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Diversão

Maior feira da cidade é programa certo de domingo, com pasteleira famosa

Elverson Cardozo | 28/09/2014 07:24
Feira livre do Guanandi ocupa 9 quadras. (Foto: Elverson Cardozo)
Feira livre do Guanandi ocupa 9 quadras. (Foto: Elverson Cardozo)

Existe espaço mais “povão” que feira livre? Pode até existir, mas feira livre é um lugar tão popular e democrático, tão cheio de vida e histórias...Em época de eleição então, muitos candidatos querem estar perto do eleitor e, por isso, saem distribuindo sorrisos, abraços, fazendo graça e, claro, pedindo voto.

Em Campo Grande, há várias delas e todas, de maneira geral, preservam esse “calor humano”, tão útil nas propagandas do horário eleitoral obrigatório. No último domingo, o Lado B visitou a do bairro Guanandi, considerada a maior da cidade. A região, como já era esperado, estava rodeada de cabos eleitorais.

O “tour” do canal teve início às 9h e só terminou às 11h. Demorou, mas valeu a pena. O lugar reúne de empresário, que deixou o Centro para apostar no "povão", a paneleiro, passando por pasteleira "famosa", que faz pastel de dois palmos, a feirante "inovador". Tem até artista em busca de reconhecimento.

As bancas começam a ser montadas às 6h e ocupam 9 quarteirões da rua Barra Mansa. O comércio ao ar livre, que atrai pessoas de várias regiões e até de outras cidades, começa na esquina da Caramuru e só termina no encontro com a Kalil Naban, em frente a um bar.

A Feira do Guanandi, assim como as outras, tem de tudo um pouco, guarda histórias memoráveis, dignas de livros, e bons personagens da vida real. Tem “gente de verdade”, como a gente, que batalha, dá um duro danado, não tem vergonha de gritar para chamar cliente, e muito menos de ser feirante.

Comércio é frequentado por pessoas de todas as idades e de várias regiões da cidade. (Foto: Elverson Cardozo)
Comércio é frequentado por pessoas de todas as idades e de várias regiões da cidade. (Foto: Elverson Cardozo)
Cezinha da Cocada. Na feira há mais de 20 anos. (Foto: Elverson Cardozo)
Cezinha da Cocada. Na feira há mais de 20 anos. (Foto: Elverson Cardozo)

João Cezar Malaquias é um desses trabalhadores que se orgulha da profissão. “Não deixo faltar nada em casa”, conta.

Cezinha da Cocaca, como é conhecido, sustenta a família vendendo doces: coquinho caramelizado, cocada branca, mista, de maracujá, paçoca, pé de moleque, algodão doce, beijinho, entre outros.

O preço é fixo - 1 (qualquer doce) por R$ 3,00 e 2 por R$ 5,00 – e parte da fabricação pode ser acompanhada ao vivo. Malaquias faz doces na hora, em um tacho, para quem quiser ver. É de dar água na boca.

A feira, para ele, é tão familiar como a própria casa. São mais de 20 anos no mesmo lugar. “Frequento isso aqui desde os 7. Comecei vendendo banana”, diz.

“Essa feira era uma das mais arborizadas. Aqui o povo vendia peixe, cabrito, aves vivas...”, relembra.

Elizabeth Cammer, 60, não começou vendendo bananas, mas fez nome fritando pastéis e hoje, 25 anos depois, é uma das comerciantes mais conhecidas do espaço. “Barba Pasteleira”, como se apresenta, é tradição na feira do bairro Guanandi.

Com duas bancas na mesma rua, e com uma promoção bastante atrativa, ela conseguiu cativar os clientes, oferecendo pastel por R$ 1,50, quatro por R$ 5,00 e o especial – com recheios de carne, queijo e pizza – por R$ 5,00 também. O detalhe é que este último tem, pelo menos, 2 palmos de comprimento.

Barba Pasteleira e o pastel especial, de dois palmos. (Foto: Elverson Cardozo)
Barba Pasteleira e o pastel especial, de dois palmos. (Foto: Elverson Cardozo)

Quem prova, na maioria das vezes aprova. O vendedor Renato Souza, de 31 anos, é cliente fiel de Barba desde 1998. Conheceu a mulher na feira do Coophavila e, desde então, viciou no pastel feito por ela.

Hoje, morando no Jardim Leblon, ele vai ao Guanandi praticamente todos os domingos, acompanhado da esposa, a vendedora Anny Rafaela, de 22 anos, e dos dois filhos, Ryan, 4, e Renan, de 2.

“Aqui a garantia é 100%”, elogia. “É muito bom o pastel, a massa deles”, completa a jovem. “A massa tem um segredinho especial”, comenta o marido de dona Elizabeth, Antônio Carlos, de 68 anos.

Outra “figura” da feira do Guanandi é Antônio Viana. O senhor de 71 anos não tem banca fixa, mas nem por isso deixa de ganhar dinheiro. Sempre que possível, ele desce a rua Barra Mansa de ponta a ponta, vendendo mudas de plantas em uma bicicleta. Tem arruda, alecrim, camarão e várias outras. “Tem dias que dá para tirar uns R$ 20,00, mas às vezes não dá nada”, revela.

Antônio Viana não tem banca fixa, mas, em dias de feira, vende mudas no meio da rua Barra Mansa. (Foto: Elverson Cardozo)
Antônio Viana não tem banca fixa, mas, em dias de feira, vende mudas no meio da rua Barra Mansa. (Foto: Elverson Cardozo)

No caminho, a procura de clientes, Antônio encontra de tudo um pouco: roupas, réplicas de marcas famosas, bonés, CDs e DVDs piratas, brinquedos, bugigangas tecnológicas, frutas, verduras e até frango e costelas assadas em máquinas, nas famosas “TVs de cachorros”.

Como é extensa, há muitas bancas com produtos iguais, então, é fácil notar as que se destacam. Uma delas pertence a Paulo Marcos Domingos, de 38 anos. Há 6 meses ele passou a vender pendrives com músicas já gravadas.

Cada dispositivo sai por R$ 30,00 e vêm com 1 mil canções. É o cliente que escolhe o gênero. Paulo apresenta os interessados uma pasta com várias opções. Tem “top arrocha”, modas de viola, sertanejo, “funk porradão”, “proibidão,”, “pagode misturadão”, evangélicas, entre outras. “São mais de 160 mil músicas. Sou pioneiro no Estado a fazer isso. Trouxe a ideia de Brasília. Vi em um camelódromo de lá”, diz.

Mas o comércio é democrático. Tem lugar para a “inovação” e para quem não tem lugar. É comum ver hippies vendendo artesanatos e artistas em busca de reconhecimento. Ronny Perterson é um deles.

O rapaz retrata o Pantanal em pratos e faz isso em pouquíssimo tempo. A habilidade com as tintas e a facilidade que tem para desenhar deixa qualquer um de boca aberta.

Ronny, o artista. (Foto: Elverson Cardozo)
Ronny, o artista. (Foto: Elverson Cardozo)

“Essa é uma técnica avançada de pintar em velocidade. [...] É uma arte que nasceu nas ruas do México. É um trabalho que eles desenvolviam lá para pintar porcelana”, explica.

Ronny é artista. Antônio Carris, que fica bem longe dele, na outra ponta, no começo da rua, é paneleiro, mas não deixa de ser um artista.

Aos 73 anos, o senhor recupera panelas usadas, inutilizáveis, e faz isso de dentro de uma Kombi. O veículo é sua oficina móvel desde 2005, mas o idoso atende na rua há mais de uma década. “A Nici que me obrigou. A ‘nicissidade’ [necessidade]”, brinca.

E foi a necessidade que levou o empresário Francisco Aparecido Demundo, de 66 anos, deixar de vender orquídeas e plantas para floriculturas e partir para o comércio popular, na feira.

Depois de vender a floricultura que tinha, ele tentou se virar como fornecedor, mas a estratégia não deu certo. “Eles vendiam e não me repassavam”, lamenta. O jeito foi lidar com o cliente final cara a cara, na rua Barra Mansa.

Antônio Carris, o paneleiro. (Foto: Elverson Cardozo)
Antônio Carris, o paneleiro. (Foto: Elverson Cardozo)
O empresário, hoje feirante. (Foto: Elverson Cardozo)
O empresário, hoje feirante. (Foto: Elverson Cardozo)

O negócio, pelo jeito, vingou. “Isso aqui é preço de produtor. Vendo orquídeas floridas por R$ 15,00, R$ 17,00. No mercado é R$ 30,00, R$ 35,00, R$ 50,00”, afirma, mostrando as espécies, algumas de fora. Os fregueses agradecem.

Entre os frequentadores, difícil é encontrar alguém que critica a feira do Guanandi. “O ruim é o sol, mas feira é feira”, opina o pintor Juliano Sanches, de 30 anos.

“Aqui é bem completo e tradicional. Eu venho pela variedade”, resume a professora Eliana Moreira, de 36 anos.

Dia: domingo

Local: Rua Barra Mansa, entre Caramurú e Kalil Naban

Horário: de 7h às 12h

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