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Meio Ambiente

"Cidade das Araras", um novo título para a capital onde elas são figura fácil

Elverson Cardozo | 10/07/2012 16:39
Arara Canindé, espécie mais comum em Campo Grande. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Arara Canindé, espécie mais comum em Campo Grande. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Arara morta nas mãos de moradora do Itanhangá: tristeza. (Foto: Minamar Junior)
Arara morta nas mãos de moradora do Itanhangá: tristeza. (Foto: Minamar Junior)

Que campo-grandense nunca viu uma arara de perto, “gritando” por aí nos finais de tarde ou até mesmo no quintal de casa? Bem difícil encontrar por aqui quem nunca ouviu falar sobre a ave. Elas saíram do mato, escolheram a cidade e hoje estão por toda a parte.

Em Campo Grande, na década de 90, ganharam até monumento. Fica em um local privilegiado, no bairro Amambai, rota de muitos turistas que desembarcam no Aeroporto Internacional. É por ali que a Capital das araras começa a dar boas-vindas aos visitantes.

O local, cartão postal da cidade há mais de uma década, ainda atrai muita gente em busca de uma foto junto às três gigantes esculturas. Mas, vira e mexe, há quem consiga fazer um registro da ave verdadeira.

É que ali mesmo, como que atraídas pelas próprias "réplicas", elas costumam pousar em algumas árvores. E estão por toda a parte, do centro às áreas mais afastadas.

Edileide dos Santos, de 46 anos, é uma admiradora. Disse que conseguiu um emprego no bairro certo porque todos os dias têm a oportunidade de ver as aves passando perto da avenida Duque de Caxias.

“Acho lindo acordar de manhã com elas cantando”, disse a mulher, que trabalha como empregada doméstica há dois anos, em uma casa decorada com araras. “Às vezes passa quatro, cinco de uma vez”, contou.

A Praça das Araras, avalia a dona de casa, é um ponto importante para Campo Grande. “Eu nunca vi isso em outra cidade”, afirma.

Mas o privilégio não é só dos moradores do bairro Amambai. Próximo dali, na rua Brilhante, elas também costumam dar o ar da graça. No Parque das Nações Indígenas surgem, às vezes, em bando. A presença da ave em Campo Grande é tão comum que já causou até acidente.

Praça das Araras em Campo Grande. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Praça das Araras em Campo Grande. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Para o militar Wilson Nascimento, arara representa o Estado. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Para o militar Wilson Nascimento, arara representa o Estado. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Em março deste ano, o voo rasante de araras na avenida Gury Marques assustou um motorista, fez com que ele perdesse o controle do veículo e colidisse o carro contra duas guarirobas do canteiro central. Por sorte, sofreu ferimentos leves.

Dois meses depois, a revolta de uma mulher que viu uma arara canindé morrer no Parque Itanhangá Parque chamou a atenção, virou notícia e indignou muita gente. Entre os campo-grandense, a ave virou sinônimo de orgulho.

“Essa ararinha é nossa”, comenta a dona de casa Janete Sanches Paino, de 46 anos. A amiga, Nadija Vanesca, de 39 anos, mora em Brasília (DF), mas está visitando a cidade.

A Praça das Araras foi um dos primeiros locais que foi visitar ontem (9) à tarde. Em Brasília, que concentra os três poderes, "só tem ladrão", comenta a mulher, ao elogiar a beleza da Capital sul-mato-grossense e as araras, tão presentes no cotidiano da cidade.

O que diz a Biologia - Em Mato Grosso do Sul as espécies mais comuns são a arara azul grande, a vermelha e a Canindé, também conhecida como a “arara de barriga amarela”. Destas, apenas a azul está ameaçada de extinção desde 1987, apesar dos esforços para aumentar a população.

A arara vermelha e a canindé são comuns em Campo Grande. A estimativa é de existam ao menos 140 aves, das duas espécies, circulando pela cidade, segundo a bióloga Neiva Guedes, presidente do Instituto Arara Azul. O acompanhamento, explicou, é feito a partir do monitoramento dos animais, que leva em conta, principalmente, os ninhos encontrados.

Neiva, que também é professora do curso de pós-graduação do meio ambiente e desenvolvimento regional da Anhanguera-Uniderp -, explica que as aves, nativas da região, se estabeleceram na Capital em 2001. Ela diz desconhecer outra capital com tantas araras. Embora o número de 140 possa parecer pequeno, ela esclarece, que como são aves barulhentasm, parece que existem em maior número.

“Aqui elas encontraram comida, estão se reproduzindo e se estabeleceram na cidade”, disse, acrescentando que um dos motivos para a escolha da “casa” foi o fato de Campo Grande ter resquícios de árvores do cerrado, como o jatobá, palmeira e bocaiúva, de onde elas costumam retirar os frutos.

No perímetro urbano, entre as regiões mais frequentadas pelas araras destacam-se os bairros Vilas Boas, Jardim Mansur, Rita Vieira, Giocondo Orsi, Cidade Jardim e Parque dos Poderes.

Segundo a bióloga, só no ano passado o instituto monitorou 17 ninhos. A estimativa é de que 20 filhotes voaram. Os dados deste ano ainda não foram apresentados. O monitoramento deve começar ainda este mês.

As araras não são aves solitárias. (Foto: João Garrigó/Arquivo)
As araras não são aves solitárias. (Foto: João Garrigó/Arquivo)

Do que elas gostam– As araras não são aves solitárias. Costumam dormir em bando, às vezes em pares, famílias ou grupos. Gostam de ficar penduradas em galhos, como folhas de palmeiras e, segundo a bióloga, acordam cedo, antes mesmo do sol clarear.

O tempo de reprodução das aves, segundo a bióloga, demora cerca de 26 dias. O filhote fica no ninho menos de 3 meses, uma média de 85 dias. “A população tem aumentado bastante”, completou a bióloga.

O Instituto Arara Azul estima que em Campo Grande exista mais de 100 araras Canindé e cerca de 40 araras vermelhas.

Morador de Amambai, o militar Wilson Nascimento, de 41 anos, acredita que a ave representa o Estado e monumentos como o do bairro Amambai é um incentivo a preservar a espécie, ameaçada de extinção. “Sensibiliza a gente”, disse.

Há pouco mais de um ano, Maria Antônia, de 9 anos, era moradora de Natal (RN). Quando chegou à Campo Grande se encantou com a ave “que nunca tinha visto de perto”. “Lá é muito difícil você ver um animal solto como você vê aqui”, disse.

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