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Meio Ambiente

Desmatamento às margens de córrego surpreende usuários da Praça do Preto Velho

Semadur afirma que as espécies que foram retiradas são invasoras e não pertencem à mata ciliar

Geniffer Valeriano | 26/07/2023 16:04
Árvores retiradas são da espécie leucena e não pertencem ao nosso bioma (Foto: Juliano Almeida)
Árvores retiradas são da espécie leucena e não pertencem ao nosso bioma (Foto: Juliano Almeida)

Frequentadores da Praça do Preto Velho foram pegos de surpresa na última semana ao verem árvores que ficavam às margens do Córrego Cabaça completamente cortadas. “Cadê o meio ambiente?” e “Cortou tudo ali, por quê?” foram os questionamentos mais escutados quando o Campo Grande News esteve no local nesta terça-feira (25).

As reclamações circularam por toda a região, de boca em boca a informação repassada era de que uma equipe da prefeitura teria realizado uma limpeza na margem do córrego. A indignação expressada pela população é acompanhada da preocupação de acontecer um assoreamento no local.

“Achei muito estranho, pra mim acabou a praça, né? Agora o porquê que desmataram eu não sei. Eu cheguei aqui na segunda-feira e falei: ‘gente do céu. O que é isso? O que aconteceu?’. Daí o meu marido falou que acha que é porque aquela árvore está empesteando”, contou Soraya Vilalva Gutierrez, de 62 anos.

Copa de uma leucena florida e com sementes (Foto: Juliano Almeida)
Copa de uma leucena florida e com sementes (Foto: Juliano Almeida)

O palpite do esposo da idosa se aproximou muito do real motivo da drástica limpeza. Quando procurada pela a reportagem, a Semadur (Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Gestão Urbana) explicou que nesta área existe um Prada (Projeto de Recuperação de Área Degradada e/ou Alterada). A vegetação retirada está dentro do projeto e seriam leucenas, uma espécie considerada invasora.

Ainda foi dito que depois que as remoções forem concluídas, novas árvores serão plantadas no local. Porém, desta vez, serão utilizadas espécies recomendadas pela Prada e com a licença devida.

Morando no Bairro Jardim Paulista há mais de 25 anos, Vilma Malavazi, de 51 anos, ficou surpresa quando a reportagem disse a ela que as árvores retiradas não fazem parte da vegetação do nosso bioma. “Tem em toda a extensão até a Spipe Calarge, mas desde quando elas são invasoras? Árvore é árvore, né?”, questionou.

Em outra parte do córrego, árvores ainda não foram retiradas (Foto: Juliano Almeida)
Em outra parte do córrego, árvores ainda não foram retiradas (Foto: Juliano Almeida)

Relatando sentir tristeza ao ver como ficou a região depois do “desmatamento”, a aposentada lembra que, quando chegou na região, a vegetação retirada já estava às margens do córrego. Para ilustrar como era, a aposentada aponta para o outro lado do córrego que ainda não teve as leucenas cortadas.

“Limpeza que eu saiba é só do mato, mas eles arrancaram as árvores e se não fizerem logo o replante, vai assorear. Antes, era tudo com água aqui, tudo. Agora, olha só, está só um reguinho. Antes, dava para escutar o barulho de água descendo lá de cima e agora você não ouve mais. Antes, ali de cima, jorrava uma cachoeira, agora, é só um reguinho de água. Você via que era água corrente, mas agora você vê que está parada, não está correndo como antes. É triste de ver, porque aqui pra gente é o único espaço que temos para vir e se acabar aqui, o que nós vamos ter?”, lamentou a situação.

Pouco conhecida por ser uma invasora e presente em grande parte da Capital, a leucena, por parte da população, é vista como uma planta nativa do nosso Estado. Quando questionado sobre a invasão da espécie, Reginaldo Teodoro, de 47 anos, afirmou com convicção: “Acho que umas podem ser sim [invasoras], mas outras não. Eram árvores de beira de rio mesmo. Era bem cheio, tinha sombra e era gostoso ficar ali. O riachinho está aumentando a erosão, corre o risco, né? Imagina tirar toda a vegetação, o rio vai acabar, né?”.

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Gestão Urbana também explicou que essa espécie de árvore foi trazida para o Brasil como uma alternativa barata e eficiente para a alimentação de gado. Porém, a planta desequilibra o ecossistema em relação à saúde do solo, absorvendo todos os nutrientes. Ainda, foi dito que a espécie cria prejuízos à biodiversidade e não traz benefícios. A leucena também impede o crescimento da flora local, assim, limitando a diversidade da flora e fauna.

Parte da contenção e árvores caíram dentro do córrego (Foto: Juliano Almeida)
Parte da contenção e árvores caíram dentro do córrego (Foto: Juliano Almeida)

Outros problemas - A Praça do Preto Velho ainda tem sofrido com outros problemas, como o desbarrancamento das margens do córrego. Mesmo no local havendo uma estrutura de contenção, feita de pedras seguradas por telas de arame, nem as áreas onde há calçamento escapam da erosão.

Quem segue pela trilha que há no local, indo em sentido à base da GCM (Guarda Civil Metropolitana), encontrará desde carcaça de televisão de tubo a restos de armário. Outros lixos, como embalagens de marmitas, sacolas e bexigas, também podem facilmente ser avistados.

“Aqui, era tudo fechado, mas daí foram derrubando. A prefeitura que retirou os alambrados, mas as pessoas que derrubaram, depois um caminhão bateu e terminou de arrancar. Antes, era arrumado aqui, são recentes esses lixos, a turma daí vai jogando”, contou aposentado, de 70 anos, que pediu para não ser identificado.

Carcaça de televisão deixada às margens do córrego (Foto: Juliano Almeida)
Carcaça de televisão deixada às margens do córrego (Foto: Juliano Almeida)

Em frente à praça também há uma carroceria de caminhão-cegonha abandonado há muito tempo. Sem saber quando ou por que a estrutura foi deixada ali, murmurinhos de moradores é de que ele sempre esteve estacionado no mesmo lugar.

Também há quem diga que um caminhão pegou fogo na região dois ou três anos atrás e essa carroceria permaneceu no local desde então. Nela, tem muito lixo acumulado, desde restos de materiais para construção a embalagens de marmitas. Os pneus permanecem cheios e sem nenhum dano, mas pela areia acumulada entre as rodas, é possível ver que a estrutura não é movida a muito tempo.

“Antes de mudar, eu vinha para esses lados e já tinha ele aí, não lembro da carreta estar aí também, o que lembro é que sempre foi só isso aí. Inclusive, isso daí sempre foi bem sujo, mas nunca vi colchão ou pessoas dormindo ali”, disse Samuel Caetano, de 27 anos.

O Campo Grande News entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande para falar esses outros problemas apresentados e foi enformado que a Sisep (Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos) está executando a recuperação da área.

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