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Diversão

Roda de rap fez sargento ‘Brunão’ voltar no tempo e rimar com jovens

Durante patrulha em Dourados, policial surpreendeu turma pedindo microfone para cantar uma de suas composições

Jéssica Fernandes | 02/05/2023 07:40
Em Dourados, PM participou de batalha de rap com jovens. (Foto: Reprodução)
Em Dourados, PM participou de batalha de rap com jovens. (Foto: Reprodução)

A cena parece inacreditável, pois não é todo dia que um policial militar é visto numa roda cantando rap entre jovens. Mas foi justamente isso que aconteceu durante uma das patrulhas do sargento Jeder Fabiano da Silva Bruno, de 45 anos, em Dourados, a 233 km da Capital.

O caso ocorreu na semana passada quando o policial notou o grupo de jovens reunidos. Na ocasião, ele relata que parou a viatura e, seguindo o procedimento padrão, ficou observando a situação.

“Na região onde patrulhamos, temos algumas praças, áreas públicas e em alguns locais a gente acaba encontrando usuários de drogas, pessoas ingerindo bebida alcoólica e pequenos delitos. Quando vimos a aglomeração, parei a viatura para observar e vi que era um grupo de batalha de rap”, conta.

Veja o vídeo:

Criado na região do Cachoeirinha e Vila Erondina, o sargento conhecido como ‘Brunão’ pelos amigos cresceu na periferia onde teve contato com a cultura do rap desde a infância. Devido à proximidade com a música, o policial conta que, além de recordar o período que cantava rap, sentiu vontade de participar da batalha.

“Por conta dessa oportunidade de ter conhecido a cultura do rap, vi que ali era uma batalha. Meu coração me tocou e falou: ‘Cara, por que não participar?’. Observei, vi que não tinha droga nem nada, vi que era um ambiente salutar”, explica.

O sargento comenta que o coração ‘não aguentou’, por isso, pediu ao organizador se poderia ‘comandar a voz’. “Eu me senti tão à vontade, voltei na máquina do tempo, vi a meninada e vi que o ambiente não estava ruim. Acabei pedindo o microfone e comecei a rimar. O rap que cantei fiz em meados de 1995 a 1996”, afirma.

De camisa azul, o sargento 'Brunão' com o grupo de amigos DJs. (Foto: Arquivo pessoal)
De camisa azul, o sargento 'Brunão' com o grupo de amigos DJs. (Foto: Arquivo pessoal)

A atitude do policial em pedir para participar e até solicitar que o DJ soltasse o ‘beat’, a famosa batida usada em batalhas, surpreendeu os jovens que esperavam outra conduta. Jeder diz que naqueles minutos rimando cumpriu com o objetivo de dar exemplo à turma.

“Foi uma oportunidade ímpar do relacionamento da instituição Polícia Militar com a juventude. No primeiro momento, eles tiveram um receio por conta de ser o Estado ali, afinal de contas, eu represento o Estado. O meu coração falou: ‘Leva um rap pra essa molecada, mostra que você é ser humano igual eles e não uma máquina”, destaca.

A composição do sargento feita há mais de 20 anos fala sobre discriminação da sociedade e a necessidade que algumas pessoas têm de autoafirmação. A letra também aborda o preconceito que existe em julgar as pessoas pela aparência e origem.

“É um erro muito grande acreditarmos que a pessoa que curte o rap por si só é um bandido, um marginalizado, não podemos pensar assim até porque eu sou do rap, do samba, sou músico e fui cabo do quadro de músicos da PM”, diz.

A letra em questão é só uma das várias que Jeder escreveu antes de seguir carreira na segurança pública. Ao falar da música, ele volta no tempo e expõe um pouco da sua história de vida pessoal. “Eu fui um dos participantes do embrião do Fase Terminal aqui de Dourados, um grupo de rap que ficou famoso nacionalmente. Eu fui rapper, já escrevi antes de ser policial”, recorda.

Antes da semana passada que rendeu o vídeo com o grupo, a última vez que ‘Brunão’ cantou rap foi em 1997. A data lembra sem dificuldade. “Foi quando fizemos uma participação num encontro de rap na escola Capilé numa sexta à noite. Vários grupos vieram, foi um evento muito grande”, fala.

Meses após o encontro, o sargento ingressou na Polícia Militar em 1998. Embora tivesse o sonho de ser piloto de avião, ele conta que escolheu a profissão devido a admiração que o pai tinha pelos profissionais da área. “Ele via no militar uma pessoa austera, pró-ativa, de postura indubitável. Eu acabei por seguir a carreira porque desenvolvi esse amor por conta da paixão que o meu pai tinha”, explica.

A carreira no rap chegou ao fim, mas o policial aproveita as horas livres para ser DJ e seguir ouvindo o estilo musical em que garante existir muita verdade. “Hoje orgulhosamente sou o segundo sargento da Polícia Militar, feliz, realizado profissionalmente e em paz comigo mesmo”, conclui.

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