Sozinho ou acompanhado, "Forró de Quinta" quebra rotina durante a semana
A cada duas semanas a partir das 21h30 a noite de quinta-feira ganha o ritmo mais famoso do nordeste com baile que custa apenas R$ 8.
Duas vezes por mês, a quinta-feira ganha ritmo e local de encontro para quem gosta de forró, às 21h30 a escola de dança de salão Harmonia fica com as portas abertas até mais tarde, por apenas R$ 8, é só chegar e entrar. Sozinho ou acompanhado, nem precisa ser profissional para arrastar o pé pelo salão no bom e velho “dois-para-dois” ao som da sanfona.
O “Forró de Quinta” reúne de casais a grupos de amigos, tem até quem apareça sozinho e nesses casos, par é que não falta. A ideia é a integração entre os amantes do ritmo mais famoso do nordeste, onde não apenas os alunos da escola de dança possam praticar, mas qualquer pessoa interessada. Para entrar no baile, o único requisito é a vontade de dançar e se deixar levar pela música, e o clima é tão leve que não é difícil se enturmar.
A professora universitária aposentada Fátima Matos, de 61 anos, é casada, mas vai ao evento sem a companhia do marido que não gosta de dançar. Nem por isso, fica deslocada, já que para ela o grande atrativo são as pessoas, que acabaram virando uma grande família e com lugar para sempre receber mais um. Ela conta que sempre gostou de dançar, ela frequenta aulas há 5 anos e tira um tempo para os bailes de quinta-feira desde que o projeto começou há 2 anos. “Falta lugar para dançar forró na cidade, até os salões de baile mais antigos, são mais focados em ritmos como o vanerão e chamamé, falta variedade e para quem faz aula, não adianta não praticar. Tem que sair para dançar”, diz.
Destaque no meio do salão, o casal Graziela Preci, de 42 anos e Marcos Reis Ferreira, de 46 anos, estão juntos há 19 anos e levam para a pista de dança todo o companheirismo e confiança construída ao longo do relacionamento. Animados, seja dançando juntos ou cada um em um canto com um parceiro diferente, é até difícil encontrar os dois parados por tempo o suficiente para conversar.
Graziela diz que sempre gostou de dança, mas levou muito tempo, quase 10 anos para conseguir “arrastar” o marido para o salão. Marcos alega que era apenas falta de tempo, mas hoje os dois concordam que ele é o mais animado. “Quando você quebra uma barreira, você observa que você é capaz de aprender um passo e emendar com outro, que você consegue dançar uma música inteira, não só com a minha parceira, minha esposa, mas com outras dançarinas, aí você pega mais confiança. Você toma aquilo que no começo era uma barreira, como uma diversão, um passatempo e uma forma de fazer amizades novas. Hoje eu posso falar com toda a certeza que os melhores amigos que eu tenho estão aqui dentro”, explica Marcos.
Marcos conta que o forró de quinta é uma grande oportunidade para praticar, dançar com outros parceiros e aprender novos passos. “Hoje todas as turmas, ou a grande maioria das turmas que fazem forró se encontram aqui, também tem pessoas de outras escolas, pessoas que nem fazem aula e vem até aqui só para praticar, interagir com a gente. A cada semana, o número de pessoas aumenta, e quem vem sempre, dá para observar como o nível das pessoas melhora”, conta.
Ao contrário do que muita gente pensa, entre os dois não rola ciúmes, na pista de dança a única regra é se divertir e aprimorar os passos, “Quanto mais você troca de parceiro, mais você aprende. Porque, quando você fica muito tempo com a mesma pessoa, você já sabe tudo o que o outro vai fazer e não evolui. A troca de parceiro também é uma forma de sair da zona de conforto e aprender coisas novas”, explica Graziela.
Mais conhecido pelo salão como Ghys, o servidor público Ghysleydson Lima, de 29 anos, conta que a dinâmica das festas é bem intuitiva, “Quem vem de fora, começa a observar a nossa rotina mesmo quem vem acompanhado acaba se soltando e interagindo mais, dançando não só com o parceiro, mas com todo mundo que está no salão. Acho que o mais legal é possibilidade de trocar experiências e sair um pouco daquela rotina, do cansaço da semana, que não é só o cansaço físico, é também o mental e na dança você trabalha os dois”, revela. Para ele a dificuldade de quem está aprendendo está ligada com a insegurança, quando a pessoa tem muito medo de errar o passo acaba mais travada. Por isso, o segredo é não ligar muito, é normal se atrapalhar nos primeiros passos, mas a relação com o próprio corpo melhora aos poucos e o que era uma “paranoia”, vira pura diversão.
Essa semana, o “Forró de Quinta” vai ter edição especial com a participação do professor Wesley Andrade, que junto com a professora de dança Michele Lima, trouxe o “Roots” para Campo Grande, um estilo de forró que vai além do tradicional arrasta pé. As turmas do workshop que vai durar 3 dias já estão encerradas, mas no sábado (9), as portas do salão estarão abertas a partir das 21h30 para quem quiser participar do baile de encerramento, que vai ter até apresentação especial de Wesley e Michele, feita na base do improviso.
“O Roots é um estilo mais novo que o pé de serra tradicional, ele foi criado no Espírito Santo em Itaúna, uma cidade que pode ser considerada a Meca do forró. Como lá já havia o festival de forró, acabou se difundindo a medida que as pessoas iam conhecendo, elas acabaram gostando e se aprofundando na técnica. A principal diferença é que, no pé de serra, acabamos trabalhando mais movimentação de giro e braço, a dança acontece na parte superior do corpo. No Roots, acaba sendo movimentações mais de perna, mais de dançar junto, coladinho. Quando você começa a mesclar os dois estilos, você começa a trabalhar o corpo inteiro”, explica Wesley.
A Escola de dança de salão Harmonia fica na Rua Bahia, número 963, Jardim do Estados.