entre os envolvidos e interessados nos grandes eventos, como o Carnaval, para que se organizem e que a cidade e a região se preparem para as festividades de todas formas possíveis, levando em consideração que ocupação do complexo é a melhor oportunidade da população em usufruir e discutir a ocupação desse espaço público”.

Espaço histórico sem movimento. (Foto: Paulo Francis)
Espaço histórico sem movimento. (Foto: Paulo Francis)
Mesmo local durante o Carnaval. (Foto: Paulo Francis)
Mesmo local durante o Carnaval. (Foto: Paulo Francis)

O arquiteto ainda defende que o espaço receba não só o Carnaval. “De que vale a preservação desse lugar, patrimônio cultural edificado, se as pessoas não estão aqui depois da folia. Ele tem que ser ocupado com manifestações culturais o ano inteiro. Ele deve ser palco de todo tipo de expressão cultural”.

Quando acompanhou as discussões em 2018, que cogitaram transferir a folia de rua para outra região da cidade, João diz que ficou surpreso em ouvir que o “Carnaval de rua estava vandalizando a região histórica da cidade”.

Ele sugere uma conta rápida de como estão os imóveis durante o ano e como eles ficam após o Carnaval, “assim é possível ver o grau de vandalismo”, garante. “Será que o vandalismo está ocorrendo somente no Carnaval ou ele está ocorrendo ao longo dos anos pelo descaso do poder público e pela inércia do proprietário em recuperar o seu imóvel cujo o dever é dele?”, questiona. “Até onde vai essa questão do vandalismo? Não acredito que o vândalo é o folião que vem uma vez ao ano”.

Sobre os problemas recorrentes relatados por grupos de moradores que se sentem prejudicados com a folia na região, João também diz que entende, e reforça a necessidade de organização do Carnaval em conjunto. “Não há como restringir a organização ao bloco. É necessária uma união entre privado e poder público, com segurança pública, área de planejamento urbano, meio ambiente e gestão pública. Para se ter uma noção, não há lixeiras suficientes durante o Carnaval e, no dia seguinte, o morador acorda com o lixo na porta da casa dele. Dentro de um planejamento, isso é pensado para que o morador acorde e as calçadas já estejam limpas, como ocorre em outras cidades do país”, exemplifica.

Partindo dessa organização que, de acordo com arquiteto, é importante, mas deve ser planejada com antecedência, fica mais fácil fazer o Carnaval e colocar em prática a educação patrimonial. “Tem os que não querem. Por isso, a questão não é ocupar, mas como ocupar. É muito mais uma questão de organização do que cerceamento e proibição. É preciso pensar na economia que gera para a região, no direito daqueles que permanecem fazendo-a rodar em um país que está em crise e na relação com de ocupação dos espaços públicos”, pontua.

Cordão Valu também reúne, todos os anos, milhares de foliões (Foto: Arquivo/ Marcos Ermínio)
Cordão Valu também reúne, todos os anos, milhares de foliões (Foto: Arquivo/ Marcos Ermínio)
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