Em bar animado, ritmo da katchaka faz a diferença nas noites de Campo Grande
O ritmo não é nada convencional por aqui, mas rola animado em um pedacinho do Paraguai em Campo Grande. Nos sábados e domingos à noite, a lanchonete Sueiro, no número 1006 da avenida Manuel da Costa Lima, se transforma no bar da katachaka, ritmo pra lá de latino. Dezenas de pessoas que gostam da dança tradicional no país vizinho aparecem animadas, são brasileiros e paraguaios que se sentem em casa.
“Aqui é o nosso mundo, é isso que eu posso te dizer. É o lugar que a gente se sente feliz”, diz Cleonir Ortega, de 63 anos, conhecida como Peca e frequentadora há mais de 15 anos dos bailes promovidos pelo cantor Vitor Hugo Dela Sierra e sua família. “Eu vou desde que o baile era no Jóquei Clube”, lembra.
Vitor Hugo é conhecido no cenário da música fronteiriça, quando tocava com o conjunto musical Los Tammys ganhou disco de ouro e gravou mais de 14 LPs. Dono de uma voz característica da musica paraguaia, o musico trocou o país vizinhos e escolheu Campo Grande como morada.
Apesar de ainda fazer muitos eventos fora, como tocar em casamentos e outras festividades, Vitor sentiu necessidade de criar um lugar fixo para se apresentar. Fez uma parceria com o senhor Márcio Sueiro, de 68 anos, dono do espaço, e construiu um lugar para celebrar a música paraguaia, tudo com o apoio da esposa e dos filhos.
Há 30 anos, cantando no Clube União do Sargentos, ele conheceu a atual esposa, Elaine Riveiro, de 50 anos, e conquistou uma companheira de trabalho e de vida. Ela cuida do bar enquanto ele canta, juntos os dois dividem os sucessos e as dificuldades da vida.
No bar, as mesas ficam praticamente vazias porque a maioria lota a pista de dança ao som de katchaka, além do chamamé e do vanerão. “Geralmente quem vem é o pessoal mais velho. Tem gente que se conheceu aqui e casou, e agora frequenta com a família”, comenta Elaine.
A festa realmente é bem familiar, com pai, mãe e filhos na dança. O som segue a mesma fórmula. Quem toca violão é Rubens, filho de Vitor. Já o tecladista foi “importado” da fronteira para integrar ao grupo. “Minha vida toda eu fui cantor. Faz 30 anos que mudei para cá e aqui as pessoas gostam muito de katchaka e nós somos os únicos que ainda tocamos”, conta Vitor, aos sorrisos, falando sobre a felicidade em ver as pessoas dançando ali.
A atmosfera acolhe e faz as pessoas voltarem sempre ao lugar, que não é lá dos mais bonitos. Talvez a simplicidade seja mais um ponto para as pessoas dispostas a se divertir e a curtir uma boa domingueira com os amigos. Wanda Larsen, de 58 anos, marca presença todo final de semana. “Eu venho aqui, que é muito bom. O pessoal é família, só vem quem gosta mesmo da música”.
Por ali, é fácil de encontrar muitas histórias de paixão pela dança e que demonstram o poder da tradição cultural. A cabeleireira Leci Cordeiro, de 48 anos, conhecida como Morgana é um exemplo.
Ela encontrou na katchaka a energia fundamental na hora da luta contra o câncer de mama. “Graças a Deus eu descobri aqui há um ano e arrumei ânimo para viver. Eu venho aqui para me divertir e me sentir em casa. Conto os dias para chegar o final de semana e vir dançar”, garante.
Na contramão da maioria que já comemorou mais de 50 primaveras, com apenas 18 anos Ane Miranda é outra frequentadora assídua. Ela é paraguaia, quase sem sotaque por ter vivido sempre entre os dois países, conta que adora dançar. “Eu moro em Concepción, mas venho para cá sempre e aqui é uma delicia para dançar”, comenta.
No lugar não há nada para comer, são servidos apenas cerveja, refrigerante e água.
A entrada custa R$5,00. No sábado a música começa às 21h30, no domingo às 19h30 e vai até a madrugada. O bar da katchaka fica na Manoel da Costa Lima, 1006.