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Meio Ambiente

Água viaja 30 quilômetros e a 50 litros por segundo para “alimentar” cidade

Louvo portanto esta fonte de todos os seres e de todas as plantas. Vez que todos somos devedores destas águas. (Manoel de Barros)

Aline dos Santos | 22/03/2018 06:09
Provisão para o tempo de estiagem: reservatório do Guariroba  tem 4,8 bilhões de litros de água. (Foto: Marina Pacheco)
Provisão para o tempo de estiagem: reservatório do Guariroba tem 4,8 bilhões de litros de água. (Foto: Marina Pacheco)

Da zona rural até à área urbana de Campo Grande, a água do córrego Guariroba faz uma jornada de 30 quilômetros, viajando por adutora com quase um metro de diâmetro e ao ritmo de 50 litros por segundo. No centro urbano, o líquido “alimenta” 36% da população da Capital, que tem 874.210 habitantes.

O caminho das águas começa na área rural, no entorno da BR-262, saída para Três Lagoas. Da rodovia, é possível avistar a barragem. A água que desce em grande volume é o excedente do reservatório, que armazena 4,8 bilhões de litros. A reserva é para o tempo de estiagem, quando a chuva rareia, mas o lago prossegue abastecendo a Capital.

Gerente de operações da Águas Guariroba, o engenheiro ambiental José Vicente Marino conta que o córrego passou a ser utilizado no abastecimento em 1985. Nessa época, bastava funcionar cinco horas por dias. Agora, o sistema precisa operar de 18h a 20h diariamente. A água viaja até a cidade movida por energia elétrica.

No abastecimento de Campo Grande, 36% vem do Guariroba, 16% do córrego Lageado e o outros 50% de poços de captações subterrâneas, que busca o líquido nos aquíferos Guarani e Serra Geral. Para o futuro, outros dois mananciais podem ser explorados: Botas (saída para Cuiabá) e Ceroula (saída para Rochedo).

Contudo, segundo José Vicente, a expectativa é aumentar a eficiência, com redução de perdas, atualmente em 19%. Até chegar aos imóveis, a água passa por captação, diversas etapas de tratamento, reservatórios e rede de distribuição. “A Águas Guariroba garante a qualidade da água até o kit cavalete. É de responsabilidade do morador manter o reservatório [caixa de água] limpo e fechado”.

José Vicente conta que sistema de captação no Guariroba começou em 1985, funcionado cinco horas por dia. (Foto: Marina Pacheco)
José Vicente conta que sistema de captação no Guariroba começou em 1985, funcionado cinco horas por dia. (Foto: Marina Pacheco)

Água viva – A área envolvida na captação do Guariroba é de 36.200 hectares. Desse total, 75%, que corresponde a 27 mil hectares, estão inseridos no programa Manancial Vivo, criado em 2010. A medida foi para proteger o córrego, que apresentava redução da quantidade de água.

Desde então, um sistema de parceria - que envolve 54 produtores rurais, prefeitura de Campo Grande, Caixa Econômica, a organização WWF e a ANA (Agência Nacional de Águas) – foi montado para garantir vida longa ao Guariroba.

“O Manancial Vivo vai completar oito anos e foi criado em função da devastação que vinha ocorrendo. Ele consiste em fazer com que os proprietários das áreas promovam serviços que venham contribuir para melhoria da captação, tanto na qualidade quanto na quantidade de água”, afirma o titular da Semadur (Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Gestão Urbana), José Marcos da Fonseca.

Córrego corre pela zona rural de Campo Grande, onde programa Manancial Vivo paga produtores de água. (Foto: Marina Pacheco)
Córrego corre pela zona rural de Campo Grande, onde programa Manancial Vivo paga produtores de água. (Foto: Marina Pacheco)

No período de 2013 a 2017, o programa desembolsou R$ 1.316.989,82 por pagamento de serviços ambientais. Ou seja, os produtores rurais são elevados a produtores de água e recebem pelas melhorias e medidas que protejam o Guariroba. Do valor pago, a prefeitura entra com 10%, cuja fonte é o Fundo Municipal do Meio Ambiente.

Segundo o secretário, os serviços ambientais são para evitar que excesso de sedimentos cheguem ao córrego, numa medida contra o assoreamento, além de recomposição da vegetação nas áreas de preservação permanente e a conservação do solo através de pastagens mais adequadas.

“O programa deu tão certo que foi convidado para ser divulgado no Fórum Mundial da Água, em Brasília”, afirma Fonseca.

Água que alimenta – Tecnicamente, a água não fornece caloria, mas dela depende a sobrevivência humana. “Na verdade, quando pensamos em alimento pensamos também em energia, a água não nos fornece calorias. Mas sem ela, não conseguimos produzir energia adequadamente a partir dos alimentos”, explica a professora do curso de Nutrição da Uniderp, Faena Moura.

Placa explica o que pode e o que é proibido na APA (Área de Preservação Ambiental) do Guariroba.  (Foto: Marina Pacheco)
Placa explica o que pode e o que é proibido na APA (Área de Preservação Ambiental) do Guariroba. (Foto: Marina Pacheco)

No ciclo humano, a água, que é considerada um solvente universal, dilui inúmeras substâncias, como vitaminas e sais minerais. De acordo com a professora, o líquido ainda participa da regulação da temperatura corporal através do suor e das reações metabólicas, como a produção de energia e a respiração.

“O baixo consumo de água pode levar a desidratação e dependendo do grau, podemos ter prejuízos na concentração, dor de cabeça, boca seca, queda da imunidade, tonturas, desmaios, metabolismo lento, constipação, pele ressecada, acúmulo de toxinas no corpo e na urina, aumento da temperatura corporal e até choque térmico, o que pode levar ao coma e morte”, detalha Faena.

No vertedouro, excedente de água do reservatório retorna para traçado normal do córrego. (Foto: Marina Pacheco)
No vertedouro, excedente de água do reservatório retorna para traçado normal do córrego. (Foto: Marina Pacheco)
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