Carnaval está mais democrático e “família”; até quem não gosta sai para ver
Dezessete blocos, de várias regiões da cidade, desfilaram, ontem (2) à noite, na Vila dos Ferroviários. O clima descontraído e calmo das apresentações, marcadas pelas antigas marchinhas, serviu de reflexão: O carnaval, em Campo Grande, parece estar mais seguro, democrático e “família”. Diferente de alguns anos, hoje até quem não gosta sai para “espiar”. Seria só impressão?
Foliões de corpo e alma, Silvana Souza, 37 anos e o marido, Rubens Gomes, 34, acreditam que não. Para eles, a festa, realmente, está mais calma. “Antigamente saia muita briga”, comentou o homem. “Hoje a gente veio a pé da matinê, na Fernando Correa, e foi tranquilo”, disse a mulher. O casal estava na companhia dos filhos, Heitor, de 12 anos e Yuri, de 1 ano e 7 meses.
Alessandra Gonçalves de Souza, 38 anos, também estava com os dois herdeiros, Gabriel, de 3 anos e Larissa, de 2. Levou, inclusive, as mamadeiras dos pequenos. “Estou com água, leite, fralda, menos cerveja”, contou, mostrando o “kit emergência”.
Para a auxiliar administrativa, que saiu no bloco “Bem-te-vi”, da região do São Francisco, a folia, na cidade, pelo menos no desfile de ontem, ganhou um clima “mais família”. “A gente precisa dar uma melhorada, mas se diverte mais assim”, afirmou.
Essa tranquilidade foi notada, inclusive, por quem não gosta de carnaval. Leonice Nunes França e o marido, João Ronaldo, não saíram de casa, mas, como moram na rua onde aconteceu o desfile, foram ver os blocos do portão, junto com os dois netos.
“Não tem bagunça”, comentou a mulher, logo após dizer que detesta “as coisas que acontecem no carnaval”. Mas, apesar disso, desta vez, ela teve outra visão. “Achei que está bem seguro. Tem mais polícia que gente”.
O engenheiro Perito Pereira de Andrade, 62 anos, também destacou a segurança e disse que o ambiente era “bom e bem agradável”. “Transmite esse negócio de família, de pai e filho, que é o meu caso”, comentou.
Ele estava junto com o filho, o estudante Perito Pereira de Andrade Junior, de 17 anos. O rapaz era mais um dos vários cadeirantes aproveitando a folia com tranquilidade e segurança.
Intérprete da Catedráticos do Samba, Paulo Sérgio Bazílio da Silva, de 43 anos, também curtiu o desfile na cadeira de rodas. “É bem democrático. Um lugar que acolhe com clima bem familiar. Você consegue se divertir sem maiores dificuldades”, declarou.
Também cadeirante, a designer Sabrina Azambuja, de 35 anos, foi pela primeira vez no desfile. “Todo mundo falava que era divertido, aí eu resolvi vir. Gostei. A única coisa ruim são os paralelepípedos”, disse, citando a dificuldade de locomoção. “Mas eu vi bastante segurança, pais com crianças...”, comentou.
Apesar dos elogios e das mudanças, notáveis por quem não perde a data, o estigma social, de que carnaval é só bebedeira, sexo e briga, permanece. É difícil acabar com a imagem construída durante anos, mas, se serve de alento, vale lembrar que esse é um tipo de discurso praticamente universal. Não quer dizer que seja verdade.